Nas vésperas do Dia da Mulher Moçambicana, a Universidade São Tomás de Moçambique graduou, hoje, 321 estudantes, dos quais 257 são mulheres. Para a Primeira-Dama da República, Isaura Nyusi, trata-se de um recado contra a prática das uniões prematuras e privação das mulheres.
Na verdade, são mulheres que mergulharam no mundo da ciência, que hoje mostram o sinal da sua vitória.
Com canudo numa e buquê de flores noutra mão, cânticos efusivos e sorriso que rasga as máscaras, Lurdes Sumbane, de 58 anos de idade, foi a estudante mais velha da cerimónia de graduação.
Sumbane fala de um caminho sinuoso, durante os quatro anos de formação, que, na verdade, se transformaram em seis, devido a problemas familiares.
“Quem me incentivou a estudar foi o meu marido, pois ele sempre dizia – ‘não te vou dar peixe para comeres, mas dar-te-ei anzol para pescares’. Mas, quando eu fazia o primeiro semestre do terceiro ano, ele perde a vida e eu perco forças para continuar”, contou.
Durante meses, ela foi “atormentada” pela culpa de ter parado a escola, daí que decidiu retomar por onde parou.
“Hoje, estou aqui, venci e isso fiz, não apenas por mim, mas para dar exemplo aos meus filhos e familiares e dizer que a vitória se ganha no sofrimento”, concluiu.
Igual a Lurdes Sumbane, há tantas outras mulheres, mais velhas ou novas, mais ou menos abastecidas financeiramente, que buscam nos estudos a ferramenta para vencer as barreiras do preconceito baseada no género.
O exemplo disso é a também recém-graduada em Direito, Yara Afro, que concluiu o nível de licenciatura aos 21 anos de idade, o que fez dela a graduada mais nova.
“Eu estou feliz por conseguir este feito. Consegui terminar em tempo recorde e sinto-me pronta para seguir outros passos”, contou.
Questionada sobre o constrangimento de ser umas das tantas mulheres na turma e a mais nova, Yara conta que “não tive nenhuma situação, pelo contrário, eu sinto que a sociedade está cada vez mais aberta e há, inclusive, instituições que privilegiam a mão-de-obra feminina, o que é bom”.
Lurdes e Yara são parte das 257 mulheres graduadas pela Universidade São Tomás de Moçambique, esta quarta-feira (4), de um total de 321 estudantes.
No seu discurso, o reitor da USTM, Joseph Wamala, disse que a instituição que dirige continuará a apostar na formação das mulheres.
“São Tomás vai continuar a expandir as oportunidades de acesso ao Ensino Superior às mulheres, porque sabemos que elas buscam, no ensino superior, mais do que o diploma. Elas buscam a formação profissional, melhores oportunidades de emprego e buscam melhores condições de vida pessoal e familiar”, disse o reitor.
Por seu turno, a Primeira-Dama, que foi convidada ao evento, referiu que esta é uma mensagem contra as uniões prematuras e aos que privam as mulheres dos seus direitos.
“Graduar mulheres é graduar modelos para gerações mais novas, de homens, bem como de mulheres. Modelos que ensinem os homens a respeitarem e a valorizar a mulher e modelos que ensinem as mulheres a acreditarem em si mesmas e na capacidade de contribuir na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual”, disse Isaura Nyusi.
Nos últimos três anos, 76 por cento dos estudantes graduados na USTM eram mulheres.