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“Fica a ideia de que Guebuza era um homem muito mais temido que Machel”

O pensamento foi deixado pelo sociólogo Hélder Jauana, que, na sua apresentação, explicou a razão de o antigo Presidente ser amado por uns e desamado por outros. Já Elísio Macamo defendeu que nem sempre os discursos de auto-estima de Guebuza foram bem compreendidos.

O primeiro a intervir foi Elísio Macamo. Começou por defender que, no início, foi séptico em relação ao discurso de auto-estimade Guebuza. “Não se governa apenas trabalhando, governa-se também promovendo a crença em nós mesmos. Já agora, confesso que quando ouvi o termo ‘auto-estima’ durante o seu primeiro mandato, tive algumas reticências. Lembro-me também de que não perdi nenhuma oportunidade de dizer uma ou duas coisas indecorosas sobre esse termo. E já agora, peço perdão por isso. Eu era mais novo e não sabia o que dizia”, revelou o estudioso, que depois recebeu aplausos da plateia.

“O conceito de auto-estima lembra de outras figuras de África. O mais importante ícone da luta pela independência da Tanzânia, Julius Nyerere, defendia a autoconfiança ou autossuficiência. Com esses conceitos, ele chamava nos seus conterrâneos a necessidade de confiarem nas suas próprias forças para que merecessem o seu próprio futuro”, destacou.

Noutro desenvolvimento, Macamo reconheceu que esses discursos foram importantes para os moçambicanos. “Quem tem auto-estima assume-se responsável por si e pelos seus actos. Responsabilidade é uma propriedade da cidadania, se por cidadania entendermos a ideia de que cada um de nós é moçambicano porque tem o direito de interpelar quem o governa.”

Já Hélder Jauana destacou o motivo de Guebuza ser amado por uns e desamado por outros. Para o efeito, recorreu a exemplos. “O primeiro que trago é a operação 20/24, aquela decisão que levou os portugueses, na altura, a saírem com 20 quilogramas de bagagem em 24 horas. Guebuza carregou e ainda carrega o peso de ser o ideólogo desta operação. Noutro plano, atenho-me a um diálogo que Samora Machel estabeleceu com Jaime Mathe. A dado momento nesse diálogo, Samora diz e passo a citar ‘Se o Guebuza estivesse aqui, não sei o que seria de si. A ideia que fica para a nossa geração é a de que Guebuza era um homem muito mais temido que o próprio Samora Machel’”, detalhou.

O sociólogo diz que continua crítico em relação a alguns aspectos da governação do antigo estadista. “Fizemos vários estudos, várias reflexões, vários artigos muito críticos à figura de Armando Guebuza como Presidente da República, com os quais nos identificamos até hoje. Uma delas é a narrativa da existência, neste país, dos apóstolos da desgraça. Esta ideia é construída daqueles indivíduos que, naquela altura, interpelavam criticamente as opções estratégicas de Guebuza, interpelavam, muitas vezes, de forma deselegante. Por último, é a ideia de moçambicanos de gema. Quando olhamos para a construção dessa ideia, é uma antítese da ideia da unidade nacional. Porque a unidade nacional diz que há vários moçambicanos, quando se constrói a ideia de moçambicanos de gema, e que há uns mais moçambicanos que outros, e são esses aspectos que provocam desamores em relação à figura de Guebuza”.

Jauana explicou também o motivo pelo qual Guebuza é amado. “Primeiro, pela ideia de auto-estima muito bem desenvolvida. Depois, temos a ideia do Fundo do Desenvolvimento Distrital, vulgo 7 milhões. Guebuza levou dinheiro aos distritos e empoderou as populações locais”.

Os sociólogos foram oradores do simpósio dos 80 anos de Armando Guebuza.

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