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Estudantes moçambicanos no Brasil queixam-se de abandono por parte da embaixada

Um grupo de pelo menos 70 estudantes moçambicanos no Brasil está indignado com a Embaixada de Moçambique naquele país, por mostrar indiferença e abandono em casos emergenciais.

A gota da água foi a morte de três estudantes nacionais naquele país em que, para a transladação dos corpos, a representação diplomática de Moçambique se escusou de apoiar.

O último caso deu-se a 5 de Julho, com a morte de Henriques Norte, que não resistiu a uma doença que já o afectava. Mesmo assim, 12 dias depois, o seu corpo ainda não foi transladado para Moçambique devido à falta de condições.

Para a transladação do corpo, são necessários cerca de 21 mil reais, o equivalente a 258 mil meticais, segundo Valdemiro Muhala, colega do finado. “Como não dispomos do valor, a universidade dispôs-se a pagar metade e, por isso, submetemos uma carta à embaixada a pedir um auxílio, mas a resposta foi negativa”, contou o estudante.

Na altura, conforme explica Miguel Ali, a alegacão foi de que eles não têm autorização, nem responsabilidade para a transladação do corpo e ainda avançam que a bolsa do estudante que perdeu a vida não prevê essas questões. “Eles estão a fugir da responsabilidade, nós somos representados pela nossa embaixada aqui e, quando dizem que não têm essa responsabilidade e deixam-nos num vácuo, torna-se preocupante”, queixou-se Miguel Ali, tendo acrescentado que “já tivemos um caso do género e enfrentámos as mesmas dificuldades para transladar corpo de um colega e isso não nos deixa tranquilo, porque amanhã situações do género voltarão a acontecer”.

“O País” teve acesso à carta com a resposta da embaixada e nela lê-se que “devido à natureza da bolsa de estudo atribuído ao finado, não está previsto, no seio da CAPES, nenhum financiamento para situação desta natureza (…). A Embaixada de Moçambique não dispõe de rubrica para custear este tipo de despesas”.

Gabriel Vasco, outro estudante, até aceita a justificação da embaixada, mas considera que, para situações do género, as questões burocráticas deviam ser deixadas de lado.

“Quando perdemos alguém, a nossa preocupação é de imediato querer dar um descanso condigno a essa pessoa e a embaixada precisa de compreender que é preciso ter um sentido humanitário e, em caso de morte, há burocracias que precisam de ser eliminadas”, sublinhou Vasco.

Para conseguir o valor, os estudantes, junto da universidade, tiveram de criar dois grupos para fazer uma “vaquinha” e, ainda assim, o valor foi insuficiente.

Entretanto, após a entrevista com os estudantes, “O País” soube que a embaixada já havia dado uma resposta positiva e que vai apoiar na transladação do corpo do estudante moçambicano Henriques.

Para além destas situações, o grupo queixa-se de abandono, burocracias “desnecessárias”, como por exemplo, no momento de tratar documentos. Manuel Cochol contou que os custos para tratar a documentação é três ou quatro vezes mais caros do que quando tratado em Moçambique e o processo é moroso e desgastante.

“É mais preferível arranjar dinheiro, pagar o voo e viajar para Moçambique para tratar esses documentos, mas o processo torna-se mais difícil, porque, para voltar a Moçambique, precisamos também de documentos que nos permitam viajar. Então, são muitos problemas que envolvem a eficiência, a qualidade do oferecimento de serviços e o acolhimento da embaixada às nossas necessidades no Brasil, enquanto moçambicanos.”

Por isso, os estudantes remeteram, esta sexta-feira, uma carta de repúdio aos actos da embaixada considerados de abandono, com a assinatura de 70 estudantes naquele país.

No abaixo-assinado remetido, os estudantes escrevem que “não estamos satisfeitos com a forma como a embaixada tem respondido às solicitações por nós apresentadas”.

O estudante Júnior Rafael diz que o grupo exige uma mudança de atitude, que seja mais dinâmica, mais apática e que se sensibilize com a situação dos seus compatriotas.

Em reacção, sem gravar entrevista, o Embaixador de Moçambique em Brasília disse que não há nenhuma indiferença por parte da embaixada, pois tem prestado apoio necessário aos moçambicanos naquele país.

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