A editora Fundza, em coordenação com o Ministério da Terra e Ambiente, apresentou, esta quarta-feira, na cidade de Maputo, o livro Memórias do Idai. A colectânea de crónicas reúne 26 textos sobre o ciclone e foi apresentada por Mia Couto.
Na verdade, o livro foi apresentado em várias cidades do país. Além de Maputo, a colectânea Memórias do Idai chegou aos leitores de Maxixe, Chimoio, Nampula e, obviamente, da Beira, uma das regiões mais afectadas pelo ciclone há um ano e meio.
Segundo disse o escritor e editor Dany Wambire, igualmente organizador do livro, a ideia de avançar com esta aventura literária tem uma razão concreta: contribuir para que a reconstrução do que se perdeu com a calamidade natural, em Março de 2019, também se faça através das histórias. “Nós decidimos avançar por este caminho porque fomos assistindo, durante as actividades de reconstrução de casas e de estradas afectadas pelo ciclone Idai, que uma coisa estava a perder-se: as histórias. Como somos uma editora e uma associação, decidimos contribuir para que essa reconstrução, através das histórias, do relato e da memória, se efectivasse. Acreditamos que este livro poderá registar as histórias do Idai para a eternidade”.
A cerimónia de apresentação na cidade de Maputo foi fruto de uma coordenacao entre a editora Fundza e o Ministério da Terra e Ambiente. Também por isso, o livro de crónicas e/ou histórias foi apresentado a algum público da capital do país na Sala de Reuniões da Direcção Nacional de Florestas. A anfitriã da cerimónia foi Emília Fumo, Secretária Permanente do Ministério da Terra e Ambiente que interveio em representação da Ministra Ivete Maibaze. Para Fumo, o lançamento de Memórias do Idai “é um convite expresso para uma reflexão sobre como podemos abordar as questões relacionadas às mudanças climáticas e como podemos elevar a consciência dos moçambicanos para a necessidade de reduzirmos a exposição dos riscos dos eventos naturais extremos, que, de forma recorrente e cíclica, têm vindo a causar dor e luto nas famílias”.
Quem também teve direito à palavra na cerimónia foi Mia Couto, na qualidade de apresentador do livro. Para o escritor natural da cidade da Beira – que também sofreu quando soube que parte da sua infância ou das memórias da sua infância tinham sido levadas pela corrente das águas – Memórias do Idai “é absolutamente fundamental num país em que tem tanta facilidade em perder a sua própria memória e em que há uma certa separação artificial entre a vida e a literatura. A escrita literária faz parte da vida. Nós, quando saímos daqui, vamos à rua e o que as pessoas fazem no seu quotidiano, contando histórias, anedotas e aquilo que não parece literário, permite que nasça a literatura”.
Segundo disse Mia Couto, quando os escritores transformam a vida numa história, a mesma vida também transforma os escritores numa história. Depois, realçou a importância da ficção: “Nenhuma coisa permanece se não for convertida numa história. A realidade só começa a ser real quando nos chega através de uma ficção”. E continuou: “Nós, aqui em Moçambique, pensamos que só tem direito a ter passado quem foi herói, mas herói somos todos nós que levantamos todos os dias e enfrentamos problemas e as dificuldades. Muito desses heróis que nós temos não estão vivos. Estão nas placas das ruas, mas, se perguntarmos quem eles são, ninguém os conhece. Eles só podem ficar vivos se se convertem em histórias que nos possam seduzir, com as quais podemos namorar”. Já a finalizar, o escritor voltou ao livro: “Talvez, com estas iniciativas, os eventos extremos das mudanças climáticas passem a ter mais importância e chamar a nossa atenção”.
A colectânea Memórias de Idai é resultado de um concurso organizado pela editora Fundza. Ao mesmo concorreram 90 autores. Deste universo, os membros do júri constituído por Paulina Chiziane, Pe. Manuel Ferreira, Manuel Mutimucuio, Cristóvão Seneta e Dany Wambire seleccionou 26 textos. Conforme foi noticiado neste jornal, o concurso teve como grande vencedor Francisco Raposo, residente na cidade da Beira.