Desde a primeira alvorada de terça-feira, quando ouvi o comentário de Isidro Amade sobre a falta de fundos para viabilizar a participação da selecção nacional de basquetebol sénior feminino no torneio de pré-qualificação para o Mundial, senti que o dia não ia terminar bem!
Estamo-nos a focar no desporto, mas a conjuntura estrutural do país, em todas as vertentes, está em colapso. Desde os juízes, médicos e passando pelos professores que reclamam por melhores condições de trabalho e salários. Vou, no caso particular, cingir-me apenas no desporto sem, no entanto, elencar se é basquetebol, boxe ou mesmo atletismo.
No desporto, pecamos pela falta de apoio do sector privado e, por outro lado, de uma fraca intervenção do Estado, aliado a má gestão ou uma gestao que é feita em função das “lombrigas” que lhes roem os estomâgos. Elenco, a seguir, alguns pontos:
1.Financiamento Insuficiente
Sem o apoio do sector privado, muitas instituições desportivas e atletas não conseguem obter o financiamento necessário para treinamento e competições. Isso pode levar à deterioração das infraestruturas e à falta de equipamentos adequados. A pergunta que faço é: qual o investimento de relevo que foi feito ao nível desportivo? Como esperar resultados diferentes se não apostas e não investes? É como plantar milho e esperar colher cajú…
2 .Falta de programas de formação:
A ausência de investimento pode resultar na falta de programas de formação e desenvolvimento para os jovens atletas, o que limita o processo de surgimento de novos talentos. No basquetebol, os treinadores consagrados são os mesmos de há 20 anos, com a excepção de Leonel Manhique (Mabê) que “rasgou o véu” e uma nova lava de treinadores jovens que se destacam. Na verdade, isto mostra que nada mais evoluiu e paramos no tempo. É preciso reconhecer e olhar para base.
3. Menos oportunidades para os atletas:
Atletas que dependem de patrocínios podem encontrar dificuldades em competir em níveis mais altos, o que pode impactar o desempenho do país em competições internacionais. Rimos do atleta Steven Sabino pela falsa partida na segunda série da primeira eliminatória dos 100 metros inserida no torneio de atletismo dos Jogos Olímpicos 2024 ao invés de o acarinhar, um comportamento que mostra quão pequenos somos. Fazemos barulho, mas somos todos cobardes e merecemos os governantes que temos.
4. Perda de talentos:
Sem o suporte necessário, muitos atletas podem optar por abandonar o desporto em busca de oportunidades em outras áreas, resultando em uma perda significativa de talentos. Vamos continuar a naturalizar jogadores velhos. Não pensamos a longo prazo.
5. Desigualdade nas oportunidades:
A falta de apoio pode acentuar a desigualdade, onde apenas atletas de classes sociais mais altas conseguem acesso às melhores condições de treinamento e competições. A selecção nacional de Tang Soo Do é presença constante nos mundiais que se realizam em todos quadrantes do Mundo, e os atletas trazem resultados positivos para o país. Mas, diga-se, não se enganem porque é tudo custeado com fundos proprios. É um valor que vem do bolso dos pais e encarregados de educação. Por isso, o Tang Soo Do ainda é uma modalidade elite apesar de ser aberta a todos.
6. Diminuição do Interesse público:
Sem o investimento e o apoio do Estado, as iniciativas desportivas podem se tornar menos atraentes, levando a uma diminuição do interesse do público. Quem se vai interessar em apoiar o nosso desporto com as “lutas de comadres” que se propala nos bastidores. A única boa excepção à esta regra é a nova direcção da Comissão de Gestão da Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo, agremiação que é dirigida por jovens que mostra(r)am que, com interesse e vontade, pode-se resgatar a modalidade porque o desporto tem valor. O desporto tem brilho. O que precisamos é de profissionalismo e comprometimento. Mais velhos, saiam e deixem os jovens trabalhar.
7. Dificuldade em oganizar eventos:
A falta de apoio financeiro e logístico pode dificultar a organização de eventos desportivos, que são importantes tanto para o desenvolvimento do desporto quanto para a promoção turística. Os Jogos Desportivos Escolares que deviam ser uma montra acontecem e, depois, o que é feito dessas estrelas que nascem no evento? Porque não se pensar em parcerias com os clubes e devolver a formação de algumas modalidades para as escolas? Seria interessante adoptar modelos como o “Basket Show” e desafios entre escolas. “Ops”, esqueci que nas escolas públicas as horas dedicadas à educação fisica diminuíram…
8. Impacto na saúde pública:
A falta de apoio ao desporto pode levar a um estilo de vida menos activo na população, aumentando problemas de saúde relacionados com sedentarismo.
Num caos social em que estamos a viver, queremos legalizar o consumo da suruma. Essa cortina de fumo que nos querem impingir é mesmo para levar Moçambique ao abismo.
A combinação entre o sector privado e do Estado é crucial para promover um ambiente desportivo saudável e sustentável, que beneficie tanto os atletas quanto a comunidade em geral.