O uso de tecnologias, aposta na educação de jovens e políticas de permitam o acesso fácil à terra são apontadas como soluções para o desenvolvimento da agricultura em África. O posicionamento foi defendido hoje pelo painel que discutiu o tema: “Agricultura como Vector para a Inclusão e Crescimento Sustentável”
Num contexto em que a mecanização da agricultura tem sido preocupação dos governos africanos, para aumentar a produção e a produtividade, Daisry Mathias, Conselheira do Presidente da Namíbia para assuntos da Juventude defendeu que além da tecnologia, os governos devem aproveitar o facto de terem uma população jovem cada vez mais esclarecida.
“Em termos de oportunidades, existem duas alternativas que podem ajudar a região: a primeira é, claro, a quarta revolução industrial, disrupção digital, a tecnologia que nos permite imprimir eficiência mesmo na agricultura; a segunda é o facto de que a nossa região ser a mais nova e é a que regista o mais rápido crescimento económico no continente, a média da nossa idade situa-se nos 19 anos; estamos a aumentar em termos de população educada e estamos cada vez mais a nos urbanizarmos e a abraçar a tecnologia; tudo isto constitui uma oportunidade em termos de acesso ao mercado e ao consumo, 34% da população da SADC está abaixo dos 35 anos e isto faz com que tenhamos um imperativo político e económico de garantir que todos os jovens sejam incluídos no desenvolvimento económico e participem nos programas de desenvolvimento da região”, descreveu Daisry.
O acesso à terra constitui um dos entraves para o desenvolvimento da agricultura em África. Para a conselheira do presidente namibiano, cabe a cada país criar políticas que facilitem o acesso a espaços de cultivo, principalmente para os jovens.
“Penso que uma das formas que os governos africanos têm para potenciar esta prática é reduzir as barreiras excessivas que existem no acesso à terra, pois o custo de acesso a esse activo é alto no nosso continente. Temos que permitir que os jovens empreenderes possam desenvolver as suas ideias, isso pode ser feito através de créditos agrícolas, através de modelos comunitários de agricultura, não precisamos de grandes extensões de terra, porque isso requere custos elevados” detalhou a oradora para depois avançar que os planos de expansão das cidades deve prever essas áreas de cultivo.
“Temos uma tendência imergente que é a agricultura urbana, através da qual temos produtos agrícolas frescos a serem produzidos nas cidades como forma de aumentar a segurança alimentar doméstica. Por isso, defendo que os programas de reassentamento devem ter em conta essa particularidade”.
Por seu turno, Sara Mbango-Bhunu, Directora Regional da África Austral do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura defendeu a aposta, pelos países africanos, de um quadro legal que permita maior acesso a recursos financeiros à mulher para garantir sua inclusão efectiva no sector agrícola.
“Precisamos ter modelos, mulheres que sejam modelos na gestão de Pequenas e Médias Empresas. A transformação do género começa na família, as mulheres têm de ter capacidade e dinâmica de controlar os activos e tomar decisões. Penso que a adopção de uma abordagem múltipla é muito importante. A segunda área importante é o acesso ao capital, muitas mulheres não têm activos, e isso torna-se um grande desafio. No Quénia, por exemplo, recorre-se aos registos do seu telemóvel, e pelo movimento das transações que fazes tem-se uma ideia dos seus gastos, e isto traz confiança aos investidores que vêem capacidades nesta mulher que pretende iniciar-se no mundo dos negócios”, exemplificou para depois acrescentar que:
“Depois vêm os programas de mentoria. Este é um aspecto muito importante e não deve ser subestimado; ser empreendedor não é tarefa fácil, o individuo tem que ser capaz de gerir o pessoal, gerir bens, tem que ser capaz de interpretar o quadro legal em vigor, estas habilidades são muito importantes. Não basta dar formação vocacional à mulher, é preciso sim, formar a ela em matérias de gestão, liderança e confiança”.
Noutro desenvolvimento, a oradora disse ser importante potenciar a troca de experiências para que consigam ter mais ganhos na agricultura.
“Na minha instituição, nós apoiamos a partilha de conhecimentos e cooperação técnica sul-sul. Temos uma área que cuida desse aspecto, identificamos as áreas e fazemos a combinação. Por exemplo, temos estado a apoiar um intercâmbio entre a Etiópia e o Quénia, através do qual o governo Etíope está interessado em conhecer as políticas, os preços e todas as nuances à volta da agricultura no Quénia, que é uma referência nestas matérias. Temos também o exemplo do Uganda e Quénia que também partilham informações, mas é importante realçar que este intercâmbio não se deve limitar só entre os países Africanos, deve ser extensivo a outros continentes”, terminou