O País – A verdade como notícia

Euro em derrapagem e Moçambique tem pouco a ganhar

Foto: VEJA

O euro está a perder valor de forma histórica, ainda assim, economistas ouvidos pelo “O País” dizem que Moçambique não terá muitas vantagens disso, porque as transacções são feitas em dólar.

As últimas semanas estão a ser marcadas por um facto histórico: o euro está equivalente ao dólar. Esta é a primeira vez em que isso acontece desde que a moeda europeia começou a circular fisicamente em 2002.

Por exemplo, até à última vez em que “O País” consultou, esta terça-feira, o euro valia praticamente o mesmo que o dólar. Em comparação com o Metical, o dólar estava para 63 Meticais e o euro, para 64.

O jornal “O País” saiu à procura de respostas e falou com dois economistas que são unânimes. Muktar Abdul Carimo atribui responsabilidade unicamente à guerra que está a ser movida pela Rússia contra a Ucrânia desde Fevereiro deste ano.

Entretanto, diga-se, a guerra em si não é uma assombração ao euro. O economista explica que, com o conflito, ficou menos seguro investir em países europeus e passou a haver menos entradas. Com isso, o Banco Central Europeu pode ter emitido mais notas, o que fez derrapar a sua moeda. Nada é novo, na verdade. “É normal. Em qualquer país onde haja uma instabilidade, a moeda local tende a perder valor”, descreve Muktar Abdul Carimo.

Já o economista José Manhique encontra mais razões, além da guerra. Manhique recua até 2008, quando houve a última crise financeira. Para ele, os europeus ainda não estavam totalmente recuperados, e o Banco Central Europeu ainda estava a emitir moedas para ultrapassar este problema. “Depois, veio a COVID-19, que também trouxe uma crise e pressões inflacionárias, porque as taxas de juro de referência não podiam continuar como estavam.”

Uma vez mais, mais moeda europeia e menos valor no mercado. E agora a questão que se levanta é se isso tem algum impacto em Moçambique. Na verdade, é quase nenhum. “Eu diria que é marginal. É quase inexistente. As nossas transacções são feitas em moeda estrangeira – dólar e rand. O euro tem pouco, quase nenhum, impacto na nossa economia”, explica Carimo.

Ainda assim, não há razões para que os agentes económicos fiquem de mãos atadas, até porque se abre, agora, uma janela de negócios para os importadores e pode-se estar a fechar para os exportadores que lidam com o bloco europeu.

José Manhique esclarece que, com o euro menos valioso, é o momento de os importadores comprarem mais da Europa e isso seria uma saída para a pressão inflacionária que se regista actualmente.

Em todo o caso, o facto é que a Europa não tem produzido o suficiente para alimentar países como Moçambique. Aliás, eles próprios dependem de importações de outros países para sobreviverem, por isso sofrem pelo facto de não estarem a beneficiar-se, na normalidade, dos hidrocarbonetos russos, no contexto das sanções que têm sido aplicadas devido à guerra.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos