O membro sénior e fundador da Frelimo, Hélder Martins, diz que a Frelimo é culpada pela situação desastrosa que o país está a passar, e propõe o combate aos que chama de oportunistas infiltrados. Numa carta aberta dirigida à direcção do partido, o primeiro-ministro da saúde de Moçambique propõe a realização de uma Conferência Nacional Abrangente, antes da deliberação do Conselho Constitucional.
É a primeira vez que um membro Sénior da Frelimo reage à actual crise politico-social que o país vive, apontando a Frelimo como culpada da situação.
Através de uma carta aberta dirigida à Direcção do Partido Frelimo, o antigo ministro da Saúde Hélder Martins mostrou-se preocupado com a actual situação social, económica e política do nosso país, a qual considera desastrosa e afirma que não se pode apontar a oposição como culpada do cenário.
“A preocupante situação dos jovens constitui preocupação de toda a Sociedade. As estatísticas oficiais indicam que dos 500 000 jovens que, em cada um dos últimos 3 anos, chegaram aos 18 anos de idade, só cerca de 5 a 7% conseguiram um emprego no sector formal da economia. Isto está a criar um “exército” de desempregados, onde os terroristas do Norte do País, mas igualmente os nossos adversários políticos, recrutam livre e facilmente”, lê-se no documento.
Segundo o político, constituem também desafios, a fome, a insegurança alimentar e a miséria, cujas percentagens tenderam a subir, nos últimos anos.
“A falta de habitação, a fraca qualidade dos cuidados de Saúde prestados pelo SNS, o estado caótico em que se encontra o nosso Sistema Nacional de Educação, a precariedade e insegurança do transporte público, tudo isto é justamente atribuído pelo POVO à ineficácia e incompetência do Governo do nosso Partido”.
Martins diz que a Frelimo enfrenta uma crise existencial inegável, já antiga, por isso urge combater os oportunistas infiltrados e há razão para isso.
“Ao nível do Partido a falta de requisitos para a admissão de membros e a falta de definição de perfis para candidatos a dirigentes do Partido resultou num processo lento, mas gradual, de infiltração no Partido, por todo o tipo de oportunistas, meros negociantes, gente que vê na política um meio de enriquecimento com os bens públicos e com o suor do Povo, alguns dos quais chegando ardilosamente, a tomar postos nos órgãos e na direcção do Partido. A par disto e talvez como consequência, foram-se abandonando os critérios éticos nas fontes de financiamento do Partido, aceitando-se dinheiro de fontes ilícitas e que, mafiosos sejam tratados com respeito, só porque financiam o Partido”.
A propósito das manifestações pós- eleitorais, Hélder Martins diz que é preciso reconhecer que houve irregularidades gravíssimas nestas e nas eleições autárquicas do ano passado, com intenção única de beneficiar a Frelimo, tendo como promotores a CNE, STAE e o Conselho Constitucional.
“Essa fraude eleitoral é a causa de toda a instabilidade sociopolítica que se seguiu, e se mantém nas principais cidades do País e ela veio expor uma percepção popular, extremamente preocupante, de que “a FRELIMO abandonou o Povo”. E é necessário não confundir causas com consequências. A agitação social que vivemos actualmente no nosso país é causada pela fraude eleitoral e tentar atacar as consequências sem ir à raiz do problema, a verdadeira causa, é «política de avestruz», mas não resolve nenhum problema”.
O primeiro ministro da saúde condena a resposta violenta da polícia às manifestações, por entender que se trata de uma violação constitucional e revela desprezo pela vida humana. Dirigindo-se ao Presidente do partido, Filipe Nyusi e ao Secretário-geral interino, Daniel Chapo, propôs medidas mínimas e urgentes para resgatar a confiança do povo.
“Realização muito urgente, de uma Conferência Nacional Abrangente, para análise da situação, e para que, através do diálogo e conversações francas e honestas, se chegue a consensos políticos, que possam trazer a Paz e o Desenvolvimento social e económico ao nosso País.
Essa Conferência Nacional Abrangente tem um carácter de extrema urgência e não deve esperar pelo veredicto do Conselho Constitucional, que já demonstrou a sua incapacidade para considerar o impacto social, económico e político das suas decisões, na vida nacional. Nenhuma lei prevê um prazo para a deliberação do Conselho Constitucional, pelo que este deve esperar pelos resultados do Consenso Nacional Alargado, antes de tomar qualquer decisão”.
Neste encontro, de acordo com o proponente, devem participar os candidatos presidenciais, representantes de todas as partes interessadas, nomeadamente, todos os partidos políticos, organizações da Sociedade Civil, todas as Ordens e associações profissionais, associações de jovens e de mulheres, confissões religiosas, Universidades, associações de carácter cultural, científico e desportivo e, para ela, devem ser convidados observadores internacionais.
Já no partido, Martins propôs a convocação de uma conferência nacional de quadros, para entre outros, reorganizar o partido, definir critérios de purificação das fileiras, bem como a definição de perfis de candidatos a membros e a órgãos do Partido e do Estado.