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Eusébio Johane N’Tamele e a inauguração do edifício do ARPAC na província de Gaza

Se Eusébio Johane N’Tamele (Zeburane), estivesse vivo, completaria hoje 90 anos.

Hoje, o Governo, em Gaza, através da Ministra da Cultura e Turismo Eldevina Materula, irá inaugurar o novo edifício do ARPAC, uma infraestrutura moderna que vem conferir cada vez mais dignidade à cultura na província.

O leitor poderá estar a se questionar sobre o nexo de causalidade entre uma notícia e a outra. Assiste-lhe a razão! Porém, se analisar com um pouco mais de cuidado, tendo em conta uma das atribuições próprias desta instituição, que é de “pesquisa, arquivo e divulgação sistemática, dentro dos parâmetros cientificamente reconhecidos, da cultura e do património cultural dos moçambicanos, com a finalidade de estudo, educação e deleite”, aí poderá perceber a ligação entre as duas.

 É que, se levarmos em conta que Gaza viu nascer um dos grandes vultos da música moçambicana, que é Eusébio Johane N’Tamele, e no entanto, pouco se sabe ou se conhece dele e da sua obra, então, concluímos que é altura de estudá-lo com mais profundidade e dentro dos parâmetros científicos reconhecidos, como forma de conferi-lo a grandeza, a legitimidade e o direito que tem como grande músico.

Eusébio Johane Ntamele, ou simplesmente Zeburane, tinha admiração por Feliciano Ngome e Mahecuane Macuvele, também nascidos em Gaza, o primeiro, proto-marrabentista, que dá cara ao disco The Forgotten Guitars From Mozambique (do etonomusicólogo Hugh Tracey), e contém o maior número de canções nesta colectânea, e o segundo, um dos que apurou a linha de execução de Marrabenta. Estes dois Gazenses, como Zeburane, também merecem e devem ser estudados.

Mas voltando para Zeburani, sabemos que ele inspira grandes músicos. Os acordes da sua guitarra e os timbres vincados dos seus sons, a sua temática de estima e valorização da figura da mulher, a sua canção de uma beleza singular, fazem dele um nome de eleição, contudo, pouco conhecido entre muitos moçambicanos.

Hoje, a música Pandza e afins, herdou a linha de execução de guitarra de Eusébio Johane N’Tamele(um som cuja vibração das cordas lembra o bandolim), mas muitos não sabem, porque nunca ninguém lhes disse, nunca foram informados e nem formados, assim como nunca foi estudada esta linha para o seu aprofundamento e aperfeiçoamento adequado.

 Um dos maiores legados de Zeburane é a sua canção de exaltação do feminino sofredor, que chora de forma permanente as dores próprias do lar conjugal, firme nos seus deveres, procurando a correcção do seu companheiro. Sabemos que Zeburani é inspiração de grandes nomes da música moçambicana como Wazimbo, José Mucavele, Salimo Mohamed, Hortêncio Langa, Aniano N’Tamele (suspeito por ser filho do mestre), Roberto Chitsondzo dentre muitos outros, alguns com conhecimento e reconhecimento disso, e outros nem por isso.

 O ARPAC em Gaza, terá também este papel de correr atrás deste e de outros nomes como Feliciano Ngome, Aurélio Nkovano (Ntonganhane), José Matirandze, José Mucavele, Alexandre Langa, Francisco Mahecuane, Alberto Mhula, António Marcos, Daniel Langa, Hortêncio Langa, Pedro Langa, Mário Ntimane, e muitos outros que Gaza viu nascer e deixaram suas marcas, no entanto, não estudadas convenientemente e não divulgadas para o deleite dos demais.

Hoje, Gaza irá celebrar duplamente, mas sempre a concorrer para um único objectivo: a valorização da nossa cultura e a recuperação dos saberes da nossa rica terra.
Avante Gaza!

 

Por Amosse Macamo
Secretário de Estado de Gaza

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