O antigo Presidente da República foi um dos convidados que participou na cerimónia de homenagem ao músico e guitarrista Moisés Mandlate. Na cerimónia organizada pela Universidade Pedagógica de Maputo (UniMaputo), no seu Campus Principal, Armando Guebuza referiu-se ao contributo e às qualidades do autor centenário.
“Só em 2021 é que eu vou completar um ano de idade. Agora estou sem anos, quer dizer, não tenho anos”. As palavras do músico e guitarrista Moisés Mandlate mereceram aplausos do público, afinal, reconhecendo a ignorância, ficou a saber que 100 anos significa não ter idade. Num tributo à sua vida e à sua obra, o músico dos Djambo, da “Elisa wê gomara saia” esteve rodeado de amigos no mês que comemora um século de vida.
A cerimónia realizou-se entre a manhã e a tarde desta terça-feira, na Biblioteca Central da Universidade Pedagógica de Maputo, na capital do país. Além de familiares, na sessão estiveram amigos, admiradores, artistas e um antigo Presidente da República de Moçambique. Acompanhado pela esposa, Armando Guebuza deliciou-se da música e das memórias que as mesmas enceram. E quando foi dado a palavra, o antigo estadista sublinhou que através da música, já nos anos 50, Moisés Mandlate contribuiu para enaltecer a arte e cultura moçambicanas, através de composições que retratam o contexto moçambicano do século passado. “A marrabenta mais estilizada e mais popularizada aparece através do Djambo, já nos anos 50. Em consequência disso, nós temos a música a reproduzir aquilo que é a experiência e a realidade sociais no que concerne ao desenvolvimento técnico e tecnológico”. Para Guebuza, ao celebrar-se a obra de Moisés Mandlate, deve-se pensar por onde ele passou e como conseguiu valorizar a experiência que teve”.
Até a altura em que Guebuza interveio na cerimónia, Moisés Mandlate só ouvia e sorria. E quando quis romper a monotonia, lentamente, que o corpo já não é assim tão capaz, levantou-se e surpreendeu a todos ao improvisar alguns passos de dança. Nada programado. Durante uns três ou quatro minutos o “menino” dos Mandlates demonstrou que noutros tempos as raparigas “derretiam-se” a tanto charme e simpatia.
Referindo-se às qualidades do músico, Elvira Viegas, que aproveitou a ocasião para lhe fazer uma ode, disse que Moisés Mandlate é, para si e para muitos do seu tempo, um pai inspirador, que abriu mentes em Moçambique e no estrangeiro, através da música. “Ele ensinou a muitos de nós e o facto dele ser conversador ajuda imenso”.
Quase sempre com um sorriso estampado no rosto, Moisés Mandlate ouviu Orlando da Conceição a tocar o seu saxofone, Stewart Sukuma na guitarra e ainda viu uma pequena peça teatral criada com base na sua obra.
Como forma de felicitar o músico centenário, o Presidente do Conselho de Administração do Moza Banco anunciou que foi aberta uma conta bancária com 100 mil meticais, na instituição por ele dirigida, a favor do aniversariante. O gesto deve-se ao facto de “Moisés Mandlate ser um homem cujo legado nos permite reconhecer as características fundamentais de Moçambique nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertença ao nosso país”, afirmou João Figueiredo.
Com efeito, em jeito de cereja em cima bolo, Salvador Caetano e Intelec resolveram juntar-se para realizar o grande sonho de Moisés Mandlate: conhecer Portugal. As duas entidades vão pagar as despesas de viagem do guitarrista centenário.
Moisés Mandlate nasceu a 4 de Fevereiro de 1920. Cedo começou a tocar guitarra, aprendeu sozinho, e a sua primeira actuação em público, lembra-se, foi a convite da Administração Colonial, no então Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique, actualmente Centro Cultural Ntsindya, localizado no bairro do Xipamanine, na cidade de Maputo. Aos 100 anos de idade, Moisés Mandlate lançou a semente e o amor à música a três netos que também cantam: Simba, Ângelo (que também é realizador de vídeos-clipes) e Dice Sitoe.