Doentes com cancro do esófago já tem motivos para sorrir, pois já é possível minimizar o seu sofrimento através de um procedimento que desde semana passada passará a ser feito na maior unidade hospitalar do país. Trata-se de uma técnica que consiste na implantação endoscópica de stent, uma prótese esofágica autoexpansível para o tratamento da disfagia decorrente dos tumores esofágicos avançados e obstruídos.
A disfagia caracteriza-se pela dificuldade em engolir, ou seja, fazer a deglutição de alimentos e líquidos.
Com este novo procedimento, que até então não era feito no país, vai aliviar a dor e sofrimento de muitos pacientes e seus familiares que tinham que gastar muito dinheiro para fazer procedimentos de natureza no exterior, ou então para quem não tem possibilidades se contentar com o seu sofrimento.
Actualmente o Hospital Central de Maputo é o único em Moçambique que realiza esta técnica inovadora, graças ao apoio de uma empresa sul-coreana que, no âmbito da sua responsabilidade social e corporativa doou perto de duas mil unidades de acessórios para diagnóstico do cancro do esófago e 121 stents.
Em uma fase inicial, foram abrangidos 7 pacientes que já passaram pelo processo de implantação do stent no esófago.
Um idoso de mais de 60 anos e, com o estado avançado da doença, manifestou a sua satisfação pelo facto de ser um dos beneficiários.
"Fico contente que tenha sido contemplado, sofria muito e este procedimento vai dar-me uma qualidade de vida melhor. Peço a Deus para que ajude os enfermeiros e médicos para que tudo corra bem quando estiverem a colocar o aparelho no meu organismo. Claro que estou nervoso neste momento porque todo o processo cirúrgico, endoscópico ou outros aparentemente mais simples como este sempre deixam o nosso espirito inquieto, mas peço a Deus para que tudo corra bem." disse
Inocência Balote é outra paciente com a doença. Diz que foi diagnosticada com cancro do esófago recentemente depois de muitas consultas na zona onde vive.
"Sou de Xinavane e a seis meses que tenho sentido dores, com dificuldades de comer. Fui várias vezes ao hospital, davam-me medicamentos mas não passava, depois de marcar uma consulta aqui no Hospital Central de Maputo, os médicos descobriram que tenho problema do esófago e que acabou afectando os pulmões. Tenho fé e estou confiante de que este procedimento no qual serei submetida, vai ajudar e melhorar o meu estado de saúde e mental.
O primeiro procedimento endoscópico durou cerca de 1 hora, tendo estado presentes no processo médicos da Índia, Portugal e Moçambique. Após esse período ouviam-se palmas e abraços da equipa, com semblantes de alegria dando a indicação que tudo havia corrido com perfeição.
O doutor, Prassad Modcoicar, Director dos serviços de gastroenterologia do HCM, que integrou a equipa no processo de colocação do stent ao primeiro paciente, falou ao Jornal O Pais, logo a saída da sala de cirurgias.
"Foi um procedimento endoscópico que fizemos por via de fluoroscopia a um paciente que apresentava disfagia, isto é, dificuldades de ingerir líquidos por causa da dor e por decisão da equipe multidisciplinar do esófago, chegou-se a conclusão que o único tratamento que poderia ser feito era colocar o stent ao paciente. Correu tudo bem e por uma questão de segurança voltaremos a fazer uma nova endoscopia para ver como esta, mas como tiveram a oportunidade de ver foi bem colocado e o paciente vai poder ingerir líquidos daqui a 8 horas e sem dor. Disse Prassad que referiu ainda que nesta fase introdutória apenas sete pacientes serão submetidos a estes procedimentos e de forma seguida, para a posterior ser rotineiro.
Existem vários tipos de tratamento para o cancro do esófago que podem ser realizados por meio de um endoscópio e a colocação do stent é uma das técnicas mais usadas. Usando a endoscopia, um stent pode ser colocado no esófago ao longo do tumor e uma vez no local, ele se auto expande tornando-se um tubo que ajuda a manter o esófago aberto e por conseguinte permitir a passagem de líquidos e alimentos no organismo sem que o paciente sinta dor.
O Hospital Central de Maputo, a maior unidade sanitária do país, trata cerca de 130 casos de cancro do esófago por ano, maioritariamente mulheres, e planeia expandir o tratamento com o uso destes procedimentos para outros hospitais do país.