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Encarnar a selecção de 1986 para elevar o nome dos Mambas

O seleccionador nacional, Chiquinho Conde, diz que o objectivo dos Mambas no CHAN da Argélia é colocar o nome e a bandeira do país bem alto e alcançar o sucesso sempre sonhado pelos adeptos. Já os jogadores Nené e Melque, autores dos golos, dizem que o segredo da vitória foi acreditar que era possível e que o foco agora é no jogo diante da Argélia.

Não é todos os dias que se faz história no mundo do futebol. A história faz-se de forma gradual e os Mambas, gradualmente, têm estado a fazê-la no CHAN da Argélia.

Dois jogos, um empate a iniciar e uma vitória no segundo jogo foram suficientes para que os Mambas alcançassem tudo o que nunca antes tinha sido conseguido nos 47 anos da independência nacional.

“Olhamos sempre para a parede, e a parede que conseguimos enxergar neste momento é aquela que conseguimos fazer quando ninguém acreditava que pudéssemos chegar aqui”, diz Chiquinho Conde quando olha para trás, para a caminhada da selecção nacional.

E uma palavra sempre foi presente: “sempre disse aos meus jogadores que é possível nós vermos o que está por detrás da parede. Conseguimos transpor a parede branca e ver a parede verde, as cores da Argélia”.

Com as cores da Argélia, agora se olha para o presente. “Queremos continuar a fazer a história, porque agora conquistámos apenas um terço daquilo que temos. Para muitos, é muito significante, mas para nós, ambiciosos e que acreditamos no nosso trabalho, é pouco”, realça Conde.

 

RESGATAR A MÍSTICA DO PAÍS ATRAVÉS DO SISTEMA TÁCTICO

Chiquinho Conde diz entender os vários questionamentos dos moçambicanos em relação à sua forma de colocar as pedras dentro das quatro linhas. Mas considera que era importante resgatar aquilo que chama de “sistema cultural de Moçambique” que, segundo Conde, muitos pensam que é um 4x4x2.

“Mas é um 4x2x3x1, porque na linha defensiva ficámos com cinco e atacámos com seis ou sete. E depois trabalhámos, com face dos riscos, com 4x1x3x2”, explica em termos tácticos.

Em termos práticos “estávamos a perder, arriscamos e os jogadores portaram-se lindamente, porque tínhamos ensaiado aquele sistema, com Nené como 6, tendo o Dário a 8 e a fazer a ligação 8 e 10 e os dois pontas-de-lanças portaram-se lindamente”.

Ademais, Conde está impressionado com a evolução dos jogadores: “Estudar o jogo, ler o jogo. As pessoas devem perceber que, neste contexto, nem sempre é possível jogar bem”. Até porque “ficamos surpresos porque a maior parte dos adeptos estava a apoiar a Líbia e nós estávamos praticamente a jogar fora e conseguimos calar todo o mundo”.

 

ENCARNAR OS “MAMBAS” DE 1986

Para este sucesso, foi preciso reencarnar a selecção nacional que em 1986 eliminou a Líbia da fase final do primeiro CAN, disputado por Moçambique, no Egipto.

“Comentei antes com o Nico Dangerman que iriamos reencarnar a briosa selecção nacional que em 1986 conseguiu vencer a Líbia no Estádio da Machava, onde se perdeu primeiro em Bengasi por 2-1 e depois conseguimos ganhar em casa por 2-1 e passamos nas grandes penalidades, com golo de Jerry. Felizmente conseguimos resgatar isso”, recorda o seleccionador nacional, que considera que o tempo, agora, é de descansar e desfrutar. “O nome de Moçambique está lá, alto, e queremos catapultar um pouco mais”.

Aliás, este sucesso todo é fruto da união dos jogadores, que sabem perfeitamente a sua missão “e isso é digno de todo um grupo que tem uma missão patriótica agressiva, sabendo perfeitamente quais são as nossas limitações e com quem podemos contar”.

Por isso, Conde lamenta “mais uma vez que as farmácias não tenham suas receitas de paracetamol”.

O seleccionador nacional agradece: “Antes de mais, aos meus jogadores todos, à equipa técnica, ao staff todo que está aqui e aos nossos compatriotas que fizeram força objectiva para nós estarmos neste momento a viver um momento histórico, onde nem o mais optimista dos adeptos acreditava que nós estaríamos nesta competição e quanto mais fazermos quatro pontos”.

 

FOCO VIRADO PARA ARGÉLIA

Os jogadores, esses, autores dos golos dos Mambas, Melque e Nené, falam de um jogo sofrido, mas que valeu pela vitória, pelos golos marcados e pela história feita. “Senti-me mais à vontade, mais solto, e isso ajudou todos a acreditarmos, por isso depois do primeiro apareceu o segundo e o terceiro, porque acreditamos sempre e dedico esta vitória a todo povo moçambicano”, disse Melque, autor do golo do empate e que fez assistência para o terceiro golo.

Nené, que apontou o segundo golo, destaca os três pontos. “Conseguimos o nosso objectivo, que era somar os três pontos. Como o treinador disse, a segunda parte foi muito complicada, mas também conseguimos fazer a nossa história, que foi marcar os três golos que nunca tínhamos conseguido. Agora temos quatro pontos”, disse.

Agora as atenções estão viradas para o próximo adversário, Argélia, próxima sexta-feira quando forem 21h00 de Maputo. “É maior a oportunidade de nós passarmos para a outra fase se ganharmos ou empatarmos o próximo jogo”, disseram os marcadores dos golos.

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