A arte e o desporto juntaram-se no retrato de Eusébio da Silva Ferreira, enquanto jogador de futebol. A longa-metragem Ruth, realizada por António Pinto Botelho e com argumento de Leonor Pinhão, narra a história da maior referência do futebol moçambicano e português de todos os tempos. A obra da Leopardo Filmes, com 105 minutos, foi exibida ontem à noite nas salas Lusomundo da cidade de Maputo, com a presença da actriz que desempenha o papel da mãe do “pantera da Mafalala”: Josefina Massango.
Segundo a actriz, em grande plano nesta história sobre a disputa do passe de Eusébio, envolvendo dois grandes clubes portugueses – Benfica e Sporting –, ser a mãe fictícia do futebolista foi um grande desafio, uma responsabilidade gigantesca, afinal, não se está a falar de uma figura qualquer. É mesmo de Eusébio, e toda a iniciativa de tentar levar-lhe às telas torna-se em princípio soberba.
Ao mesmo tempo que Ruth é a representação do “pantera negra” no período em que deixa a então Lourenço Marques para vencer na metrópole, igualmente, a longa-metragem narra a história de um conjunto de fenómenos que acontecem à volta do futebol. Este é um filme que reflecte a forma como as sociedades, seja moçambicana ou portuguesa, têm tanto de comum como de semelhante. Assim, no papel interpretado pelo actor com naturalidade guineense, Igor Regalla, Eusébio é a ponte que aproxima épocas, latitudes e rivais – atiçando mais as animosidades –, mostrando que, de facto, o futebol é mesmo o ópio do povo.
Neste filme, Eusébio não dá nenhum toque na bola de futebol. Assim quis o realizador, movido por uma explicação partilhada por Ana Pinhão Moura, a produtora Executiva do Ruth que também esteve na ante-estreia: “Tudo começou com a ideia de prestar uma homenagem ao Eusébio – já havia um filme sobre a Amália e sobre a Nossa Senhora de Fátima. Faltava um filme sobre Eusébio, outro ícone nacional que é moçambicano e querido para todos nós portugueses. Quando esta ideia surgiu, tentamos fugir ao óbvio, que é fazer um filme com o actor a jogar futebol, até porque nunca iríamos encontrar um actor que jogasse futebol como Eusébio. Pensamos que até ficaria mal. Então resolvemos fazer uma história sobre Eusébio com um retrato destes dois países”.
A escolha de Josefina Massango, para este filme, aconteceu depois de um casting, no qual a moçambicana foi logo aprovada por ser uma excelente actriz. Além disso, de acordo com Ana Pinhão Moura, a ideia foi sempre escolher uma actriz que fosse capaz de representar a força, inteligência e a coragem que a mãe de Eusébio, que conseguiu gerir o princípio de vida do filho.
Ruth – nome atribuído a Eusébio com o interesse de distrair o Sporting, que também estava interessado no passe do jogador – foi rodado durante cinco semanas em Lisboa e duas semanas e meia em Maputo. Além de Josefina Massango, o filme conta com participação de outros actores moçambicanos, como são os casos de Shaquile Adamugy, que faz o papel de Eusébio ainda criança, e Melanie de Vales.
Embora a bola em campo não seja a ideia desta produção cinematográfica, no final do filme, aí sim, aparecem imagens de alguns jogos do verdadeiro “pantera negra”, que, mal viu o treino do poderoso Sport e Lisboa e Benfica, disse a um colega que iria jogar de caras.
Eusébio da Silva Ferreira nasceu a 25 de Janeiro de 1942 e morreu no mesmo mês do seu nascimento, no dia 5, em 2014.
A produção do filme contou com apoio do INAC e o a estreia da longa-metragem está marcada para hoje, em Maputo.