Em 2018, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar diminuiu ligeiramente face a 2017, tendo alguns países sido menos expostos a riscos climáticos violentos, como secas, inundações ou chuvas.
"Este recuo no valor absoluto é um epifenómeno", disse Dominique Burgeon, chefe de emergências da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), referindo que ocorreu "devido à ausência do fenómeno 'El Nino', que afectou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017".
"Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Malawi este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que vem", previu Dominique Burgeon citado pelo Notícias ao Minuto.
O ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique, Malawi e o Zimbabwe a 14 de Março. O número de mortos provocados pelo ciclone e as cheias que se seguiram subiu para 598, anunciaram ontem as autoridades moçambicanas.
"É evidente no relatório global que, apesar de uma ligeira queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda, o número ainda é alto demais", declarou o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.
De acordo com o responsável da FAO, é preciso agir em grande escala no âmbito do desenvolvimento, da ajuda humanitária e da construção da paz "para construir a resiliência das populações afectadas e pessoas vulneráveis".
"Para realmente acabar com a fome, devemos atacar as causas básicas: conflito, instabilidade, o impacto dos choques climáticos. Rapazes e raparigas precisam ser bem nutridos e educados, as mulheres precisam de ser verdadeiramente fortalecidas, a infra-estrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse objectivo de fome zero", sublinhou diretor-executivo do Programa Alimentar Mundial (PAM), David Beasley.
Os dados foram revelados ontem num documento apresentado conjuntamente pela União Europeia (UE), pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), entre outros organismos.
De acordo com este relatório, o Iémen, a República Democrática do Congo, o Afeganistão, a Etiópia, a Síria, o Sudão, o Sudão do Sul e Nigéria são os oito países do mundo que estão a sofrer as piores crises alimentares.
Os conflitos foram a principal causa de insegurança alimentar em 2018 no mundo. Cerca de 74 milhões de pessoas, ou dois terços da população total que enfrenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios em guerra, um dado que permanece estável em comparação a 2017.
As conclusões do relatório pedem uma cooperação fortalecida que ligue a prevenção, a preparação e a resposta para atender às necessidades humanitárias urgentes e às causas profundas, que incluem a mudança climática, choques económicos, conflitos e deslocamentos.