Passam três anos após o maior ciclone na história do país ter devastado a região Centro, com maior incidência na cidade da Beira, onde houve inúmeros afectados, mortes e destruição quase total. Não obstante o tempo, as tristes recordações continuam no seio dos beirenses e as marcas da destruição ainda estão bem patentes.
Foi na noite de 14 para 15 de Março de 2019 que a região Centro do país, particularmente a cidade da Beira, foi atingida por um forte ciclone de categoria 3, denominado Idai, que devastou, feriu e matou cerca de seiscentas pessoas.
O Idai foi o ciclone tropical mais forte a atingir Moçambique, com ventos acima de 200 quilómetros por hora, que provocou cerca de 600 mortos e destruições de diversas infra-estruturas e perda de vários bens e culturas. O fenómeno fustigou, igualmente, os vizinhos Malawi e Zimbabwe.
Apesar de os beirenses se terem recomposto rapidamente, por meios próprios e com o apoio de terceiras pessoas, três anos depois, as marcas destruidoras do Idai ainda estão bem patentes nalguns pontos do Chiveve, tanto a nível da população em geral, assim como nas instituições do Estado e privados, pois há quem ainda não tenha conseguido recompor o que foi destruído, facto agravado pela passagem de dois outros ciclones, nomeadamente o Chalane em Dezembro de 2020 e Eloise em Janeiro de 2021.
Por ocasião da passagem dos três anos, foi organizada, na Beira, uma marcha, que passou por algumas artérias e foi desaguar no memorial erguido em 2020 para homenagear as vítimas do referido ciclone. No local, os beirenses recordaram o trauma vivido naquela noite e afirmaram que sempre que as previsões apontam para a entrada de um ciclone no canal de Moçambique, a angústia e tensão tomam conta de si.
“É impossível esquecer aquela noite e os dias subsequentes. Ninguém tinha noção do que um ciclone pode fazer e acredite que todas as recomendações dadas pelas autoridades não foram tomadas em consideração a 100 por cento. Aliás, posso até afirmar, com segurança, que mesmo os que emitem os alertas não tinham noção do que é um ciclone com ventos como aqueles. Se oficialmente se falava de cerca 220 quilómetros, nós que enfrentamos os ventos sentimos que a velocidade estava muito acima; vimos casas, muros, tectos e contentores a serem arrastados como papéis. Portanto, ainda estamos traumatizados”, afirmou José Gonçalves, residente na cidade da Beira.
Uma outra munícipe, Fânia Vasco, pediu ao Governo para procurar meios no sentido de apoiar as famílias mais necessitadas a reconstruir as suas casas, porque “passados três anos, há munícipes que ainda não conseguiram repor as suas coberturas, total ou parcialmente e, sempre que chove, os seus bens molham”.
O Arcebispo da Beira exortou os beirenses a reinventarem-se para conviver com estes fenómenos, porque o desafio é muito grande para o Governo.
“Está claro que o Governo não tem capacidade para construir casas para todos. Eu acho que deve haver uma educação nas comunidades para que as pessoas, na base dos seus poucos recursos financeiros, possam construir casas cada vez mais resilientes. O Idai veio mudar a nossa forma de viver. Ele veio mudar a nossa cultura. Mais do que celebrar os três anos, temos que aprender a ser resilientes”, exortou Dalla Zuanna.
O edil da Beira quer ver os munícipes cada vez mais robustos a enfrentarem os ciclones e explicou que há cidades que anualmente são fustigadas por ciclones “e estão de pé e nós temos que enfrentar estes fenómenos sem receio e, para tal, temos que estar unidos na resiliência e afirmar que venha o que vier estamos aqui de pés firmes”.
A secretária de Estado mostrou-se preocupada com o nível de recuperação que, de uma forma geral, varia de 30 a 50 por cento no meio das instituições do Estado, mas destaca união e resiliência. “A luta continua com a colaboração de todos. Não podemos ficar abalados, porque sabemos que, a cada evento climático desta natureza, as pessoas ficam desmotivadas, mas o mais importante é aprendermos com cada evento e olharmos para o futuro com a maior esperança e segurança”.