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Feliz dia da mulher, Zinha

A maior realização de uma criança reside no quanto ela pode brincar, criar e aprender. Não reside necessariamente no comer (em circunstâncias normais), até porque muitas delas choram quando o fazem. Outras chegam a comer na condição de poderem brincar em simultâneo. Comer e ser amada são necessidades que ela tem mas que nada tem a ver com ela. As actividades que ela pode desempenhar, incluindo estudar, são o centro da sua atenção e distracçao.

Todos nós nos comovemos com a Zinha, aquela menina dentre os 5 a 7 anos de idade, de joelhos numa esteira, por cima da qual colocou os seus livros a secar, após estes se terem molhado na sequência do ciclone IDAI.

Um olhar frustrado, impotente e impaciente. Como se as horas nunca mais passassem.

Se para nós adultos nos dói sentar e olhar para um problema, rezando ou torcendo para que o tempo o cure, imaginem para uma criança, que por natureza não vê nem sente o tempo a passar? Uma criança que, quiçá pela primeira vez sente-se responsável pelo que não fez e sente a pressão de resolver tal problema porque as aulas devem efectivamente continuar.

Zinha murchou, tal como milhares de crianças que viram seus sonhos postos em causa, pelo ciclone IDAI.

A devastação foi aquela que vimos. Por alguma razão, Zinha foi para mim a incorporação de toda aquela devastação: frustração, impotência, não culpabilidade e, força de vontade para juntar os trapos e recomeçar, custe o que custar.

E porque: “se educares um homem, estás a educar um indivíduo, mas se educares uma mulher, estás a educar uma nação inteira”, Zinha representa o futuro da mulher moçambicana, que deve continuamente lutar pela sua emancipação plena.

Se as crianças são o grupo mais vulnerável, agudiza-se a situação da menina moçambicana que, por falta de condições económicas sujeita-se ao casamento prematuro, que para ela, tem um efeito mais devastador que o do ciclone – este não tem de imperiosamente destruir tudo e todos que por ele são afectados, enquanto que, em casamentos prematuros, não existe atenuante para sua força destrutiva.

Existe a nececidade de se priorizar a reconstrução e reabilitação de escolas; a construção de lares para acolher todas as crianças orfãs do IDAI. E tais infraestruturas devem ter uma especial atenção à condição da rapariga pois esta sim, é a verdadeira formadora do Homem novo.

Obrigada,

Cri

 

 

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