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Ficou quase impossível sair da África do Sul no dia 24

Há viajantes que levaram mais de cinco horas para atravessar a fronteira da África do Sul para Moçambique, através de Ressano Garcia. A demora no atendimento deveu-se a enchentes do lado sul-africano.

No dia 24 de Dezembro, a nossa equipa de reportagem esteve na fronteira de Ressano Garcia para reportar o movimento migratório na presente quadra festiva.

Chegado ao local, quase não havia muitos passageiros, pelo menos do lado moçambicano, porque, da fronteira de Lebombo, na África do Sul, chegavam-se notícias de um autêntico calvário.

Os viajantes, na sua maioria mineiros, chegaram a levar mais de cinco horas para atravessar a fronteira da África do Sul para Moçambique, através de Ressano Garcia.

“Cheguei na madrugada de sábado, por volta das duas horas. Há 10 quilómetros antes da fronteira, ninguém mais atendia. Ficámos por lá, dormimos porque não havia movimento migratório, mas dizem que a fronteira funciona 24 horas. O que é isso?”, questionou Marcelino Cuamba, mineiro com destino à província de Inhambane.

De madrugada estiveram expostos ao frio e de dia ao sol escaldante, sem nenhuma explicação da morosidade no atendimento na fronteira de Lebombo, na África do Sul.

“Não dizem os porquês da demora. Apenas mandam parar e seguir carros. O motor do nosso carro até chegou a aquecer. Faz muito calor. Não sei se a ideia é nos fazerem comprar seus refrescos”, supôs António Abílio, trabalhador das minas sul-africanas, para justificar a demora.

A lentidão no fluxo migratório sul-africano fez-se sentir do lado moçambicano, sobretudo através de longas filas de carros.
De tanto tédio, houve quem saiu da viatura, percorreu mais de quatro quilómetros a pé até aos balcões e efectuar o movimento migratório. Chegado à Ressano Garcia, o atendimento aos viajantes fluía…pousar para a foto e o som do carimbo colocavam os mineiros mais próximos de casa. “Sinto-me feliz porque já estou no meu país. Vou descansar”, respirou de alívio António Abílio.

A fronteira de Ressano Garcia conseguiu responder à demanda, tanto que até resta um tempinho de descanso e conversa entre os funcionários.

Este é o reflexo do fluxo migratório no dia que se esperava que fosse de pico. “Nas últimas 24 horas (de 23 para 24 de Dezembro), a fronteira de Ressano Garcia registou um movimento migratório de entradas de cerca de 22 mil viajantes que saem da República da África do Sul para Moçambique, com objectivo de passar as festas, na sua maioria mineiros”, revelou o chefe de Posto de Ressano Garcia, Armando Mata.

Armando Mata assegura que a demora no atendimento na fronteira sul-africana não está a sobrecarregar Ressano Garcia. “Do lado de Moçambique, todas as forças estão posicionadas e preparadas para o atendimento público.

Lamentamos que do lado sul-africano o atendimento seja moroso, mas temos feito todo o esforço para podermos ter flexibilidade no atendimento”, garantiu Armando Mata.
Até às 14 horas de sábado, grande parte dos mineiros já tinham atravessado a fronteira de Lebombo, estão no solo pátrio, mas isto foi vencer uma batalha e não a guerra. Ainda devem pegar a estrada com destino às províncias de Gaza e Inhambane.

“Queria passar o Natal junto da família, mas estou na fronteira e não sei quando chegarei à casa, porque vou a Vilankulo. Mas vale a pena porque já estou no nosso país”, manifestou o desejo Inácio Vilanculos, mineiro na terra do rand.

A viagem ainda é longa, mas a ideia é mesmo passar o natal junto da família. Por este momento, faz-se até o improvável.
Os mineiros ficam quase todo o ano na África do Sul a trabalhar e a saudade pelos seus é inevitável, e trazer lembranças da terra do rand, também.

“Não posso detalhar o que comprei, mas, como trabalhador, há coisas que comprei porque não posso entrar de mãos abanadas. Fiz algo para que se veja que chegou o chefe de família”, adiantou Domingos Mateus, mineiro na África do Sul, sem dar muitos detalhes.

Bom, certamente é uma boa surpresa e os beneficiários vão gostar.
Diferente da África do Sul, em Moçambique, enquanto os mineiros aguardam pelos processos migratórios para seguir viagem, as autoridades oferecem água para molhar a garganta e alguma coisa para, diga-se, enganar o estômago.

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