O Governo comprou 17 autocarros e parqueou-os, por um ano, porque não encontrou um operador adequado para começar a usar. Além disso, o executivo já não paga os seguros e a revisão obrigatória dos autocarros, no âmbito do contrato com a empresa Matchedje Motor.
A procura pelo transporte público é maior e o sofrimento da população não tem ainda um fim à vista.
Enquanto a solução para o problema do transporte público em Maputo tarda em chegar, o Ministério dos Transportes e Comunicações, que devia garantir a necessidade da mobilidade, tem 17 novos autocarros parqueados desde Fevereiro do ano passado.
Fazendo alguns cálculos rápidos pode ser constatado que: se um autocarro carrega, em média, 100 passageiros, sentados e em pé. Num total de 17 autocarros, que não recolhem pessoas porque estão parqueados, podiam ser carregadas 1700 pessoas, que estão, neste momento, entregues à própria sorte. Se for uma viagem de ida e volta, são mais de três mil passageiros.
O ministério dos Transportes e Comunicações, através do Fundo dos Transportes e Comunicações, justifica que estava à procura de um melhor operador para gerir os autocarros.
”Essas viaturas precisam encontrar um melhor modelo, ou um melhor operador que possa fazer o trabalho de transporte público. O que é que estamos a dizer? Nós temos a questão de que o governo subsidia, aliás, financia os operadores privados na manutenção, reparação e seguro. E eles têm a responsabilidade do pagamento de letra para a operacionalização desses autocarros que vão garantir o suporte desta atividade, deste financiamento, reparação e seguros. Mas porque esses operadores apresentam dificuldade em pagar a letra, logo há um vazio financeiro aqui”, disse Paulo Ricardo, director executivo do Fundo de Desenvolvimento dos Transportes e Comunicação (FTC).
A alocação de autocarros aos operadores privados, segundo o Governo, não está a ser sustentável. Por isso, segundo o FTC, é preciso encontrar outra forma de alocar os autocarros.
Temos que encontrar aqui a melhor forma e o melhor modelo, será que vamos continuar assim? Acho que entendemos que em qualquer parte do mundo o Estado subsidia, o transporte é crucial. Nós temos essa noção. É por isso que, se for a ver o processo todo da atribuição, não houve garantias, nós elegemos, através da FEMATRO, quem era elegível. Receberam os meios há esse compromisso. É como se estivessem a contribuir para garantirmos que esse projeto continue. Mas, infelizmente temos que fazer uma avaliação profunda deste modelo, estamos cientes, para ver como é que nós nos encontramos”, explicou Paulo Ricardo.
Se por um lado há autocarros que não circulam por falta de um melhor operador, por outro, o governo decidiu parar de pagar a revisão obrigatória dos autocarros no âmbito do contrato com a empresa Matchedje Motor.
Trata-se de um contrato firmado em 2018 entre o Governo e a Matchedje Motor, que devia ter a duração de 10 anos para a revisão de 250 autocarros.
“Nós temos cerca de 100 colaboradores, afectos neste sector de autocarros, e devido a esta situação, tivemos de suspender os seus trabalhos. Estamos a começar a ter processos judiciários, por via disso, o que tem criado prejuízos enormes. Por conta deste contrato também encomendamos peças para fazer face as avarias do autocarro, mas as peças estão, neste momento no armazém e não sabemos o que fazer com elas”, disse Filisto Bustani, gerente-geral da Matchedje Motor.
Confrontado com a situação, o director executivo do FTC diz que o governo já não consegue arcar com as despesas de manutenção, mas garante que o contrato com a Matchedje Motor ainda não foi cancelado.
“Neste momento, não sei se podemos falar de cancelamento. Nós manifestamos a intenção de suspender a parte que tem a ver com o financiamento que a gente faz as manutenções e reparações. Investimos três mil milhões para este projeto, e se nós tomarmos esta decisão, estamos a poupar, por ano, cerca de 200 milhões de meticais. Então, esses 200 milhões de meticais, entendemos nós que podemos adquirir anualmente na aquisição de meios.
Sem a empresa de manutenção de autocarros em cena, os operadores, por sua vez, falam de um outro problema.
“A AMT avisou-nos, no dia 8, que a partir do dia 15, há uns autocarros que terminam hoje os seguros, já não vai pagar mais aquilo que são os seguros, será o operador a pagar”, disse um membro da FEMATRO.
Enquanto isso, os acidentes de viação envolvendo autocarros continuam um fenómeno recorrente, a FEMATRO diz que poderá enfrentar dias mais difíceis. “Aquilo que fica com o cobrador na mão chega a 1000 ou 1500, depois de ter abastecido o carro, e só depois disso é que pode começar a guardar dinheiro e economizar para a revisão, os trabalhadores. Isso tudo sem falar das avarias, pois grande parte das nossas vias estão esburacadas”.
Sobre isso, o ministério dos Transportes e Comunicações invoca, mais uma vez, problemas financeiros.
“Se tu tens, por exemplo, um inquilino na sua casa, ele não consegue pagar a renda. E tu tens que, como dono da casa, pagar água, luz, segurança e outras taxas, a situação fica insuportável. Então, como forma de não agravar o foco financeiro por esta despesa, nós comunicamos ao concessionário que íamos suspender esta parte”.
A Associação Moçambicana para Vítimas de Insegurança Rodoviária, AMVIRO, chama a responsabilidade do Governo em tomar novas medidas para evitar acidentes de viação.
A AMVIRO reitera ainda a necessidade de criar um fundo nacional de acidentes.