Os ventos da pandemia da COVID-19 ainda atormentam a indústria de processamento da castanha de caju, sendo que milhares de trabalhadores foram ao desemprego e houve encerramento de fábricas.
O Instituto de Amêndoas de Moçambique lidera o processo de pulverização dos cajueiros contra doenças e pragas, constituindo uma acção determinante para o aumento do nível de produtividade das plantas. Um cajueiro tratado com insecticida produz quatro vezes mais do que um cajueiro não tratado, o que justifica o investimento do Governo nesta componente.
“Desses tratados, esperamos a contribuição de cada cajueiro com cerca de 12 quilogramas. E fazendo as contas, estamos a estimar que, só nesse grupo, possamos chegar a 55 mil toneladas. Agora, indo aos cajueiros não tratados, esperamos que cada cajueiro possa contribuir com cerca de três quilogramas”, explica Halahala Abdurremane, técnico de investigação do Instituto de Amêndoas de Moçambique, referindo-se às projecções para a presente campanha somente na província de Nampula, que espera, no global, atingir 85 mil toneladas.
No fundo, a província de Nampula é a maior produtora de castanha de caju no país, contribuindo com mais de 50%. Neste momento, conta com cerca de 15 milhões de plantas, mas a pulverização em curso só cobre 27% desse universo.
E com a castanha de caju, abre-se uma cadeia que vai da investigação de plantas melhoradas, produção no campo, processamento, até à comercialização.
No ano 2000, Xavier Lopes embarcou no plantio de cajueiros em três blocos, na província de Nampula. Agora conta com 7815 plantas. “No ano passado, consegui 12 toneladas e consegui vender a 60 Meticais o quilo e rendeu-me acima de 513 mil Meticais.”
A indústria do caju emprega milhares de trabalhadores por não exigir mão-de-obra especializada. Já foi um dos sectores fortes da economia do país. A amêndoa de castanha produzida em Moçambique foi uma referência no mundo, na década de 70, tendo-se posicionado ao lado de grandes produtores como a Índia, com um recorde histórico de 700 mil toneladas, entretanto, nos últimos anos, a produção raramente ultrapassa as 150 mil toneladas.
“Por vários factores, a indústria retrocedeu e está a trabalhar com muitas indústrias inoperantes, por várias razões”, diz Yunus Gafar da Associação dos Industriais do Caju.
Na actual política do sector do caju, quando se abre a campanha de comercialização desta amêndoa, deve dar-se prioridade às fábricas nacionais para que possam ter matéria-prima para operarem durante o ano. Entretanto, a Associação dos Industriais do Caju denuncia a existência de uma forte rede de contrabando da castanha bruta, o que deixa algumas fábricas de processamento sem matéria-prima.
“Tínhamos protecção, mas ausentou-se e privilegiou em paralelo o mercado de exportação que é concorrido pelo mercado informal, que passa por meios sem ganhos para o previsto”, avança Gafar.
Cinco fábricas de processamento continuam em funcionamento no país. Outras foram encerradas, com a crise trazida pela pandemia da COVID-19, e mesmo as que estão em actividade tiveram que reduzir o número de trabalhadores.
“Temos cerca de 300 trabalhadores que, neste momento, estão a trabalhar. Antes, tínhamos 1400”, esclarece Martins Eliane, responsável dos recursos humanos numa das fábricas de processamento, arredores da cidade de Nampula.