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Jogos Escolares: o bom e o mau!

Xi-CAU CAU
O BOM – Tudo foi criado e idealizado na governação do saudoso Presidente Samora Machel e os primeiros jogos tiveram um lançamento no Estádio da Machava, em cerimónia irrepetível. Agora estamos nos 13º Jogos Escolares, mantendo-se a tradição de reunir a pequenada, os técnicos, dirigentes e toda uma sociedade, por vezes “extasiada” com algo subestimado mas de capital importância nas nossas vidas: o desporto, sobretudo o infanto-juvenil.

Vivem-se, sem sombra de dúvidas, momentos ímpares de confraternização, ocasião para os meninos e meninas conhecerem um pouco mais do seu país, orgulharem-se das suas zonas de nascimento através de uma competição sã e, nalguns casos até usufruírem, mesmo que por poucos dias, de uma dieta alimentar mais rica e que afinal deveria ser a quotidiana.

Enriquecem-se os conhecimentos, vivem-se dias maravilhosos e sem as quotidianas obrigações dos muitos deveres e poucos direitos, fazendo aquilo que toda a criançada gosta: correr atrás de uma bola, brincar, conhecer gente nova, alargando horizontes.

A presença do Chefe de Estado na cerimónia de abertura, os Ministros e outros “titios” que eles só vêem pela televisão, estão ali, à frente dos seus olhos. Alegria, cor, festa… como anima!

O MAU – Um festival nacional com “pompa e circunstância” deveria ser do culminar de qualquer grande coisa. Não é o caso. Senão, vejamos: os Jogos Escolares, nesta altura, resumem-se às finais, que acontecem de dois em dois anos. No restante período… Andam os meninos e as meninas o ano inteiro, sem que a disciplina de Educação Física e Desportos faça parte do seu currículo real, funcionando como “uma borla” ou tempo para recuperação de outras disciplinas “mais importantes”. Não há memória de um aluno ter reprovado por não ter tido boa nota em EFD. Muito pouco se faz no intervalo dos festivais, tanto no tocante aos movimentos para conferir saúde aos estudantes, como no que à competição diz respeito.

Assim, sendo… É mau, muito mau mesmo, este adormecimento do desporto escolar ao longo do ano, despertando, cheio de frenesim só “para obter medalhas” na grande final. E o que vai acontecer à maioria destes meninos e meninas quando os JE findam? Uma pequena franja – os ditos talentos – vai ser enquadrada para representar clubes ou selecções, mas a maioria só voltará a ouvir falar de desporto daqui a dois anos.

Os especialistas poderão fundamentar o quão pernicioso é para a saúde, “puxar ao máximo pelo físico” durante dois meses, para depois deixá-lo adormecido o resto do ano. Convive-se com a exigência da competição e superação cerca de um mês e depois regressa-se, por falta de alternativas, muitas vezes a actividades perniciosas ao corpo e ao espírito. E quanto à busca de talentos, vem a pergunta: “um campeão nasce, ou faz-se”? A resposta é que, cada vez mais… faz-se! O  que é nato representa um percentual cada vez menor no surgimento dos grandes campeões. Por isso, o trabalho continuado, desde tenra idade, é decisivo.

Tivemos Mutola e queremos enquadrá-la na lógica do talento nacional, sonhando com outras estrelas da mesma grandeza. Foi um milagre e os milagres não surgem todos os dias, anos ou mesmo décadas. Dizia um dia a nossa Menina de Ouro: “quando tu ganhas algo cá dentro, não significa nada lá fora”.

Portanto, uma final pomposa, mas que não resulta de toda uma movimentação regular, tem apenas o condão de nos transmitir ilusões. Estamos, isso sim, em presença de uma pirâmide invertida, ou talvez mesmo de gigante de pés de barro.

 

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