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Embaixador russo em Moçambique diz que as sanções impostas ao seu país não têm nenhum impacto

Foto: O País

Alexander Surikov diz que a operação militar russa na Ucrânia é justa e que tem por objectivo travar o uni centralismo e a ameaça existencial do seu país. O embaixador da Rússia em Moçambique também refere que os “patrocinadores” de Zelensky não estão interessados com os direitos do povo ucraniano, mas sim no seu interesse de colocar a Rússia na mira dos seus ataques a partir da Ucrânia, o último reduto da expansão da NATO naquela região.

Segundo o embaixador da Rússia em Moçambique, Alexander Surikov, a operação especial militar na Ucrânia não é uma qualquer, comparativamente às que ocorreram em outros países onde a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) interveio contra terroristas.

“Não é de relâmpago, não é guerra de aniquilação do inimigo. Aqui se trata de uma operação especial no território de um país vizinho, do povo da Ucrânia que é um povo irmão. Por isso, não há nenhuma tarefa de alvejar civis. Os ucranianos são nossos irmãos”, disse Surikov, reiterando que trata-se de uma acção que obedece os planos do comando do presidente russo, Vladimir Putin.

O diplomata russo explica que “a tarefa primordial desta operação é desmilitarizar, ‘desnazificar’ o regime de Kiev, que durante 8 anos empreendia operações de genocídio contra a minoria russo-falante na Ucrânia que representava, na altura do golpe de Estado em 2014, 40% da população ucraniana.

“Por isso, as tarefas desta operação se realizam de forma normal, segundo os planos do comando”, enfatizou o embaixador.

As conversações que Moscovo tem vindo a manter com Kiev à busca de solução negocial, isto é um acordo, que determina um estatuto neutral da Ucrânia em relação à Nato, com vista a que aquele país não represente um perigo existencial para Rússia, compreendem o cumprimento das tarefas da operação que consiste em desmilitarizar, “desnazificar” (que significa erradicar o neonazismo na Ucrânia) o país, bem como encontrar melhores formas de actuação em relação repúblicas separatistas que não se revêm nas políticas internas do regime de Volodymyr Zelensky, como resultado da rejeição dos acordos de Minsk (Capital da Bielorrússia), há 8 anos, com a mediação da França, Alemanha e Rússia.

Conforme explica Surikov, com os referidos acordos, o governo de Kiev teria que outorgar certo estatuto de autonomia às repúblicas separatistas russo-falantes, entretanto, o documento foi rejeitado.

“O curso do país foi totalmente de uma proibição e hostilização das minorias, e tornar a Ucrânia um baluarte da Nato. Abertamente, os dirigentes da Nato empreenderam uma política de aproximar às fronteiras da Rússia, as suas infra-estruturas militares, que nós consideramos como perigo existencial ao nosso país”, defendeu Surikov para quem a operação militar russa na Ucrânia visa precisamente eliminar estes perigos.

O embaixador reconheceu e lamentou as mortes que ocorreram resultantes da operação militar, mas explica que tal situação não constitui um comando do governo russo. Ele avança que os alvos dos ataques das tropas russas, exclusivamente, são objectos militares, depósitos de armas, pontos de comando, tropas que empreendem acções contra Donbass, com bombardeamento indiscriminado das regiões onde se localizam civis.

 

UCRÂNIA ENTRE RECEIO DE RENDIÇÃO E DESAPONTAMENTO À NATO

De acordo com o embaixador russo em Moçambique, algumas tropas ucranianas já entregaram armas à Rússia e retornaram à vida civil. Ontem, referindo-se à terça-feira, 1000 soldados do exército ucraniano entregaram-se às tropas russas na cidade de Mariupol (com 446 mil habitantes segundo a ONU), porque desde o princípio, o comando de Putin declarou que qualquer militar ucraniano que depuser as armas, firmar a obrigação de não participar mais nas operações militares anti-russas, volta à vida civil. Este facto comprova, segundo Surikov, que o alvo desta operação militar, exclusivamente, são as forças agressivas neonazistas herdeiras da ideologia nazi da Alemanha do período da 2ª Guerra Mundial.

“As raízes destes batalhões ultranacionalistas que nós dissemos que são abertamente nazis, estão na 2ª Guerra Mundial, porque os líderes dos actuais ultranacionalistas ucranianos foram condenados pelo tribunal de Nuremberga (Alemanha) como colaboradores de Adolf Hitler. Estes grupos ultranacionalistas ucranianos, na época (há 80 anos), participaram abertamente em operações de genocídio e matança em massa das populações da Ucrânia, dos judeus e russos”, detalhou o diplomata, como forma de explicar a origem do conflito que ocorre actualmente.

Ainda assim, o embaixador considera que o nacionalismo em si, desde que não seja extremo, não é prejudicial. Todos os países, segundo Surikov, são nacionalistas, porquanto defendem a sua nação e, aqui, não há problema. Mas quando este nacionalismo se afirma superior, ou seja, o ultranacionalismo, que considera que uma certa nação é superior que a outra, por razão da raça, cor de pele, religião ou alguma outra, de tal maneira que não exclui a aniquilação dos outros, considerados inferiores, tal como foi a filosofia do nazismo alemão na 2ª Guerra Mundial, aqui começa o problema, tal como na Ucrânia.

Por isso, a operação contra essas pessoas, defende, contra esta ideologia nazi, se realiza de maneira coordenada, planificada pelo comando russo liderado pelo presidente Putin.

 

DAS BAIXAS E AVANÇOS NA GUERRA

Dados apresentados pelo embaixador russo em Moçambique indicam que, durante todo este período de operação, um pouco mais de um mês, foram cumpridas várias tarefas e libertadas muitas zonas, dos ultranacionalistas. No total foram aniquilados 130 aviões ucranianos, 100 helicópteros, 440 drones de ataque ou de reconhecimento, 240 complexos antiaéreos, 2000 tanques e outros carros de combate e mais de 1000 canhões de grande alcance. Desta forma, a Rússia considera estar a cumprir a tarefa de desmilitarização do regime ultranacionalista, neonazi e pró-nato na Ucrânia.

Apesar dos acordos internacionais vigentes nas Nações Unidas e promovidos pela União Europeia (UE) que limitam a exportação e livre comércio de armas, a Rússia afirma que os países ocidentais e da Europa particularmente, empreendem uma táctica activa de exportação sem limite de armamento pesado para o exército de ucraniano.

Conforme explica o diplomata, abertamente, o ocidente contrasta a reacção russa, de desmilitarização daquele país, o que representa grande perigo ainda, porque o envio descontrolado do armamento pesado e antiaéreo à Ucrânia, pode fazer com que as referidas armas caiam nas mãos de qualquer pessoa, algumas das quais bandidas, que depois, com o mesmo arsenal bélico, podem livremente cruzar fronteiras e atacar outros países europeus.

“São muitos refugiados que saem da Europa, atravessam fronteiras, mas parece que a sociedade europeia não percebe os perigos disto, daqueles nazistas que fogem com armas na mão e depois, ninguém sabe onde vão usá-las, o que aumenta o perigo criminal dentro dos países”, alertou Surikov, referindo que quase 1 milhão de pessoas refugiaram-se na Rússia, maioritariamente ucranianos, em várias zonas do país, fugindo dos nazistas, e que o governo de Putin desdobra-se para prestar assistência humanitária.

“É de lamentar que o regime continue agarrado ao ultranacionalismo que está perto do nazismo e não aceder a um acordo para pôr fim a esta situação. Nós vemos uma incoerência na posição da Ucrânia, porque nas conversações, depois do encontro em Istambul (cidade turística da Turquia), que contou com a participação dos ministros das Relações Exteriores dos dois países, se acordou uma coisa, mas no encontro seguinte, o acordado foi abandonado, e a Ucrânia apareceu com outras ideias. E esta incoerência não contribui na solução do conflito, na busca da paz”, lamentou o embaixador.

 

OPERAÇÃO RUSSA VAI CONTINUAR NA UCRÂNIA

Tudo depende da reacção e abertura da Ucrânia ao acordo de neutralidade em relação a NATO que a Rússia impõe como condição para pôr fim a sua operação militar naquele país, além da necessidade de recuo dos regimes neonazis e ultranacionalistas que o Zelensky e seus aliados europeus tentam implementar. Por isso, segundo o embaixador russo em Moçambique, enquanto persistir a incoerência por parte de Zelensky, a operação russa vai continuar a cumprir todas as metas que consistem na desmilitarização e captura e destruição dos batalhões neonazistas e ultranacionalistas, bem como levar a barra do tribunal especializado todos aqueles culpados de crimes.

“Ainda não se sabe dos detalhes sobre o mecanismo, mas pouco a pouco se formaliza. De momento, a tarefa principal é militar”, frisou Surikov.

 

O OCIDENTE E A PROPAGANDA DE GUERRA NA UCRÂNIA

Muitas informações difundidas pela imprensa dos países ocidentais são “fake news”, tal como sublinhou o embaixador, lamentando o facto de a imprensa russa, a RT e Sputnik, ter sido banida em vários países europeus.

“Esta gente se esqueceu da liberdade de imprensa e de expressão, por isso a imagem é totalmente distorcida.”

Para Surikov, o mundo vê o que a média ocidental mostra.

“Com a ajuda aberta dos países ocidentais que praticamente controlam a média internacional, se lança ao público, uma enorme quantidade de mentiras que são fáceis de provar a sua natureza ‘fake’. Mas aquelas partes que mostram a actuação da Rússia não chegam à opinião pública mundial. Inclusive a imprensa moçambicana mencionou vários casos de bombardeios nas zonas civis, numa estação em Kramatorsk e Bucha perto de Kiev, que temos provas de que foi uma montagem. Já se conhecem pessoas, carros que traziam cadáveres, numa operação com conselheiros britânicos bem conhecidos”, rebateu o embaixador russo.

Segundo explica, na operação em Kramatorsk, com o lançamento de míssil contra uma estação ferroviária, facilmente se prova que o engenho pertence ao exército ucraniano, porque nas tropas russas, já não usam aquele tipo de armamento, que considera ser um modelo antigo.

“E cada um destes episódios de propaganda ocidental, que pintam como actos desumanos das tropas russas são todas fake news”, classificou o diplomata repetindo, que “isto é uma ordem estrita do nosso comandante-chefe das tropas, presidente Putin, as nossas acções militares nunca têm alvos civis”.

A Rússia afirma que tem vindo a enviar comboios às zonas libertadas para assistência humanitária à população em situação de carência, sem água, energia, e telecomunicações, infra-estruturas destruídas pelos próprios exércitos ultranacionalistas ucranianos.

“Este perfil desumano das tropas nacionalistas é bem visível”, reiterou o embaixador que acrescenta que “uma vez terminada a operação vai ser mostrado ao público, com milhões pessoas a testemunharem o que conseguiram ver com seus próprios olhos, quem atirava, cercando civis.

Surikov voltou a afirmar que a Rússia realiza exclusivamente operações contra objectos militares. Trata-se de grandes confrontos. Mais de 100 mil pessoas continuam isoladas na zona oriental daquele país, junto de Donbass. Paulatinamente, as instalações militares ucranianas estão a ser destruídas. Não pode ser uma acção rápida porque não deve envolver vítimas, ou perdas humanas e materiais em ambos lados.

Em adição, Surikov também disse que as tropas russas aplicadas na operação estão numa proporção de 10 para 6, isto é, 6 russos para 10 ucranianos; e 6 para 1, 1 russo para 6 ucranianos, respectivamente. Isto significa, segundo o diplomata, que os efectivos russos na Ucrânia estão em menor número que os ucranianos. Tal facto decorre da estratégia que a Rússia está a utilizar na Ucrânia que consiste no uso de armamento de pontaria exacta e fina, aplicada apenas contra alvos à distância, e não um combate corpo-a-corpo.

Portanto, nas zonas libertadas da Ucrânia, a vida ocorre normalmente. Onde não há instalações militares ucranianas, não há destruição.

Desde o princípio foram tomados sob controlo alvos críticos como instalações de produção de energia nuclear, hidroeléctricas, havendo confrontos apenas em zonas onde há concentração de tropas ucranianas.

 

SANÇÕES “SEM IMPACTO” PARA OS RUSSOS

Neste capítulo das sanções, o embaixador russo começou por esclarecer que a Rússia não foi suspensa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tal como tem vindo a ser propalado, mas sim do Conselho de Direitos Humanos da ONU, um organismo não compulsivo, nem vinculativo.

“É de lamentar que os países tratem a Rússia desta maneira, mas nós sabemos qual foi o preço disso. Sabemos que muitos países foram pressionados, obrigados pelo ocidente, a votarem desta maneira, mas a prova obtida sob pressão não é válida. Por isso, nós temos boas relações com a maioria dos países do mundo. A maioria dos países do mundo não compartilha destas ideias de sanções americanas e europeias, por isso a Rússia não se sente isolada”, comentou o embaixador russo.”

O representante de Putin, em Moçambique, disse que a Rússia tem relações normais com a maioria dos países que representam a maioria dos povos do mundo.

“Sabemos isto e, por isso, estamos tranquilos. Nós não fizemos nada mal a ninguém. A causa desta operação é justa. A causa foi a defesa da minoria do povo russo-falante que foi objecto do genocídio aberto; e a defesa da soberania da Rússia, porque foi abertamente posta sob perigo da aproximação da estrutura militar da Nato, que não é um bloco defensivo, mas militar e agressivo, que já tem historial de guerras; no Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão; que são resultados deste bloco que eles pintam como defensivo, mas que todo mundo sabe que é um bloco sob comando americano que visa o seu papel de dominar o mundo, mas nós não compartilhamos desta ideia de “uni centrismo mundial” e muitos outros países também. E a época de uni centrismo americano no mundo já está em declínio, por isso, aqueles que não entendem isso vão ter um futuro com deficiência e vão ver que isto é uma via errónea”, detalhou o diplomata acrescentando que muitos países apoiam abertamente a Rússia, com simpatia e assegurando a sua boa relação e entendimento, apesar de posição nos organismos internacionais onde são obrigados a votar contra.

“Nós temos recursos suficientes, esforços para aguentar esta pressão. Nós estamos plenamente conscientes de que a causa desta operação é justa. Aqueles que não entendem, podemos explicar-lhes mais vezes. E eu penso que vai chegar o momento onde vamos mostrar todas as provas de genocídio do povo ucraniano pelos ultranacionalistas. As sanções não têm nenhum impacto…e não vão ter. Basta virar o mapa do mundo para ver isso. A Rússia não é um país qualquer, pequeno, limitado em recursos. A Rússia é um continente, que tem vizinhos grandes, um país autossuficiente em caso de necessidade”, afiançou.

 

APROXIMAÇÃO DA NATO JÁ ERA PREVISÍVEL

Ainda sobre a resiliência russa, o embaixador explicou que, na sua história, a Rússia viu tantas agressões, acções de países ocidentais, invasões de Napoleão, de Hitler, entre outras. “O povo russo sofreu muitas guerras e sempre saiu vencedor, por isso que não tenho dúvida que a operação na Ucrânia vai ter sucesso”, garantiu.

Entretanto, o diplomata nega que a Rússia se tenha preparado para a guerra com a Ucrânia.

“Nós não nos preparamos para as guerras, isto é uma outra visão. A guerra não foi preparada. Para nós também foi uma surpresa. Nos últimos 30 anos, a NATO teve 5 ondas de aproximação à Rússia. A Ucrânia foi praticamente o último país por detrás dos planos da Nato. Se no dia seguinte, os Estados Unidos da América quisessem instalar seus mísseis na Ucrânia (convidada para a Nato) já estariam na nossa porta, por isso essa aproximação de perigo já era previsível. Não foi a nossa escola, foi contra as promessas feitas. Por isso, durante algum tempo sabíamos que aconteceria algo hostil ao nosso país e já vínhamos tomando decisões de preparação económica para nossa independência, caso algo como isto acontecesse.

“O nosso país é bastante grande, e geograficamente bem posicionado, mas em casos de surpresa nós sabemos como resolver, temos recursos para aguentar a pressão”, reiterou o diplomata.

 

BAIXAS EM AMBOS LADOS

O embaixador russo lamentou o facto de ser inevitável que durante as operações militares, todos sofram baixas.

Segundo Surikov, nos efectivos russos aplicados na operação foram registadas mais de 1500 baixas, e do lado ucraniano são cerca de 30 mil, metade dos quais feridos e outros aniquilados. Entretanto, fazendo uma análise comparativa, o embaixador considera que a operação teve baixas mínimas, pelo menos até agora.

“Mas são seres humanos, heróis, e por isso, nós cuidamos das suas famílias, porque deixaram suas casas por uma causa justa. Mesmo assim, não queremos mais baixas em ambos lados, embora essa não seja uma escolha, porque enquanto eles retardarem o acordo, tudo é imprevisível. Por isso, quanto antes empreenderem passos concretos e firmes rumo ao acordo com obrigações juridicamente vinculativas de que este país nunca representa perigo para os seus vizinhos, quanto antes chegarem à compreensão da necessidade do acordo, haverá paz. Mas os seus patrocinadores não querem. Para eles, a Ucrânia é campo de batalha para atingir a Rússia”, concluiu o embaixador russo que considerou de correcta a decisão de Moçambique e de outros países africanos, de neutralidade em relação à guerra na Ucrânia.

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