Palavras sem algemas
Não é difamação, muito menos injúria. Fomos mesmo ludibriados pelo Presidente Nyusi. A desilusão já passou de sensação para realidade, tal e qual passou o período de graça e de paninhos quentes. Na avaliação, após um ano e três meses de governação, em matéria de transparência o nosso presidente chumbou. Fez inúmeras promessas públicas que não se compadecem com o quotidiano da sua nublosa governação. A pretensão da transparência não se compadece com adiamentos. É imediato. E transparente o seu o Governo não é.
A começar pelo meloso discurso de investidura, reproduzido no discurso de tomada de posse do Governo e noutras ocasiões, o Presidente Nyusi sempre pregou a transparência, mais para a sepultura do que para a vida, num túmulo já enterrado pelos seu antecessores.
Recordemos algumas das falsas promessas:
“Exigiremos maior eficiência e melhor qualidade das instituições e dos agentes públicos que respeitem os princípios da legalidade, transparência e imparcialidade por forma a servir cada vez melhor o cidadão”.
“Asseguraremos que as instituições estatais e públicas sejam o espelho da integridade e transparência na gestão da coisa pública, de modo a inspirar maior confiança no cidadão. Queremos uma cultura de responsabilização e prestação de contas dos dirigentes”.
“Este Governo deve ser comunicativo com o povo. Os membros deste Governo devem encarar o acesso à informação como um direito de cidadania consagrado na Constituição e na lei. A nossa acção deve estar alicerçada nos mais altos princípios da ética governativa, como a transparência, a integridade,…”
Hoje, somos alfinetados com informações de que o país se afunda no abismo do endividamento descontrolado e insustentável. Uma curva para a desgraça de um povo inocente, cujo único e exclusivo tranquilizante seria a transparência e responsabilização que tanto nos prometeu o Sr. Presidente, quando disse: “Não aceitaremos a violação deste contrato social firmado com o nosso povo. Ninguém está acima da Lei e todos são iguais perante ela”.
Sem este paliativo, como podemos responder ao seu apelo de, juntos, edificarmos Moçambique? Como podemos projectar o nosso futuro? Sim, gritamos, “Nyusi eu confio em ti”… Mas de que nos vale a confiança às cegas quando vemos as instituições de Bretton Woods a um passo de nos estenderem a mão para o resgate do abismo? Como podemos confiar na sua liderança para reconstruir a esperança de um futuro melhor, com a força da mudança? Quando disse que o povo era o seu único e exclusivo patrão, afinal, que sentido tinha esta oração, para além do valor estético nas coloridas linhas do seu discurso?
Pior, como interpretar o convite que fez aos moçambicanos e aos partidos políticos da oposição para, “de forma patriótica e responsável, participarem no processo de fiscalização do novo ciclo governativo”, quando o partido que dirige é o primeiro a negar esclarecer as contas do Estado na Casa do Povo? Afinal, o dinheiro do Estado não é nosso? Sendo, porque não podemos conhecer os destinos que toma quando chega à vossa gestão? Por que conhecer parte do estado das contas da nossa casa através de terceiros?
“Queremos que Moçambique continue a ser refenciado como um dos países do mundo que mantém taxas de crescimento elevadas”. Como será possível, se esses países são os primeiro a saber da nossa precária situação financeira?
A nossa pacata condição de cidadãos, atrofiada pelo individualismo e certa cobardia, está à beira da extinção. A pressão da vida está prestes a roçar o limite da paciência e a activar o estado natural do Homem na luta pela sobrevivência. É mesmo assim, o caos acontece quando a todos tudo falta. Não deixe que falte, Sr. Presidente. Que a boa governação seja, de facto, a vossa palavra de ordem e que fique a lição de não prometer o que não tem.