É sempre assim, mas sempre assim, toda a vez que chove na cidade de Xai-Xai. As casas ficam alagadas, as ruas intransitáveis e o desespero é inevitável! Foi o cenário encontrado pela nossa reportagem na zona de Malhazine, na baixa daquela cidade.
Ali as crianças caminham descalças, convivem, brincam inocentemente num verdadeiro cenário de risco. Os mais velhos, sem grandes soluções, também desafiam os seus medos e colocam as suas vidas em risco (caminham nas águas turvas e nauseabundas). Na nossa ronda encontramos Gertrudes Matsimbe, viúva e mãe de quatro menores. Sem termos a noção das condições em que vive há duas semanas, convidou-nos à sua casa.
Pelo caminho descreveu-nos o seu drama. “É sempre assim toda a vez que chove. Esta água está aqui há mais de duas semanas. Para que as crianças cheguem limpas a escola tenho que carrega-las às costas. É cansativo, mas não temos outra solução”, lamentou Gertrudes para depois lamentar a alegada incúria das autoridades locais.
“Eles vêm prometendo reassentamento desde 2017, mas até hoje nada feito. Sempre que chove vivemos este pesadelo”, lamentou.
Tal como ela há outros vizinhos que vivem o mesmo sofrimento. Ao chegarmos à sua casa, o cenário foi água em todo o lugar, tanto no quintal, assim como no interior da casa. Em meio a um cenário de pobreza, Gertrudes vai criando os seus filhos.
Ao “O País”, a nossa entrevistada explicou como passa as noites. “O nível da água já esteve superior a este. Para conseguirmos dormir temos que fazer um grande esforço. Não temos para onde ir, temos de arranjar soluções. Uma coisa que fizemos foi colocar blocos nas bases das camas para que tivessem uma boa altura. Antes de nos deitarmos na cama temos lavar as pernas porque a água é turva. Coloquei rede mosquiteira para as crianças porque elas são prioridade, eu não tenho.
Caso chova nos próximos dias não sei o que será de nós”, explicou a mulher entristecida.
São incertezas de uma mãe viúva, cujos filhos desafiam o ambiente hostil para estudar. Tal como Gertrudes há mais famílias que vivem esse drama. Helena Muchave é disso exemplo. “Vivemos assim há anos e o Governo nunca veio nos dar o devido amparo.
Eles prometem coisas e não cumprem”, disse para depois acrescentar que o sofrimento é indiscritível, sendo que está disposta a sair do local, mas não deixou de questionar. “Caso nos tirem daqui irão construir as nossas casas lá? O que acontece, é que geralmente, eles atribuem terrenos e não dão mais nada e a nossa vida é isto que construímos”, explicou.
O casal Manhique decidiu abandonar a sua casa cercada de água, já não havia condições para lá estar. “Mesmo sem condições, não tivemos outra alternativa senão abandonarmos a nossa casa e procurar refúgio num local sem nenhum tipo de condições. Estamos desamparados”, lamentou Gerson Manhique.
Este é o drama de famílias que vivem um pesadelo, desde 2017, toda vez que chove na cidade de Xai-Xai. Estes são exemplos de famílias que arriscam suas vidas para sobreviver.
EXECUTIVO PROVINCIAL DIZ ESTAR A REASSENTAR FAMÍLIAS
O Secretário de Estado na província de Gaza, Amosse Macamo, disse ao “O País” que as inundações na cidade de Xai-Xai são cíclicas e garantiu que o executivo está a trabalhar para reassentar as famílias que estão em zonas de risco. “Tivemos algumas famílias que tiveram que ser reassentadas. Mas esta é uma situação cíclica.
O que estamos a viver agora viveremos nos próximos anos, o que estamos a fazer é desenvolver uma acção coordenada com os vários sectores para que possamos ter uma solução que nos garanta algum conforto. Temos famílias que já receberam o apoio do INGC, da autarquia e da administração da cidade de Xai-Xai. Temos que garantir que as famílias que foram reassentadas não voltem às zonas de risco porque esse é um dilema que estamos a viver aqui na cidade”, detalhou.