Livro do escritor brasileiro Mário de Andrade será celebrado numa leitura dramática marcada para noite de sábado, na capital do país.
Homenagear Mário de Andrade. Esta é a intenção dos actores Expedito Araújo e Lucrécia Paco. Para o efeito, os dois artistas vão realizar uma leitura dramática com base num dos livros mais afamados da literatura brasileira: Macunaíma. O espectáculo de celebração da escrita de Mário de Andrade está programado para iniciar às 19 horas de sábado, no Centro Cultural Brasil-Moçambique (CCBM), na baixa da cidade de Maputo.
A homenagem a Mário de Andrade na capital do país, de acordo com Expedito Araújo, actor brasileiro cá residente, foi idealizada porque tanto em Moçambique como no Brasil os momentos políticos são confusos, o que desencadeia uma reflexão que se pode robustecer com a leitura do livro Macunaíma por ter um forte cunho político.
Mário de Andrade é uma das grandes referências do Modernismo Brasileiro, cuja obra é muito bem conhecida em Moçambique. Mas por quê homenageá-lo com um trabalho alicerçado à obra literária Macunaíma, além de ser um marco brasileiro? Araújo justifica: “porque Macunaíma tem relevância singular: de enredo, nunca visto antes, de métrica e de construção das frases e com dissílabos e trissílabos numa mistura incrível que nunca vi igual”.
Por se tratar de uma apresentação, Expedito Araújo e Lucrécia Paco optaram por ter textos livres no papel para o que o actor brasileiro considera “jogar mais em cena” fique garantido. O formato do espectáculo, com efeito, será de interpretação dramática potente dos dois actores num cenário iluminado por velas e tochas. Como se impõe, o palco será o espaço da narração da história recontada a dois, pelos actores. No caso, quase num realismo fantástico, garante o brasileiro, sublinhando que Macunaíma é uma ferramenta para a transformação da sociedade: “acredito no teatro que é arte. Se não provocar, não é arte. Macunaíma faz reflectir pelo novo e pela diferença e transforma. Estamos trabalhando a interpretação de forma a ser genuína e palatável a todo tipo de púbico”.
O espectáculo intitulado Macunaíma terá uma duração que varia entre 50 e 60 minutos, e, antes da leitura dramática, o evento vai arrancar com um trecho do filme brasileiro com o actor Grande Otelo no papel.
O espectáculo está a ser preparado há mais ou menos dois meses. Mas por quê a eleita para este duo foi Lucrécia Paco? “Pude conhecer seu trabalho no ano passado. Também pude saber muito de sua forma de pensar e actuar, e seu lugar de artista na sociedade moçambicana e isso me instiga. Nosso encontro se deu de forma harmónica. Tenho actuado com muitos moçambicanos, e tem sido de um lugar muito especial. Não preciso dizer que Lucrécia é uma das damas do teatro moçambicano. Estou feliz neste processo, e penso que ela também. Estamos aprendendo juntos. Na arte do teatro nosso aprendizado se dá até a morte”.
Ainda assim, admite Araújo, foi muito desafiante preparar Macunaíma, por ser um texto bem longo e muito rico. “Por isso foi grande o nosso tempo de seleccionar para essa primeira parte o que iríamos contar. Depois de muito estudo, chegamos juntos a uma conclusão unânime e foi incrível. Não vamos contar a história. Vamos viver alguns capítulos”.
Mário de Andrade nasceu a 9 de Outubro de 1893, na cidade de São Paulo. Foi um autor multifacetado, daí ter investido na carreira de poeta, escritor, crítico literário, ensaísta ou professor de música. É considerado um dos pioneiros da poesia moderna brasileira, com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada, em 1922, o mesmo ano que os modernistas brasileiros realizaram a Semana de Arte Moderna, uma renovação da forma como as manifestações artísticas eram realizadas até aquele período. A sua obra-prima, Macunaíma, foi publicada em 1928. Além deste, Andrade é autor de: A Escrava que não É Isaura, Primeiro Andar, Ensaios Sobra a Música Brasileira, O Movimento Modernista, O Carro da Miséria e Contos Novos. Mário de Andrade morreu a 25 De Fevereiro de 1945.