O País – A verdade como notícia

“Jornalista cultural deve estudar mais”, Paulina Chiziane

Aplausos e mais aplausos. Talvez a melhor forma para caracterizar a aula de sapiência dada por Paulina Chiziane, no seminário sobre jornalismo cultural no Camões – Centro Cultural Português, em Maputo, esta terça-feira.

Paulina Chiziane e a jornalista cultural portuguesa Teresa Nicolau foram as escolhidas para debruçar sobre o tema “Cultura além da arte”. Chiziane, autora de várias obras de sucesso, aproveitou o espaço para dar a conhecer um pouco sobre a sua experiência de 35 anos, contribuindo para a cultura moçambicana e, consequentemente, para o jornalismo cultural. Paulina diz que para que um jornalista cultural a entreviste é necessário que prove que merece.

“A pessoa para conseguir uma entrevista comigo tem que me provar que realmente é jornalista e que quer realmente trabalhar comigo. O jornalista cultural tem que estudar e, se me quiser entrevistar, tem que saber quem eu sou”, disse Chiziane.

Naquela espaçosa sala, Ngoma Yethu: O curandeiro e o novo testamento, foi a obra escolhida por Chiziane, a fim de explicar o seu contributo para o próprio jornalismo cultural, numa fase em que a escritora acabou por fazer um trabalho antropólogo e sociólogo. A escritora explicou ter tido acesso às fontes e até a fotografias que sequer os reais jornalistas têm, e manifestou alguma indignação ao aperceber-se que suas obras, que retratam maioritariamente a cultura africana, em particular de Moçambique, são mais valorizadas no estrangeiro. Paulina Chiziane explicou ainda que o facto de ter escrito a obra que tinha como principal objectivo trazer a visão de um curandeiro sobre o cristianismo trouxe várias críticas internas, em que jornalistas, e não só, afirmaram que estava a escrever sobre o curandeirismo e que curandeiro é coisa do diabo. “Um dia eu fui escrever uma coisa de nome Ngoma Yethu: O curandeiro e o novo testamento. O que eu fiz naquele livro, boa gente, é aquilo que os antropólogos e sociólogos fazem de maneira fina, mas eu fiz de maneira grosseira, mas fiz! Eu fui interpretar o novo testamento de acordo com a cultura bantu, portanto não é um livro sobre curandeirismo, é um livro sobre o cristianismo”.

Já a jornalista cultural da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), Teresa Nicolau, diz que as pessoas olham para o jornalismo cultural como sendo o mais fácil. “As pessoas acham que é fácil fazer jornalismo cultural. Mas é difícil ser jornalista cultural, porque o jornalista cultural tem de ler, tem de ouvir música, tem de ir ao teatro, tem de saber quem é que são os actores culturais do seu país e, às vezes, de todos os países à nossa volta. Portanto é um universo imenso explorando aquilo que é a arte sob o ponto de vista jornalístico, obviamente que outros géneros também são importantes”, disse a jornalista, acrescentando que o jornalismo cultural não deve se prender à agenda e que para ser jornalista cultural é necessário que se estude.

“A essência do jornalismo, seja ela qual for, é contar histórias, se o jornalista de cultura fica só na agenda é óbvio que se perde esta dinâmica das histórias. Ser jornalista cultural é das coisas mais difíceis, é preciso que se estude permanentemente”, disse Teresa.

Circle Langa, envolvido na organização do evento, diz que o evento irá estender-se a outras províncias e adianta que alguns jornalistas poderão beneficiar-se de formações na europa. “A extensão que se vai fazer às províncias consiste, fundamentalmente, em fazer oficinas, onde alguns jornalistas poderão ampliar o seu capital de conhecimento”, disse Langa.

O segundo Seminário de Jornalismo Cultural, que começou segunda-feira, termina esta quarta-feira.

 

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos