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Investidos USD 4,5 mil milhões e criados 4 mil empregos no Corredor Logístico de Nacala

A infra-estrutura com capacidade anual para transportar 18 milhões de toneladas de carvão mineral será inaugurada no próximo dia 12 de Maio. Possui 912 quilómetros de linha férrea que liga Tete a Nacala e um terminal portuário. O Presidente do Conselho de Administração do Corredor Logístico de Nacala, Renato Torres, fala do projecto

O Corredor Logístico de Nacala será inaugurado em breve. Como é que esta infra-estrutura deverá contribuir para o escoamento de mercadorias nas zonas centro e norte do país?

O Corredor Nacala foi concebido para ser de alta eficiência e de altos volumes. Por consequência, teremos um corredor com custos muito mais competitivos e que tem capacidade para carregar navios muito maiores. Com isso, o frete de carvão que se exporta pelo Corredor Nacala chega ao cliente final a um custo muito mais baixo. Então, isso gera competitividade tanto para as empresas como para o próprio país, que tem capacidade de exportar o carvão a custos muito mais competitivos no mercado internacional.

Em que consiste o Corredor Nacala, quais são as infra-estruturas de apoio que tem e qual é a zona geográfica abrangida?

O Corredor Nacala conecta a mina de carvão de Moatize até ao terminal portuário de carvão de Nacala-a-Velha. Para isso, temos parte da linha-férrea construída em Moçambique, temos aproximadamente 200 quilómetros dentro do território malawiano, voltamos a Moçambique através de Entre-Lagos, passando pelo distrito de Cuamba e cidade de Nampula até Nacala-a-Velha. Esse é o troço do chamado Corredor Logístico de Nacala. Em Nacala-a-Velha, temos um terminal portuário recém-construído, onde inclusive vai acontecer a inauguração do Corredor, no próximo dia 12. Há um terminal portuário de classe mundial, com capacidade para carregar navios de até 180 mil toneladas em tempo recorde, onde conseguimos até ser competitivos com qualquer país a nível mundial que exporta minerais como carvão.

Qual é a capacidade desta linha ferroviária em termos de toneladas de mercadoria durante o ano?

A capacidade que se espera atingir no próximo ano deve ser de 18 milhões de toneladas de carvão. Somado a isso, temos o transporte de carga geral, que inclui combustível e outras cargas, além do próprio transporte de passageiros, que hoje é feito entre Nacala, Entre-Lagos, conecta o Malawi, e também no troço Cuamba-Lichinga, onde já temos comboio de passageiros regular.

Há previsão de aumento desta capacidade ao longo dos anos ou trata-se de capacidade definitiva?

O projecto inicial foi concebido para atingir 18 milhões de toneladas, mas, a partir daí, deverão ser feitos novos investimentos, tanto na própria linha-férrea, nos vagões e locomotivas, como na própria infra-estrutura da mina, para poder produzir carvão suficiente para ser transportado acima dessa capacidade inicial.

Essa capacidade de 18 milhões de toneladas responde a expectativas dos vários operadores, especialmente os da área de carvão em Tete?

   
Com certeza, porque também existe a infra-estrutura do porto da Beira, que se soma a essa capacidade adicional de transporte do carvão. Os CFM também investiram, nos últimos anos, na capacidade da linha, então, hoje já se tem uma capacidade adicional ao Corredor de Nacala no porto da Beira que serve os operadores de carvão.

Qual foi o investimento feito para a implantação deste corredor, que teve a duração de quatro anos?

Totalizando toda a linha-férrea e o porto, foi na casa de 4,5 mil milhões de dólares. É um investimento muito grande e, hoje, essa linha-férrea e o terminal portuário estão totalmente reabilitados e em condições de operar numa capacidade de classe mundial. O investimento foi feito pela Vale e Portos e Caminhos-de-ferro de Moçambique (CFM). A Mitsui entrou recentemente, em Março deste ano, depois do investimento estar concluído. Então, o investimento que iniciou em 2012 foi uma parceria entre a Vale e os CFM.

Que impacto directo terá este terminal para a zona norte do país, mais concretamente na região de Nacala-a-Velha?

O imediato é a criação de emprego. Somando na linha-férrea e porto, trabalhadores próprios e de empresas contratadas, temos em torno de quatro mil empregos. Além do próprio emprego, gera vários serviços adicionais, como hotéis, restaurantes e transportes, que são empregos indirectos que acabam sendo atraídos por essa concentração de renda na região que não existia há quatro anos. Cerca de 95% dos empregados são moçambicanos. Por exemplo, de todos os trabalhadores das operações, tanto do porto como da linha-férrea, que são operadores directos e empregados do Corredor Logístico de Nacala, cerca de 99% são moçambicanos. Temos alguns estrangeiros com mais experiência, até para fazer os treinamentos e capacitação dessa mão-de-obra.

Qual é o traçado da linha-férrea em Moçambique?  

Em Moçambique, temos 700 quilómetros e, em Malawi, 200. Se não passasse por Malawi, a linha-férrea seria muito mais longa, daria uma volta grande e iria encarecer o projecto, aumentaria o custo de transporte e o que nós buscamos é ter uma linha-férrea o mais eficiente possível, para conseguir ter essa competitividade que buscamos.

Até que ponto este projecto vem responder ao desafio de competitividade e torna as matérias-primas moçambicanas competitivas no mercado internacional, em particular o carvão?

Com o Corredor Norte, projecto Nacala, passamos a ser competitivos com qualquer empresa a nível mundial. Se olharmos para os grandes exportadores de minérios do mundo, basicamente Brasil e Austrália, veremos que a linha-férrea e o porto do projecto Nacala foram feitos com a melhor tecnologia possível, para conseguir estabelecer um corredor logístico muito eficiente aqui em Moçambique. Com relação a isso, posso assegurar que hoje Moçambique está entre os exportadores de minérios mais competitivos do mundo.

Tem uma ideia do peso percentual de mercadoria que vai passar pelo Corredor, além de carvão?

Todas essas infra-estruturas ferroviárias e portuárias que requerem um investimento muito alto, precisam de uma carga que nós chamamos de carga âncora, que vai pagar o custo de operação do dia-a-dia, vai pagar a manutenção da infra-estrutura, então, o carvão é importante nesse sentido. Tendo garantia que esses 18 milhões de toneladas estão circulando pela linha-férrea, garante-se que a linha-férrea está aberta e competitiva e está operando na sua máxima capacidade. Com isso, abrimos espaço para todas essas mercadorias. Por exemplo, no Corredor de Desenvolvimento do Norte, que é a empresa que tem a concessão do terminal de Nacala-porto, opera-se diversas cargas, contentores, combustíveis, algodão. Hoje, você tem um comboio com 40 vagões saindo de Nacala-porto e chega ao Malawi em menos de 48 horas. Então, isso abre uma capacidade de logística para que qualquer investidor que queira entrar em Moçambique, ou no Malawi e Zâmbia, que também estão conectados a essa linha-férrea, transporte a sua mercadoria a um custo baixo, com segurança, competitividade e apetência de atender os clientes destas empresas. Todo o combustível que vai para Malawi, óleo, diesel e gasolina, é importado através de diversos portos, inclusive o da Beira.

Neste momento, o principal porto para escoar mercadorias para Malawi e Zâmbia é o da Beira. Será que esta nova infra-estrutura será o novo caminho a ser usado por esses países?

Acredito que, com o desenvolvimento, vamos ter um aumento da procura e do consumo. Então, o Corredor de Nacala é uma opção, principalmente pela questão ferroviária. Vamos transportar essa mercadoria a custos muito mais baixos para esses países e isso vai ter um impacto directo para a economia desses países. Basicamente, o combustível comanda os preços de tudo o que é comercializado no país. Penso que essa é a grande vantagem que esses países vão ter com a operacionalização desses projectos, além de Moçambique.

Vocês já têm uma ideia do que o Corredor Logístico de Nacala vai render de receitas ao Estado?

Vamos pegar num número. Só o Corredor Logístico de Nacala, que é a operadora de carvão, paga em torno de 650 milhões de meticais de impostos e tarifas. As contribuições indirectas de outras empresas que prestam serviços têm números que não podemos estimar.

Com a entrada da Mitsui, como é que ficou a estrutura accionista e o funcionamento do Corredor Logístico de Nacala?

A estrutura accionista não altera muito, porque a Mitsui entrou como sócia da Vale. Então, onde entrou a Vale, agora é Vale e Mitsui, sendo que os outros accionistas continuam inalterados. Temos os CFM, que operam a carga geral em Moçambique; temos os accionistas nacionais, que também são nossos parceiros nesse empreendimento. O que vai acontecer é que, daqui para frente, a própria Mitsui terá seus projectos de investimento. Eles têm uma visão de investimento de longo prazo e o Governo do Japão tem uma parceria muito grande com o Governo de Moçambique, então, penso que isso vai atrair novos investidores. Existe um projecto da JICA lá no porto de carga geral de Nacala-porto, que é uma parceria que já existia entre o governo moçambicano e o governo japonês, então, eu penso que isso tudo vai alavancar o investimento no Corredor e vai atrair novos investidores.

O Corredor será inaugurado dentro de dias.

Na próxima sexta-feira, dia 12 de Maio, teremos um evento com a presença do Presidente da República, ministros, quadros dos governos moçambicano, japonês e brasileiro e de todas as empresas, o presidente da Vale estará presente. Penso que vai ser um evento muito importante, além de tudo, para a divulgação dessa infra-estrutura.

O Corredor já está a funcionar em fase experimental.
Iniciou em meados de 2015 e, a partir de Janeiro de 2016, iniciou a evolução da operação, sendo que, a partir de agora, já estamos em fase normal de operação, onde faltam pequenos ajustes para atingir a capacidade máxima. Podemos dizer que, a partir do início deste ano, já estamos a operar em capacidade máxima.

Um factor essencial neste negócio de carvão é a oscilação do preço. Até que ponto isso pode afectar o desempenho do Corredor Logístico de Nacala? Será este um factor que vocês têm em conta?
Claro. A nossa missão é ser competitivos em qualquer cenário de preços. Procuramos sempre estar entre os produtores de custos mais baixos. Tanto na produção, na mina, quanto na logística, procuramos sempre ter custos baixos, para podermos suportar qualquer oscilação de preços e continuarmos, assim, a operar.

Até que ponto o Corredor pode servir os grandes projectos de gás e petróleo que estão a ser desenvolvidos em Cabo Delgado?

Claramente que qualquer grande projecto vai tirar proveito dessas infra-estruturas. Uma das nossas preocupações muito grandes é perder as pessoas que formámos desde 2012 para esses grandes projectos. Daí que temos que fazer um trabalho muito grande junto ao Ministério da Educação para formar mais pessoas. Esperamos, também, que o fluxo aumente no Aeroporto de Nacala.

Mais de 1 600 casas construídas para reassentar famílias
Um dos problemas sempre levantados nos grandes projectos de infra-estruturas em Moçambique são os reassentamentos. As pessoas, muitas vezes, queixam-se de não serem transferidas para locais similares ou melhores que os anteriores. Isso já aconteceu com grandes empresas. Não teremos neste projecto problemas similares aos já registados no país?

Aprendemos com projectos antigos. O nosso projecto é dos mais recentes em Moçambique. Fizemos um trabalho criterioso e cuidadoso com as famílias. Outro aspecto é que grande parte da infra-estrutura já existia, por isso, o impacto é um pouco menor do que se tivéssemos construído de zero. No projecto Corredor Logístico de Nacala, foram construídas mais de 1 600 casas para as pessoas que tinham construído moradias ao longo da linha férrea. Por questões de segurança, tivemos que reassentar as pessoas, foi feito até um estudo na área do porto. Tem havido reclamações isoladas que vamos atendendo ao longo do tempo. Nós temos monitores sociais que acompanham as famílias até dois anos após o reassentamento, para garantir que elas tenham uma actividade económica. Estamos a investir em agricultura familiar, para que as pessoas tenham rendimento. Para evitar atropelamentos, é importante que essas pessoas tenham uma actividade. Investimos em mais de 90 furos de água, para evitar que as pessoas tenham que se deslocar a outras comunidades para buscar água, atravessando as linhas.

 

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