O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, diz que as eleições legislativas de 4 de Junho na Guiné-Bissau foram ordeiras, pacíficas e as mais lindas que já viu. Chissano fez esta descrição após a sua chegada ao país, na manhã de sábado.
Chissano esteve na Guiné-Bissau como chefe da Missão de Observação da União Africana. Conforme disse, durante o seu percurso, já foi observador de vários processos eleitorais, mas este foi diferente.
Os agentes eleitorais e os fiscais de lista trabalharam muito bem e eram profissionais, mas não foi apenas isso que chamou a sua atenção; a paz e a harmonia entre os representantes dos partidos políticos que trabalhavam nas mesmas mesas de voto foram outro elemento positivo.
Joaquim Chissano referiu que, quando a Missão de Observação da União Africana chegou àquele país ficou preocupada com a posição que o Presidente Omaro Sissoko Embaló tinha tomado – a de não aceitar a vitória caso o PAIGC e o partido de coligação ganhassem e, assim, não empossaria Domingos Simão Pereira como Primeiro-Ministro, uma vez que estes já tinham passado por disputas no passado e há muito que não trabalhavam juntos.
“Coisa brilhante é que o Presidente da República e o partido que o apoia no Governo aceitaram o resultado das eleições e o Presidente veio declarar que iria aceitar o resultado caso a coligação apresentasse Simões Pereira como Primeiro-Ministro, isso é uma indicação de reconciliação que começa e que esperamos que continue para sempre”, saudou Chissano.
O antigo Presidente de Moçambique disse que, mesmo após a divulgação dos resultados, não houve violência. Os apoiantes do partido vencedor saíram à rua para celebrar e isso foi feito em ambiente de paz e calmaria.
Para o chefe da Missão de Observação da União Africana, a população mostrou-se madura em questões de democracia e isso coloca a Guiné-Bissau como um dos países exemplares em matéria eleitoral, e Moçambique deve seguir o exemplo.
“Moçambique pode aprender e seguir este caminho, estando disposto a promover eleições pacíficas. A ordem é que não seja apenas as FDS a garantirem a lei e ordem, mas todo o povo a fazê-lo”, disse para depois sublinhar que “Eles votaram com liberdade e, por isso, os resultados foram aceites por todos. É a primeira vez eu assisti a eleições que não resultaram em violência ou morte de alguém e classifico como um bom começo de reconciliação”.
CHISSANO ESPERANÇOSO NO ALÍVIO DAS SANÇÕES CONTRA ZIMBABWE
O antigo Presidente da República acredita no levantamento das sanções impostas ao Zimbabwe pelo Ocidente há mais de 20 anos. Joaquim Chissano disse que o diálogo sobre a dívida pública deste país vizinho, que ascende aos 17 biliões de dólares, está a correr bem.
O antigo Estadista moçambicano foi escolhido pelo Zimbabwe como mediador-chefe das negociações, visando a resolução da alta dívida pública do país e conseguir o alívio ou levantamento das sanções impostas pelo Ocidente após a expropriação de terras dos agricultores brancos naquele no ano 2000.
Chissano diz que o continente enfrenta muitos problemas e que é preciso resolvê-los e os do Zimbabwe, por exemplo, já estão bem encaminhados.
“Temos a questão do Zimbabwe que está a tentar reintegrar-se na comunidade internacional e existem negociações entre os parceiros de cooperação e o Governo. Estamos a facilitar o diálogo e até aqui tem corrido bem; há um reengajamento que começou e isso nos dá a esperança de que o Zimbabwe poderá recuperar o seu bom relacionamento, o que pode culminar com o alívio ou levantamento das sanções”, referiu.
A fonte entende que o alívio das sanções ao Zimbabwe vai ajudar o país a desenvolver-se, como também terá impactos positivos para o desenvolvimento dos países África Austral, incluindo Moçambique.
“Temos estado a facilitar o diálogo entre os parceiros e o Governo zimbabwiano. Os zimbabweanos criaram a plataforma de diálogo e propuseram em conjunto com os parceiros a criação de grupos de trabalho e há periodicamente reuniões de alto nível que incluem o Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, como o campeão da causa”, explicou o facilitador.
Chissano recordou, na ocasião, que passa um ano após a eleição de Moçambique como membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU e que o feito mostra que a diplomacia moçambicana cresceu e que Moçambique já está na altura de outros países, ao ponto de tratar questões complexas, como o caso da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.