Celebra-se hoje, 7 de Abril, o Dia da Mulher Moçambicana, data escolhida em homenagem a Josina Machel, segunda esposa de Samora Machel, o primeiro Presidente da República de Moçambique, devido à sua participação na luta armada pela independência do país. Foi nesse dia que Josina perdeu a vida.
Na altura, a jovem quebrou todas as barreiras e preconceitos e, junto de outras mulheres, buscava um sonho – a independência do país.
Antes da luta de Josina, as mulheres tinham posição inferior na sociedade, sua luta não só culminou com a independência de Moçambique, mas também com a “independência da mulher”, que já pode exprimir as suas opiniões, trabalhar em grandes empresas e ocupar cargos de direcção.
A prova disso é que há precisamente três semanas, Moçambique atingiu a paridade de género no Governo, ou seja, existem 11 ministras e igual número de homens a chefiarem os ministérios, e, hoje, vamos falar especialmente de uma, Helena Kida, a mulher que carrega nos ombros o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.
“O País” acompanhou um dia da rotina da ministra, mãe, dona de casa e também, mulher moçambicana. Kida abriu as portas da sua casa e do seu escritório, para mostrar como faz para conciliar a função de mãe e governante.
“Em norma, eu acordo às seis horas para vida, mas, agora, com a minha Lú (nome da sua filha de alguns meses), acordo por volta das quatro e meia ou cinco, que é o momento em que ela desperta, e volta a dormir, assim tenho mais tempo para dormir e acordar para as actividades do dia”, contou.
É regra, sempre que pode, a sua primeira actividade diária é fazer exercícios físicos, que, segundo disse, servem como uma terapia e ajudam a relaxar e a organizar as ideias para o dia. Quando não pode fazer logo pela manhã, fá-los à noite para descansar com a “mente desligada”.
Disse que, desde que foi empossada ministra, sua rotina mudou por completo e uma das coisas de que sente falta são os momentos de caminhada com o seu pai, que o considera seu melhor amigo e confidente.
“Eu sou xará da mãe do meu pai e, por isso, ele trata-me por mãe e, às vezes, ele liga e reclama, diz que nunca viu uma mãe abandonar ou se esquecer dos filhos, porque, apesar de ele me entender, sente falta daqueles momentos comigo, e sempre que posso, tiro um tempo para estar com ele e com o resto da família”, narrou.
Segundo contou, após os exercícios, prepara-se para ir ao trabalho e, por acaso, o dia da reportagem coincidiu com o dia de cuidar da beleza (arranjar o cabelo e organizar as pestanas).
Para a ministra, a vaidade faz parte da mulher e, apesar de ser dirigente, tudo faz para tirar um tempo e cuidar de si. Defende que é bom andar bem apresentada, mas alerta que a vaidade não deve ser vista como algo fútil, “é preciso ser bonita, tomar decisões importantes por cima do salto, mas a inteligência deve estar em primeiro”.
Já no seu local de trabalho, Helena Kida, que antes foi nomeada vice-ministra do Interior, contou que acolheu a nomeação com susto, pois, para ela, se tratava de uma leiga naquela área e que o Ministério do Interior era sinónimo de Polícia e ela nunca antes teve treinamento para área, mas o pior foi o facto de ser julgada por ser mulher a ocupar aquela posição.
“Era vista como uma miúda numa casa masculinizada, e parecia complicado assumirem que eu era uma senhora”, ainda assim, segundo relatou, deixou as “bocas de lado” e fez o seu trabalho. Tempo depois, foi nomeada ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos “e aqui, o facto de ser mulher nem me assustava, porque acho que temos as mesmas oportunidades de formação e quem tiver esforço vai estar bem formado e o trabalho não se distingue do feminino ou masculino”.
A governante recordou-se de um dos momentos que acredita ter sido um dos mais difíceis após as suas nomeações, sentiu como se o mundo olhasse para as mulheres como pessoas incapazes e que não têm competência, nem capacidade de terem uma formação e, caso tenham, julga-se terem comprado.
“As pessoas foram muito violentas, quiseram questionar a minha competência sem me terem dado oportunidade para mostrar a incompetência, circularam fotografias que nem era eu, e aquilo foi doloroso para minha família, eu tenho filhos, tenho pai, mãe e, apesar de saberem que eu não sou o que diziam ser, aquilo os machucou bastante. Por isso, eu disse para mim mesma, Helena, trabalhe, esta é a única resposta que podes dar a eles”.
Findo o seu trabalho, Kida voltou à casa, onde foi recebida pelo seu bebé. Como uma mãe típica, pegou a sua filha como forma de mostrar que “mamãe já chegou”. Depois, foi às panelas, o prato do dia foi guisado de vaca e arroz branco, enquanto cozinhava, ocupava-se em organizar a casa e fazer uma lista para o rancho.
“Infelizmente, não posso cozinhar todos os dias por conta da minha agenda, mas isso é algo que faço sempre que posso e com muito gosto. Quando estou em casa, a minha intenção é organizar tudo e deixá-la do meu jeito, isso faz de mim uma dona de casa, uma mãe e típica mulher moçambicana, por isso, de tudo faço para não perder essa essência”.
Por fim, com sua filha no colo, Helena Kida deixou uma mensagem de coragem e força a todas as mulheres moçambicanas.
“O apelo que eu faço às mulheres é que invistam na sua formação. Isso é tudo, sejam competentes, não diria tal como os homens porque soa como se eu estivesse a dizer que são mais competentes que as mulheres, mas eu penso que, se tivermos as mesmas oportunidades, então teremos as mesmas competências e eu penso que é mais chique ser uma dirigente do que um dirigente”, instou Helena Kida, a terceira mulher a encabeçar o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.