O País – A verdade como notícia

banner_02

João Ayres em exposição nas galerias de Maputo

A Associação Kulungwana (Moçambique) e a Associação Zé dos Bois (Portugal) apresentam, em parceria com o Museu Nacional de Arte, o Camões – Centro Cultural Português e o Instituto Guimarães Rosa, em Maputo, Nanquim Preto sobre fundo branco, uma exposição individual do artista João Ayres (1921-2001).

O comunicado de imprensa sobre a exposição avança que a inauguração terá lugar próxima quarta-feira, às 17h30, com início na Galeria Kulungwana, e continuidade nos outros espaços culturais envolvidos, nomeadamente no MUSART, no Instituto Guimarães Rosa e no Camões, onde encerra às 20h30, disponibilizando ao público, na mesma noite, uma visita geral a esta mostra inédita conjunta.

Nanquim preto sobre fundo branco conta com a curadoria de Natxo Checa (Portugal) e Alda Costa (Moçambique), ocupa os quatro espaços parceiros em simultâneo e é composta por um conjunto alargado de pinturas e desenhos, produzidos por João Ayres, entre 1947 e 1970, em Maputo.

A exposição apresenta e propõe olhar para as três primeiras décadas de produção artística de João Ayres, repondo a sua importância histórica e artística como precursor do Modernismo em Moçambique. É um regresso à casa mãe, ao território de produção de obras, cujo carácter apresenta pontos de convergência com as correntes intercontinentais vigentes na época (África do Sul, Brasil, Portugal, Moçambique).

Depois de décadas esquecido, tanto em Moçambique como em Portugal, e após uma primeira bem sucedida mostra em Lisboa (2022/2023), na Galeria Zé dos Bois, onde se expôs pintura e desenho que recolhia a primeira década de produção moçambicana do artista (1946-1957), é chegado o momento de uma apresentação mais alargada da obra de João Ayres, que devolve ao público de Maputo, após mais de 50 anos, a oportunidade de tomar contacto, de fruir e de valorizar o trabalho extraordinário de raiz africana que passa pelo neorrealismo, o concretismo e o expressionismo, ora figurativo ora abstracto.

Ao longo dos quatro momentos/espaços da exposição, pode-se constatar, entre outros: – corpos em esforço e lamento nas contrariedades da condição humana – com destaque para as pinturas do Cais Gorjão nos anos 40; uma série de pinturas e desenhos neoexpressionistas, do início dos anos 50, concebidos para serem mostrados no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a convite do mecenas das artes Ciccillo Matarazzo, e na galeria do Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro, a convite de personalidades das artes; uma série de desenhos a tinta-da-china da corrente concretista, em que o artista deixa de representar uma condição que lhe é alheia e passa à abstração pura; uma série de trabalhos produzidos após o regresso de João Ayres do Brasil, em meados da década de 50, até aos anos 70, parte deles da colecção do Museu Nacional de Arte, que variam entre pintura sobre cartão e tinta-da-china sobre papel, onde reconhecemos figuras, corpos, caras, máscaras, cores e formas, que nos remetem indubitavelmente à sua vivência local moçambicana.

A programação complementar a esta exposição é composta por uma sessão de exibição do filme João Ayres, Pintor Independente (2022), de Diogo Varela Silva, por visitas guiadas, entre outras actividades.

A exposição Nanquim preto sobre fundo branco é uma mostra produzida pela Associação Zé dos Bois e a Associação Kulungwana, em parceria com o Museu Nacional de Arte, o Camões – Centro Cultural Português e o Instituto Guimarães Rosa, e conta com o apoio da Direcção-Geral das Artes de Portugal (DGArtes), Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC) e da Embaixada da Noruega em Maputo. Tem entrada livre (à excepção do Museu Nacional de Arte, onde se aplicam as condições de acesso em vigor) e fica patente até dia 27 de Setembro de 2024.

Sobre João Ayres (1921-2001)

Nasceu em Lisboa, em 1921. Estudou arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa e Porto.

Em 1944 integra o II salão “Independentes” (exposição colectiva onde, entre outros, participam Fernando Lanhas, Nadir Afonso e Júlio Resende) no Coliseu do Porto, e a exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.

Em 1946, João Ayres muda-se para Moçambique, onde se encontrava o pai, o pintor naturalista Frederico Ayres, como professor na Escola Técnica da ex-Lourenço Marques. Em Moçambique exerceu, para além da actividade de pintor, com exposições na África do Sul e Brasil, outras actividades, nos Serviços de Obras Públicas, nos Serviços de Instrução Pública/Ensino Técnico, onde foi professor e, paralelamente, orientou cursos de pintura e desenho no Núcleo de Arte em diferentes períodos, tendo influenciado e contribuído para a formação de artistas como António Bronze, José Júlio, Malangatana, entre outros.

Expõe, pela primeira vez, com o pai, o pintor Frederico Ayres, em 1947. Realiza a sua primeira exposição individual em 1949, promovida pelo Núcleo de Arte, onde expõe as primeiras telas neorrealistas. Continua a expor colectiva e individualmente nos anos que se seguem, destacando-se as exposições individuais no Museu de Arte Moderna de São Paulo (1955); na Voster’s Gallery, em Pretória (1961); no Left Bank Galleries, em Joanesburgo (1965); na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa (1981).

A obra de João Ayres está representada em diversas colecções privadas e públicas, destacando-se a Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Grão Vasco (Viseu), o Museu Nacional de Arte (Maputo), e o Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos