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Fundação Leite Couto colhe “uma flor para Albino Magaia”

O jornalista e escritor Albino Magaia foi homenageado numa sessão online realizada na Fundação Fernando Leite Couto, na cidade de Maputo. O evento contou com a participação de Luís Loforte, Tomás Vieira Mário, Ana Magaia, Celso Muianga e ainda com a presença da viúva do autor: Leia Magaia.

 

Entre 2009 e 2010, a MISA Moçambique decidiu homenagear Albino Fragoso Francisco Magaia.  Nessa altura, o jornalista e escritor foi informado e reagiu com muita frieza, sem entusiamo. Ainda assim, pedidos de patrocínios foram enviados a empresas e, segundo Tomás Vieira Mário, respostas satisfatórias tiveram. “Um dia, eu estou em Paris, numa reunião da UNESCO. O telefone toca. Era o Director-Geral dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) a dizer: “Parabéns, nós já aprovamos o orçamento para a homenagem ao Magaia. Será feita com o nosso patrocínio”. Como é óbvio, o “discípulo” do célebre jornalista ficou satisfeito e na expetactiva de cumprir uma missão justa em nome do seu “mestre”. Entretanto, na madrugada seguinte, 3h da manhã, o telefone de Tomás Vieira Mário voltou a tocar, dessa vez, a notícia não poderia ter sido tão… desastrosa: Albino Magaia tinha morrido.

Assim, todo um plano de homenagear Magaia ainda vivo ficou sem efeito. 11 anos depois, num acto de justiça, a Fundação Fernando Leite Couto resolve colher “Uma flor para Albino Magaia”, designação da sessão de homenagem realizada esta sexta-feira, na cidade de Maputo. Além de Tomás Vieira Mário, o evento que durou mais ou menos 40 minutos juntou Luís Loforte e Ana Magaia, numa partilha de testemunhos moderada pelo editor Celso Muianga.

Sem presença de público, devido à COVID-19, a homenagem foi transmitida online pela redes sociais da Fundação Fernando Leite Couto. Aproximadamente 200 pessoas ouviram Luís Loforte, amigo do homenageado, dizer que já naquela altura de uma revolução muito mais intensa, Albino Magaia recusou, de certo modo, ser um homem que escrevesse aquilo que convinha a história e a política. “Ele bateu-se mesmo perante as altas esferas da governação do país e do partido. De certo modo, posso pensar que a sua ida ao Niassa pode ter sido devido à sua resistência em relação a um certo jornalismo que servia o unanimismo”.

A Luís Loforte, o autor de Yô Mabalane incentivou a escrever para revista Tempo. “Lá fiz algumas crónicas de âmbito cultural, e, nos anos 90, quando muitos jornalistas abandonaram a profissão, se calhar, por protesto, ele incentivou-me a escrever. Eu escrevi durante um ano e meio crónicas e apontamentos culturais. Ele incentivou-me para que reunisse todo esse acervo e publicasse um livro. Para me dar maior incentivo, propôs-se a fazer o prefácio desse livro”.

De igual modo, Tomás Vieira Mário foi convidado por Albino Magaia a publicar crónicas sobre Niassa na revista Tempo. “Nessa altura, escolhi Magaia, de forma consciente, como modelo de jornalista, fonte de inspiração, minha meta profissional”. Por isso mesmo, Tomás Vieira Mário não deixou de agradecer: “Obrigado à família Couto por esta ocasião que me permite lembrar alguém que nos marcou profundamente como jornalistas, escritores e como moçambicanos”. E Ana Magaia reiterou os agradecimentos em nome da família: “É um bocado difícil quando se trata de falar dos nossos, mas é com muita honra e é com muito privilégio que, sobretudo, agradecemos à família Couto, que se lembrou e ainda se lembra de homenagear os nossos escribas, homenagear as pessoas que deixam algo para este Moçambique”.

 

Homenagear Albino Magaia é um acto de esperança

Terminada a sessão online “Uma flor para Albino Magaia”, Celso Muianga explicou por que a Fundação Fernando Leite Couto homenageou o jornalista e escritor. Segundo afirmou o editor, “recordar e celebrar Albino Magaia, nestes tempos pandémicos e incertos, é uma forma de resgatar a esperança dos moçambicanos. Albino Magaia é uma das maiores figuras do jornalismo em Moçambique. Contribuiu de forma decisiva para o ensino do gosto pela leitura. Em homenagem ao nosso patrono Fernando Leite Couto e ao Albino Magaia, ambos foram amigos e trabalharam juntos, esta casa tem-se dedicado à formação de novos leitores. Esse é um sonho de Magaia e Fernando Leite Couto”.

Albino Fragoso Francisco Magaia nasceu a 27 de Fevereiro de 1947. Foi veterano de luta contra o regime colonial português, tendo, por isso, sido preso pela PIDE. Depois da independência, o autor de Malungate; Trilogia do amor e Moçambique: raízes, identidades, unidade nacional foi responsável pela formação de muitos jornalistas nacionais. Foi membro-fundador, e depois, Secretário-Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). A 27 de Março de 2010, Albino Magaia morre, portando, 28 anos depois de ter publicado Assim no tempo derrubado, pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco. Num dos textos desse livro, escreve o poeta: “Quando eu morrer/ que nem uma lágrima se perca na poeira de Moçambique/ Terra quente que receberá meus restos/ E os corromperá pela eternidade fora./ Que o sol não deixe de brilhar quando eu morrer/ Mas resplandeça com muito mais brilho/ Para meu irmão que estará vivendo./ Quando eu morrer/ Que nem poetas cantem minha morte e vida difícil/ Mas chorem dor de quem em meu lugar estará vivendo.”.

 

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