O furto de energia eléctrica e a vandalização de materiais causaram perdas à Electricidade de Moçambique (EDM) de cerca de 1,4 mil milhões de Meticais de 2019 a 2022. Se não houvesse tais furtos, energia em causa podia servir para a empresa fazer mais de 158 mil novas ligações por ano.
Como forma de lançar as festividades do seu 45º aniversário, a Electricidade de Moçambique organizou, hoje, um debate na Cidade de Maputo, com o tema “Vandalização de Material e Furto de Energia Eléctrica”, para desencorajar os actos.
Na ocasião, o director de Protecção de Receita e Controlo de Perdas da EDM, Amilton Alissone, apresentou números tidos como preocupantes sobre o furto de energia eléctrica e a vandalização de materiais da empresa pública.
Segundo dados da empresa, ao longo dos últimos três anos, as perdas por vandalização de equipamentos e roubo de energia aumentaram drasticamente. Em 2019, teve uma perda de 112 milhões de Meticais; em 2020, reduziu para 94 milhões e, em 2021, subiu para 126 milhões de Meticais.
“No que diz respeito à vandalização das infra-estruturas, nós temos uma média anual de prejuízos que rondam nos 120 milhões de Meticais. A tendência é crescente. Tivemos um pequeno abaixamento em 2020 devido às limitações de circulação devido à COVID-19, mas, já no ano seguinte, em 2021, esses números voltaram a disparar e, este ano também, os números já estão elevados. Só agora em 2022, já temos prejuízos à volta de 15 milhões de Meticais”, explicou Alissone.
Trata-se de um problema que impossibilita a firma de expandir a rede pública de distribuição para mais famílias, num contexto em que, segundo o Presidente do Conselho de Administração da EDM, há muita gente no país ainda sem luz.
“A nossa meta é o acesso universal à energia para todos os moçambicanos até 2030, numa altura em que a taxa de acesso através da rede nacional é de 39 por cento, cobertura correspondente a apenas 12 milhões de moçambicanos, ou seja, ainda há muito trabalho por se realizar”, referiu o Presidente do Conselho de Administração da Electricidade de Moçambique, Marcelino Gildo.
Para reverter o cenário, o docente da Universidade Eduardo Mondlane, Carlos Lucas, diz que deve haver mais acções de formação, não só aos consumidores particulares, mas também às empresas que adquirem equipamentos sem olhar para a pressão que vai fazer à rede de distribuição.
“As empresas, muitas delas, quando assinam os contratos não estão preocupadas com o layout do equipamento que vão ter, não querem saber quantos motores é que têm, assinam o contrato e, depois, quando a EDM cobra a energia reactiva, ficam muito preocupadas e começam a falar da qualidade e do custo da energia. Muitas vezes é mesmo falta de equipamento e eu diria, de uma forma geral, formação das pessoas e de todos os consumidores”, referiu o docente.
Já Crispim Amaral, da Proconsumers, Associação de Defesa dos Consumidores, entende que é preciso reduzir a distância entre EDM e seus clientes. “Nós estamos a falar dos atrasos no atendimento ao cliente. Quando o cliente faz uma reclamação, como é que o piquete funciona. Primeiro, os front office, aqueles a quem nós entregamos a informação, que nós ligamos à EDM e falamos com ele. Como é que o front office tem o conhecimento bastante daquilo que acontece no back office”, disse.
Por seu turno, Fátima Bachir, da Polícia da República de Moçambique, que participou do painel de debate, diz que há quadros da própria EDM envolvidos nos esquemas.
“Muitas vezes, os indivíduos que cometem esse tipo de actos têm uma ligação, se calhar, com a instituição, indivíduos esses que contrariam os ideais da EDM. Por um lado, podem ser indivíduos que, por motivos disciplinares, foram despedidos”, referiu Fátima Bachir.
Quem alinha com a Polícia é Júlio Manjate, Presidente do Conselho de Administração da Sociedade do Notícias. No seu entender, há necessidade de purificação dos quadros da Electricidade de Moçambique.
“Eu concordo perfeitamente que é preciso fazer uma purificação das fileiras no nível da EDM, porque há muita ‘bandidagem’ e agente percebe e até conhece pessoas ligadas à empresa que fazem isso.”
As preocupações mereceram uma resposta imediata da EDM. Segundo a empresa, nem todas as pessoas que usam o seu uniforme são seus trabalhadores. Umas fazem parte de empresas contratadas pela Electricidade de Moçambique e outras agem de má-fé. Por isso, a EDM já pensa em apostar em máquinas nalguns casos.
“Achamos que é preciso também envolver alguns meios tecnológicos que temos estado a implementar para substituir o homem neste processo de fiscalização e assim vamos melhorar e captar outras ideias à volta disso”, explicou Amilton Alissone.
No ano passado, a EDM expulsou cerca de 20 trabalhadores envolvidos em actos de roubo e vandalização de infra-estruturas.
No âmbito da comemoração do seu aniversário, a Electricidade de Moçambique agendou a realização de várias actividades, entre as quais, de responsabilidade social, jornadas científicas e de limpeza, bem como actividades desportivas.