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“Enquanto não tivermos créditos concessionais para o sector da agricultura, a agricultura não vai desenvolver”

O economista e docente universitário, José Chichava, defende que enquanto não houver créditos bonificados para o sector agrícola, este não vai desenvolver. No seu entender, os problemas do país só poderão ser resolvidos pela agricultura e não pelos recursos naturais.

Há cerca de 45 anos vista como uma das principais soluções para os problemas do país, a agricultura foi lembrada, hoje, por José Chichava, economista e antigo governante, pela sua importância no processo de desenvolvimento.

Chichava que é também docente universitário considera que a solução dos problemas do país não está nos recursos naturais, mas na agricultura que pode acabar com a fome, através do aumento da produção agrícola nas zonas rurais.

“Se os camponeses, a nível das zonas rurais, produzirem, nós vamos resolver o problema da fome. Os recursos naturais são esgotáveis”, considera o docente de Economia de Moçambique da Universidade Eduardo Mondlane.

O economista falava hoje no âmbito dos 45 anos da Independência Nacional no programa Manhã Informativa da STV, tendo abordado o processo evolutivo da economia nacional durante o período.

No seu entender, o que está a faltar no país não é a aposta no sector agrícola, mas, entre outros aspectos, o entendimento de que é preciso financiar a agricultura com pacotes especiais e concretos.

“No passado, quando dissemos que a agricultura devia ser a base e isso continua na nossa constituição, a base do desenvolvimento do país… não basta dizer isso. Porquê? Por uma razão muito simples, numa situação em que nós estamos numa economia centralmente planificada, a pergunta que qualquer produtor faz é: será que esta política também está alinhada com as instituições financeiras e o grande problema começa aí. Hoje, é muito mais fácil o banco apoiar um comerciante do que apoiar um agricultor, porquê? Por causa dos riscos que estão associados à agricultura”, explicou José Chichava.

De acordo com o economista, enquanto não ser resolver o problema de financiamento e dos riscos associados à agricultura, dificilmente o sector vai desempenhar o seu papel. Chichava diz haver necessidade no país de se ser mais prático para que a agricultura seja realmente a base de desenvolvimento.

“Quantas vezes, quando nós vamos a África do Sul, Nelspruit ficamos admirados, do nosso lado, na Moamba vemos apenas mata e quando agente atravessa vê do outro lado tudo verde. Então parece que os outros pensam muito melhor do que nós. O problema não está aí, está em criarmos condições para que os empresários que têm muita vontade em trabalhar na agricultura tenham um apoio, mas um apoio concreto, um apoio real, não é com as taxas de juro. Os nossos bancos não estão preparados para financiar a agricultura, então esse é um paradoxo, se a agricultura é a base. Enquanto nós não tivermos realmente apoio, estou a falar de créditos concessionais para o sector da agricultura, a agricultura não vai desenvolver”, sublinhou o economista José Chichava.

José Chichava justifica a sua posição afirmando que hoje em dia, os riscos para a prática da agricultura são apenas do agricultor, facto que considera “penoso”.

O docente universitário defende ainda que para haver desenvolvimento no sector industrial, deve se apostar na formação técnico profissional. Disse que tal aconteceu no passado, quando o Governo moçambicano decidiu enviar jovens para a RDA onde foram receber formação para depois regressarem a Moçambique para responderem uma necessidade do sector industrial.

“Há pessoas que não sabem quando agente ouve falar do fenómeno ‘madjermanes’, como é que eles surgiram, não sabem porquê. Os ‘madjermanes’ fazem parte de uma aposta correcta que o país tinha de pegar moçambicanos, alguns deles apenas só tinham a 4ª classe, foram enviados para a RDA para que fossem estudar, serem treinados para serem operários qualificados. Tu não podes fazer indústria se não tens operários qualificados. Enão, a ideia qual era, os cursos deles estavam programados de tal maneira que quando eles regressassem para o país, uma fábrica específica estaria aberta para eles serem absorvidos”, lembrou José Chichava.

Para o economista, o plano “bonito” falhou por causa daqueles que chama de “os inimigos da Independência de Moçambique” “que até hoje existem”. “Primeiro, começaram os ataques de Ian Smith que era nosso vizinho, na Rodésia do Sul, contra Moçambique. Depois mais tarde, foi a própria África do Sul com o Apartheid, que começaram a fazer uma sabotagem à economia e criaram aquilo que é hoje a Renamo. História é história, história é inegável. Quando começa a desestabilização económica, o país ficou desestabilizado, a aposta na agricultura já não era possível porque as pessoas fugiram do campo e foram para as cidades”, considera o economista.

Chichava explica que com a situação de desestabilização, grande parte das empresas industriais que o país tinha, que até exportavam produtos, como por exemplo, vagões e geleiras, foram fechadas e os seus proprietários abandonaram o país e não havia capacidade para os substituir.

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