Pedem a minha opinião sobre o que é que se deve fazer para tornar sustentável a Indústria Cultural e Criativa. Esta indústria, da definição que aprendi na obra Indústrias Culturais e Criativas: o que são? Como gerir, da autoria de Matilde Muocha, Zeca Tsamba e Emanuel Dionísio, integra: expressões culturais tradicionais; locais culturais; artes visuais; publicações e mídia impressa; design; serviços criativos; nova mídia, audiovisuais e artes performativas; resumindo, dela fazem parte o património cultural, as artes, a mídia e criações culturais.
Ao que me parece, os métodos para que esse sector tenha uma existência justificável, notável ou apetecível, passam por estarmos cientes da importância de se considerar, tanto ao nível do segmento formal, quanto do informal, que a indústria cultural moçambicana deve mudar o paradigma de abordagem. Para tal, a socialização do produto e entre os intervenientes da indústria é necessária.
Os intervenientes são, para mim, os fazedores (artistas, sujeitos actores); mecenas (sujeitos estimuladores); sujeitos públicos apreciadores ou compradores; influenciadores (entidades de marketing e de publicidade); socializadores, que incluem: dinamizadores da indústria ou, pelo conhecimento que partilham sobre a sua existência e importância, críticos de diferentes índoles – que possam ajudar a conhecer a indústria, fomentá-la e rentabilizá-la, através de um segmento de vendedores.
Todos esses actores devem colaborar na socialização sobre os objectos artísticos e no acto de influenciar para uma boa venda; entretanto, tudo passa por uma boa manufatura de produtos, bem como boas estratégias para venda e angariação de fundos para trabalho (inovação na criação e na forma como o produto final é entregue).
Uma vez que defendo a estratégia da socialização, deixo como exemplo uma experiência pela qual passei, há dias. Participei num evento designado “Dialogarte”. Tem sido organizado pelo filósofo Severino Ngoenha, no Núcleo de Arte, em Maputo. O título dessa conversa específica da qual fiz parte era “Recepção estética”. A iniciativa é bastante inovadora. Para a divulgar, um artista criou uma obra contendo a arte que ilustraria ou inspirada no título do evento. Essa obra ficou exposta na sala do evento. A par disso, dois oradores, um teórico de arte, um artista, falavam, cada um na sua perspectiva, sobre o objecto artístico e na forma como ele pode ser usufruído; ao que se resumiu, grosso modo, que ele tanto pode ser apenas contemplado ou pode, por razões diversas, servir como um objecto utilitário. Falou-se sobre outros assuntos ligados à arte, mas não me deterei sobre eles, porque não são aqui chamados. Um outro interveniente apresentou um trabalho de arte fotográfica ainda em construção. No final das intervenções, seguiu-se um debate e a obra de arte que ilustrava o evento foi apresentada e vendida.
Julgo que nesse exemplo, ficaram conjugadas todas as perspectivas ligadas às indústrias culturais e criativas, nomeadamente: património cultural, o Núcleo de arte com todo o seu acervo de galeria, por exemplo; as artes (a tela que ilustrava o evento e outras constantes da galeria que hospedava o evento); a mídia (o trabalho de arte fotográfica – apresentada em projecção digital e a mídia utilizada para divulgar o evento). Tudo isto está ligado às criações culturais; ambas socializadas a partir de um evento que explicou teoricamente questões ligadas à arte e debateu-as, estimulando o seu fomento, disseminação e venda. No conjunto foi um trabalho de fomento artístico que culminou de modo sustentável em diferentes vertentes.
O que acabei de apontar tem a ver com a arte plástica, entretanto, se se tratasse da literatura, era necessário algo como: fazer-se a formação de leitores, fazer-se a dinamização literária que possa estimular o hábito e o gosto da literatura, ou ainda, que possa despertar o gosto para ler um livro. Esse é um processo de socialização que é antecedido pelo trabalho criativo de um escritor, seguido de um trabalho de edição, por parte de uma editora e da venda do livro. Para esta última etapa, para além do marketing e da publicidade do produto, a crítica literária tem o seu papel a desempenhar, tanto na venda do livro, quanto no estímulo para o ler. Além disso é preciso recordar que a escrita e a edição do mesmo carecem do fomento de um mecenas. Há, portanto, uma série de estratégias interlaçadas cujo trabalho, para tornar a indústria sustentável passa por dar a conhecer o objecto.
São exemplos mínimos, isolados e que integram poucas pessoas, mas que multiplicado poderá tornar a indústria Cultural e Criativa bastante sustentável, desde que o tipo de objectos artísticos a fomentar variem; basta pensarmos em eventos que geram renda para o PIB nacional, tal como o referi na contracapa do livro acima mencionado, nomeadamente: o FEIMA; o Festival Azgo, o Mozambique Fashion Week, no Gwaza Mutini, nos festivais da Mafalala, da marrabenta e do canhu (Maputo cidade e província); Festival de xingomana, da praia de Xai-Xai (Gaza); o msaho de Zavala, Morrungulo, Tofo e Barra, (Inhambane); Festival Cabeça de Velho (Manica); Festival do livro infantil da Kulemba, FLIK (Sofala); a Dança yao ou o Songo Festival (Tete), Festival de Zalala (Zambézia), Niketche e Festival do Lago Niassa (Niassa); on hipiti (Nampula); Mapiko e Festival do Wimbi (Cabo Delgado), entre outros tantos ainda não mapeados.
Urge educar para o prazer pela arte, prazer em contemplá-la e prazer em comprá-la. As estratégias são diversas. Eu defendo a socialização, baseada na máxima: “longe da vista, longe do coração; o que os olhos não veem, o coração não sente…sentindo desencadeia-se toda a cadeia de circuitos de promoção de arte acima mencionados.