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“Há pessoas mal-intencionadas nos centros de acomodação” em Boane

Foto; O País

Houve demora na entrega de refeições às vítimas das cheias, em alguns centros de acolhimento, no distrito de Boane, na Província de Maputo. As populações queixam-se de desorganização e má gestão dos centros. Autoridades dizem que há pessoas mal-intencionadas nos centros.

Escola Primária Completa de Mabanja, Primária de Boane-Sede e Escola Secundária Joaquim Chissano acolhem cerca de três mil pessoas vítimas das cheias, dos bairros Tedeco, Jota e Mazambanine, no distrito de Namaacha.

Chão gelado, com recurso a saco plástico, capulanas ou mesmo sem nada, é que acolhe as pessoas nas noites, passadas em sala de aula. Júlia, mãe de gémeos, conta que perdeu tudo e apenas conseguiu algumas roupas, doadas, para os seus bebés. “Tudo se foi com a água. Não temos nada mesmo. Mas, a vida continua”, disse.

Como não poderia ser pior, Júlia perdeu algo muito importante, o seu celular. “Roubaram-me o celular aqui na sala. Não sei quem foi. Assim estou mal. Não tenho nem como contactar a família. Não sei o que fazer.”

Até às 10 horas desta segunda-feira, no centro da Escola Primária de Mabanja, ainda não se tinha servido refeição alguma. A dor de ter perdido tudo devido às chuvas juntava-se à fome, que afectava crianças, adultos, idosos, até mulheres grávidas. Quem podia preparava a própria refeição para dar aos filhos, mas há quem só estava à espera de boa vontade das autoridades.

Segundo os populares, não há organização no centro e isso complica tudo. Jonas Macie, que perdeu tudo, chegou ao centro, mas não conseguiu espaço, estando, assim, fora do alojamento, ele e sua família.

Além do sofrimento, Jonas conta que está a correr o risco de ficar desempregado, uma vez que “o patrão está a ligar querendo que eu vá trabalhar. Eu estou a dizer que não há vias de acesso, mas ele insiste e diz que estou a somar faltas. Não sei o que fazer”.

Situação semelhante é vivida no centro montado na Escola Primária de Boane-Sede, onde as deslocadas se sentem desprezadas pelos gestores.

Segundo contam, quando chegaram no domingo, já não havia espaço para dormir. Por isso, decidiram deixar os nomes com alguém e foram dormir em casa de familiares. Ao amanhecer, aproximaram-se da escola, mas já se tinha feito uma lista, onde não havia os seus nomes e tiveram como resposta: “virem-se”.

No entanto, não é bem assim, segundo explicou uma das chefes do alojamento. “Estas senhoras estiveram aqui, mas, como se ausentaram, a gestão do centro decidiu fazer uma lista final, onde se apuraria quem realmente dorme aqui, por isso não foram contempladas. O objectivo desta lista é evitar que haja infiltrados, como tem acontecido, havendo pessoas que vêm apenas para receber mantimentos, o que prejudica quem realmente necessita”, esclareceu.

As autoridades visitaram os centros para se inteirar das condições em que as famílias vivem.

A secretária de Estado da Província de Maputo, Judite Musácula, apelou às populações que aprendam a viver em comunhão, apesar das diferenças, e que mantenham o centro limpo, para evitar a eclosão de doenças.

Em relação à demora na distribuição de comida, Jacinto Loureiro, edil de Boane, explicou que tal se deve à má gestão de algumas situações, mas “há comida suficiente para todos e nós estamos a trabalhar de forma a garantir a manutenção dos centros”.

Naquele e noutros centros de acomodação criados no distrito de Boane, para acolher famílias afectadas pelas cheias, há pessoas que tendem a regressar às suas zonas de origem por temerem roubo dos poucos bens que restaram, no entanto as autoridades avisam que serão abertas as comportas da barragem dos Pequenos Libombos, por isso não apela ao regresso, pois os níveis de água poderão subir.

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