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Estado gasta 62 biliões de MT com a desnutrição

Em Novembro de 2011, Glória deu à luz o seu quinto filho. No primeiro contacto com a balança, o Centro de Saúde de Boane (província de Maputo) diagnosticou que a recém-nascida Lídia estava abaixo do peso: 2.1 quilogramas, cerca de 400 gramas abaixo do normal (2.5 kg).

Sete anos passaram e ela cresceu. A energia característica da idade não lhe deixa quieta. Activa e sorridente, encontrámo-la correndo atrás de uma bola, juntamente com os irmãos e amigos, num dos bairros de expansão, no posto administrativo de Mahubo, distrito de Boane.

Apesar de ser uma menina aparentemente normal, desde bebé, o corpo de Lídia “cismou” em não desenvolver como das outras crianças da sua idade. “A Lídia sempre teve problemas de peso, não sei porquê, mas sempre que ia ao hospital, diziam que o peso e a altura não correspondiam à idade dela”, afirmou a mãe.

Com sete filhos e responsável por três netos, Glória, uma viúva de 41 anos, sabe que o facto de ser desempregada não lhe facilita a garantia de alimentação para o agregado de onze pessoas, de que é única responsável.

Aos sete anos de idade, Lídia tem 1.08 metro de altura e 17 quilogramas. De acordo com o Livro de Referência do Ministério da Saúde para o Crescimento de Crianças e Adolescentes, ela tem desnutrição crónica moderada.

Assim como Lídia, muitas crianças crescem com desnutrição crónica em Moçambique, sem se ter noção das consequências deste “problema invisível”. No país, uma em cada duas crianças abaixo dos cinco anos de idade sofre de desnutrição crónica, o que corresponde a 43 por cento da população infantil nessa faixa etária.

A desnutrição crónica caracteriza-se por baixa altura para a idade. Por mais normal que a criança pareça, o seu crescimento é defeituoso, dificulta permanentemente o desenvolvimento de habilidades cognitivas e, mais tarde, aumenta o risco de doenças crónicas, como diabetes e hipertensão.

Nos dias úteis da semana, quando o relógio marca 07h00, Lídia deve estar na sala 7, da Escola Primária Completa Mahubo Quilómetro 14. No dia em que “O País” foi vê-la na escola, o professor Ângelo Assane ensinava aos meninos da turma da 1ª classe como se lê as vogais, elementos de base para aprenderem a ler.

A começar, exercícios de socialização, porém, ao contrário do que habituou a família e amigos, na escola, Lídia é tímida. Chamada ao quadro para, em voz alta, perante os colegas, ler as vogais, as dificuldades não lhe permitem ir além da letra “e”. O silêncio interrompe o seu exercício e o professor ajuda-a a chegar ao fim.

“Ela é tímida, quando está dentro da sala. Muitas vezes, tem dificuldades em aprender e, quando isso acontece, o professor tem que ser paciente, para que ela não fique atrás nas lições”, disse Ângelo Assane, para quem a paciência é a chave para garantir que as dificuldades não sejam, para crianças como Lídia, sinónimo de exclusão.

“A criança tem necessidades nutricionais muito elevadas, porque está em fase de crescimento. A prioridade do organismo é a distribuição da energia para os órgãos vitais e, só depois, para o crescimento e para o cérebro. Se nós temos deficiência de energia nessa fase da vida, significa que o cérebro fica atrofiado”, explica a nutricionista Elda Famba, do Departamento de Saúde Nutricional no Ministério da Saúde.

Estudos indicam que crianças com desnutrição crónica sofrem de problemas como atraso no desenvolvimento motor, no desenvolvimento auditivo e na linguagem, atraso no comportamento social, deficiência na aprendizagem e um nível intelectual inferior, quando comparado a outras crianças, mesmo após a correcção da desnutrição.

A desnutrição crónica é um problema porque paralisa o capital social dos indivíduos, das famílias, das comunidades, de províncias e regiões inteiras. De acordo com os resultados de um recente estudo do governo, todos os anos, Moçambique poderia economizar 62 biliões de meticais em custos com saúde, perdas de produtividade e desistências educacionais, se fosse erradicada.

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