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Eleições intercalares americanas: um teste à administração Trump

As eleições intercalares da próxima Terça-Feira, para a constituição do Senado e da Câmara dos Representantes, os dois órgãos do Congresso norte-americano, apresentam-se como um clássico referendo à Presidência de Donald Trump.

A questão-chave nestas eleições é a seguinte: vai, o Partido Democrata, curar-se das feridas da derrota nas eleições presidenciais de 2016, alcançando vitórias significativas, quer no Senado, quer na Camara dos Representantes? Ou, pelo contrário, serão, os Republicanos, capazes de manter o controlo de ambas as câmaras do Congresso?

Estão em disputa 35, dos 100 lugares do Senado e os todos os 425 lugares na Câmara dos Representantes estão em disputa. Os resultados da disputa serão uma indicação clara do que os eleitores poderão dizer nas eleições presidenciais de 2020.

Regra geral, em eleições camararias, o partido que detém a presidência está na defensiva, pois dois anos após a sua eleição, são sobretudo as suas politicas que estão na mesa do debate, do que as propostas de alternativa da oposição. Nessa perspectiva, os democratas, para quem algumas políticas de Trump atacam as próprias fundações da democracia americana, investem todas as suas energias para uma vitória onde esta parece mais provável: o controlo, precisamente, do principal órgão legislativo da nação, a Camara dos Representantes.

Esta Quarta-Feira visitamos algumas sedes estratégicas, quer dos Democratas, quer dos Republicanos, na capital californiana, Los Angeles. No contacto tido na ebuliente sede da campanha dos Democratas, o senador democrata Kevin de León, usou termos fortes, para enfatizar a relevância destas eleições, ao classifica-las como “históricas”, “únicas”, “sem precedentes na história política americana”, devido à natureza e impacto das questões ora em debate, face às políticas da administração Trump.

E quais são, então, tais questões? Quer nos discursos eleitoralistas, quer nos debates e analises na imprensa, o destaque vai para a migração, o programa social de saúde, o livre controlo de natalidade, em que se situa a questão do aborto, e politicas de ambiente, associadas por sua vez ao crescimento das cidades, incluindo em termos populacionais. “Precisamos de alcançar uma maioria confortável na Camara dos Representates para travarmos a administração Trump, de aprovar mais leis que ponham em causa as fundações da nossa democracia”, enfatiza Kevin de León.

Por sua vez, e abordando agora a problemática da migração,  Christy Smith, que concorre para a Assembleia Estadual da Califórnia, é muito enfática, declarando ser plano dos democratas promover politicas e legislação favoráveis à plena integração dos emigrantes ilegais, garantindo-lhes acesso ao trabalho, de acordo com as condições do mercado.”Nunca imaginei em toda a minha vida ver militares no nosso exército confrontando emigrantes nas nossas fronteiras, muito menos ver crianças separadas dos pais, porque estes não tem documento americano”, enfatiza.

Já do lado dos Republicanos o discurso vai no sentido totalmente oposto: a emigração deve ser estritamente controlada. “É uma questão de sobrevivência da nossa nação!”, diz enfaticamente Shawn Steel, membro do Comité Nacional Republicano de Califórnia, que nos recebeu nos escritórios centrais do aconselhamento jurídico dos Republicanos. “Nenhuma nação pode aceitar, impavidamente, ser invadido por indivíduos não identificados. Sim, trata-se mesmo de invasão a nossa nação!”, sublinha o teatral conselheiro de propaganda Republicano. Ele chega mesmo a comparar a emigração para os EUA, sobretudo a partir de países latino-americanos, às invasões barbaras dos seculos IV e V e diz: “É por isso que quase todos os europeus têm sangue mongol!”

 Por seu lado, Robert Shrum, Director do Unruh Institute of Politics e professor de Ciencia: Politica Pratica na Universidade da Califórnia do Sul mostra-se optimista quanto ao desempenho eleitoral dos democratas, nomeadamente em sede da Camara dos Representantes. Sustenta as suas expectativas em pelo menos quatro factores associados, a saber: uma “indisfarçável” impopularidade do Presidente Donald Trump; uma nova postura discursiva dos democratas que, ao contrario do “desastre estratégico” nas presidenciais de 2016, eles agora falam do que pretendem fazer, em vez de passar o tempo a atacar Trump; e o factor voto das minorias, integradas por latinos e asiáticos, alem dos africano-americanos. O quarto factor seria o voto feminino, incluindo “de mulheres educadas que abandonam o Partido Republicano, “irritadas” com as políticas “hostis” de Trump.

Segundo o Professor Robert Shrum, as políticas de Donald Trump sobre a migração, programa social de saúde e a liberdade reprodutiva da mulher mobilizaram as consciências dos grupos-alvos de tais políticas, e os latinos, que geralmente se abstêm de votar, desta vez parece que, mobilizados pelos democratas, vão votar em percentagens históricas.

Os dados estão lançados, rumo a uma muito provável super Terça-feira, 6 de Novembro.

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