A FIFA e a UEFA confirmaram esta segunda-feira que a selecção russa, assim como todas as equipas daquele país, foram afastadas das provas onde estão envolvidas na presente temporada, em resposta à invasão da Rússia à Ucrânia, o que provoca um alvoroço mundial, não só na vida política, mas também no desporto.
Num comunicado conjunto, as duas instâncias que regem o futebol mundial e europeu, respectivamente, garantem que o “futebol está totalmente unido e em total solidariedade com todas as pessoas afetadas na Ucrânia”.
“Ambos os presidentes esperam que a situação na Ucrânia melhore significativa e rapidamente para que o futebol possa voltar a ser um vetor de unidade e paz entre povos”, pode ler-se na curta nota citada pelo jornal Record.
Este comunicado surge um dia após a FIFA, a solo, ter indicado que as equipas e selecções russas não poderiam jogar em território russo, que não jogariam sob o hino e bandeira do seu país e que todas as equipas deveriam alinhar sob a sigla da Federação de Futebol Russa. O volte-face aconteceu 24 horas depois.
RÚSSIA FALA EM DECISÃO “DISCRIMINATÓRIA” DA FIFA E UEFA
Em resposta, a União de Futebol da Rússia (RFU) opôs-se à decisão “discriminatória” tomada pela FIFA e UEFA, de suspender os clubes e selecções de todas as competições, e defende que esta decisão vai “contra todas as normas e princípios”.
Pouco depois das duas entidades anunciarem a deliberação, devido à ofensiva militar da Rússia na Ucrânia, a RFU emitiu um comunicado para criticar uma decisão que “prejudica um grande número de atletas, treinadores, funcionários de clubes e selecções”.
De acordo com o jornal Record, que cita o comunicado da RFU, “a União de Futebol da Rússia discorda categoricamente da decisão da FIFA e da UEFA de suspender todas as equipas russas de participar nas partidas internacionais por um período indeterminado. Acreditamos que esta decisão é contrária às normas e princípios da competição internacional, bem como ao espírito desportivo”, começa por manifestar o organismo.
Segundo a RFU, a decisão tornada oficial por parte das entidades que regem o futebol mundial e europeu “tem um carácter claramente discriminatório e prejudica um grande número de atletas, treinadores e, mais importante, milhões de adeptos russos e estrangeiros, cujos interesses das organizações desportivas internacionais devem proteger em primeiro lugar”.
Por fim, defende que “tais acções estão a dividir a comunidade desportiva mundial, que sempre aderiu aos princípios de igualdade, respeito mútuo e independência da política”, e deixa claro que se sente no “direito de contestar a decisão de acordo com as leis desportivas internacionais”, escreve o Record.
A exclusão das representações russas das competições europeias e mundiais foi decidida ao mais alto nível, pelo Bureau do Conselho da FIFA e pelo Comité Executivo da UEFA, os dois mais altos órgãos decisórios das duas instituições em assuntos tão urgentes.
A Rússia deveria enfrentar em Moscovo a Polónia numa das meias-finais, com o vencedor desse encontro a receber na final do play-off para o Mundial-2022 a selecção vencedora do jogo entre Suécia e República Checa, em embate que poderia ser novamente em território russo.
O jogo entre Rússia e Polónia está agendado para 24 de Março e a final deste play-off, com o vencedor da Suécia-República Checa, a 29 do mesmo mês.
COMO FICA O PLAY-OFF PARA O MUNDIAL COM A EXCLUSÃO DA RÚSSIA?
Com a decisão tomada pela FIFA e UEFA, muitos questionamentos surgem em torno do que irá acontecer com o play-off europeu de qualificação ao Mundial-2022, que vai disputar-se no final de Março e que elegerá as últimas três selecções europeias apuradas para a competição no Qatar.
A Rússia foi sorteada no caminho B, onde também estão Suécia, República Checa e Polónia, esta última adversária nas meias-finais. Com a eliminação da selecção russa, falta saber o que acontecerá na referida meia-final.
A UEFA não se pronunciou por enquanto sobre uma situação que não está prevista nos órgãos reguladores do futebol. Existem, assim, quatro possibilidades, segundo o jornal ‘As’, nomeadamente a classificação directa da Polónia para a final do referido caminho. Algo que poderia gerar polémica, visto que Suécia e República Checa teriam de se defrontar para disputar a final.
Mas também a Eslováquia pode disputar o caminho B, visto ter sido 3.ª classificada do Grupo H, no qual a Rússia terminou em 2.º lugar e garantiu, assim, este apuramento.
Ou então pela estranheza da situação, poderia ser considerado o 3.º melhor classificado de todos os grupos que disputaram o apuramento para o Mundial. E aí entraria a Noruega, que somou 18 pontos, do grupo G, os mesmos do que a Albânia, no grupo I, mas com melhor saldo de golos (15-8 contra os 12-12 dos albaneses).
Para além disso, a selecção pela qual actua Erling Haaland tem melhor coeficiente (1,8 pontos por jogo) do que a República Checa, a 3.ª classificada do grupo E e que está no play-off via Liga das Nações (1,75).
Finalmente, pode também optar por completar o play-off pelas qualificações da Liga das Nações. Recorde-se que a nova competição da UEFA concede duas vagas aos dois melhores da edição anterior que não se apuraram na qualificação por grupos. Nesse caso, a Hungria seria a contemplada, por ter vencido o Grupo 3 da Liga B da Ligas das Nações. Áustria e República Checa, refira-se, conseguiram um lugar no play-off por terem somado mais pontos (13 e 12 respectivamente) do que a Hungria (11).
Para além disso, há ainda outra questão para solucionar. O Rússia-Polónia, da meia-final do caminho B do play-off, estava agendado para 24 de Março na VTB Arena, em Moscovo. Algo que também não irá acontecer pelas razões já mencionadas. Certo é que a decisão da UEFA não deve tardar, visto que falta menos de um mês para o arranque do play-off.