Elísio Macamo diz que é preciso conhecer os problemas para os quais se procura soluções na sociedade. O sociólogo falava hoje durante uma aula inaugural na Universidade Pedagógica de Maputo, onde defendeu que o papel dos académicos é refletir sobre os problemas e não apontar soluções.
Subordinado ao tema “O papel crítico do ensino superior em Moçambique”, Elísio Macamo dirigiu, nesta quinta-feira, a aula inaugural da Universidade Pedagógica de Maputo.
Na ocasião, o académico criticou o tipo de pesquisa usado pelas universidades nacionais.
“O que acontece é que muitas vezes, sobretudo aqui em Moçambique, nós pensamos que pesquisa é apenas pesquisa aplicada.
O que é pesquisa aplicada? Pesquisa aplicada é aquela que conhece o problema e procura uma solução para esse problema. E aqui em Moçambique usamos muito essa pesquisa.
O problema é a corrupção. Então, vamos procurar uma solução para o problema da corrupção. O problema é a falta de desenvolvimento. Então, vamos procurar uma solução para o desenvolvimento. Isso é pesquisa aplicada”, explicou e questionou: “Será que nós realmente conhecemos os problemas para os quais procuramos soluções? Duvido muito. Pegando na questão da corrupção, eu acho que há muita perplexidade em relação à ela“.
Elísio Macamo disse que cabe às universidades entender os problemas na sociedade e não indicar soluções. Por isso, propõe o uso da pesquisa fundamental.
“Nós fazemos pouca pesquisa fundamental. Mesmo nas áreas das ciências naturais, não sei quanto, há pouca pesquisa fundamental. Aquela pesquisa que está preocupada em identificar apenas o problema, em entender o problema, em não procurar uma solução para o problema. Porque, convenhamos, é muito mais fácil para uma pessoa que está fora da universidade, principalmente nas ciências sociais, encontrar solução para um problema bem definido por um acadêmico do que o acadêmico procurando uma solução para o problema que ele definiu, porque o acadêmico não está na vida pública, não está no ministério, não está nesses lugares todos. Ele reflete. Ele reflete o problema“.
Sobre a contribuição dos acadêmicos no debate político, o Macamo destacou dois aspectos: “É preciso ter em conta que, pelo menos as ciências sociais, precisam de uma distância temporal para fazer pesquisa sobre um assunto, para poderem falar com propriedade sobre certas coisas. Não podem falar assim à toa.
A segunda coisa é que não é que não haja assessoria da parte dos acadêmicos, talvez a pergunta que a gente tem que colocar é de saber se o nosso país, o nosso sistema político, está estruturado de uma maneira que permita ouvir aquilo que os acadêmicos têm para dizer”.
Na aula inaugural da Universidade Pedagógica de Maputo, Macamo destacou, também, o desafio de usar a academia para melhorar os debates na esfera pública.