A localidade de Mazvissanga, no posto administrativo de Save, em Machaze, continua isolada de todo o resto da província de Manica, desde que os rios Save e Búzi transbordaram – em consequência do ciclone “Eloise” – e cortaram o acesso via rodoviária. Das mais de 1.618 famílias sitiadas, apenas 130 já receberam assistência alimentar composta por cereais e leguminosas.
Neste momento, em Mazvissanga há mais de nove mil pessoas sitiadas e que necessitam de todo tipo de apoio, com maior destaque para produtos de primeira necessidade. O número corresponde a 1.618 famílias, de acordo com as autoridades.
A reportagem do “O País” escalou a zona que fica a cerca de 500 quilómetros da cidade de Chimoio. Da capital provincial de Manica até a sede do distrito de Machaze, Chitobe, faz-se uma viagem de 300 quilómetros, através de viaturas com tracção às quatro rodas.
De Chitobe à Mazvissanga são cerca de 200 quilómetros. Todas as vias de acesso estão intransitáveis desde que o ciclone “Eloise” fustigou as províncias de Manica, Sofala, Zambézia e Inhambane. A nossa chegada à zona foi possível recorrendo a um helicóptero do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), que sobrevoava para deixar bens alimentícios às famílias.
“Falta tudo aqui. Não temos farinha, arroz, óleo, sal e açúcar”, contou Felisberto Manuel, ao “O País”. Encontrámo-lo sentado debaixo de um embondeiro, mas com os olhos fixos no helicóptero, uma vez que sabia que o meio aéreo transportava bens alimentares para atenuar a miséria da população.
“Na verdade, aqui começou a chover desde finais de Dezembro do ano passado. Depois veio o ciclone “Eloise” que aumentou o problema, cortando as vias de acesso, o que não permite a entrada de camiões transportando mercadoria”, disse Lázaro Manuel, outra vítima da força da natureza.
À altura da entrevista, Lázaro estava na fila para receber o seu kit básico de produtos alimentícios, para os 10 membros da sua família.
MENOS DA METADE DAS VÍTIMAS JÁ TIVERAM APOIO
Das mais de 1.618 famílias sitiadas, apenas 130 já receberam assistência alimentar composta por cereais e leguminosas, segundo Deolinda Chitsumba, substituta da administradora de Machaze.
“Em termos de quantidades, cada família está a receber 25 quilogramas de arroz, 5 quilogramas de feijão, 1 litro de óleo e 1 quilograma de açúcar. Isso é suficiente para alimentar cada família por duas semanas”, disse Deolinda Chitsumba, acrescentando que o óleo alimentar e o açúcar apenas estão a ser distribuídos às famílias com membros que sofrem de desnutrição.
O delegado do INGD em Manica, Alexandre Augusto, avançou que serão distribuídas 10 toneladas de produtos alimentares, o que no seu entender está a decorrer de forma normal, uma vez que as chuvas já abrandaram. Assim, há condições para realizar pelo menos três voos diários, cada 400 a 600 quilogramas de carga.
Neste momento, a instituição do Estado está a encetar contactos com o Programa Mundial da Alimentação (PMA) para prover mais alimentos aos necessitados, segundo Alexandre Augusto.
“ELOÍSE” GERA ESPECULAÇÃO DE PREÇOS E PREJUDICA MADEIREIROS
A intransitabilidade das vias de acesso provocou a escassez de produtos, sobretudo de primeira necessidade em Machaze. A situação pode também estar a contribuir para a especulação de preços por parte de um pequeno grupo de comerciantes que tinha mercadoria reservada.
A nossa reportagem constatou, por exemplo, que o quilo de farinha de milho, que antes era comercializado a 50 meticais, passou para 65 meticais. Dez quilos de arroz passaram de 1.050 para 1.500 meticais. O preço do óleo alimentar subiu de 400 para 600 meticais o galão de 5 litros.
Em contacto com “O País”, Razão Armando, um dos dois comerciantes que ainda tem farinha de milho, pese embora em poucas quantidades, revelou que caso não haja intervenção nas vias de acesso, a situação poderá ser dramática nos próximos tempos, em Mazvissanga. É que o ciclone “Eloise” arrasou toda a produção dos camponeses.
Outrossim, Machaze é um dos distritos com peso na arrecadação de receitas para os cofres de Estado na província de Manica, através do licenciamento de madeireiros. Mas neste sector as metas para este ano podem estar comprometidas.
Só para se ter uma ideia, desde Dezembro do ano passado, os operadores madeireiros estão de mãos atadas, uma vez que as condições das vias de acesso em Machaze não permitem que camiões façam o manuseamento de carga no distrito.