O País – A verdade como notícia

O Governo vai alienar 91% das acções do Estado na empresa Linhas Aéreas de Moçambique por negociação particular. O executivo autorizou, ainda, as empresas públicas EMOSE, CFM e HCB a adquirirem a participação do Estado na empresa.

Com o valor a ser arrecadado com a venda das acções do Estado, estimado em 130 milhões de Dólares, o Governo diz que pretende adquirir oito novas aeronaves e investir na reestruturação da empresa.

“Na verdade, aqui está a se dar uma forma indirecta de gestão desta empresa e o que se prevê é que estas empresas utilizem regras de gestão  das empresas de caráter internacional. Desta forma, julgamos que os accionistas poderão não só ter maior controlo sobre o dinheiro que vão gastar,  mas também utilizem regras que vão permitir acompanhar a vida normal da empresa”, explicou o porta-voz do Governo, alertando que, por se tratarem de empresas do sector empresarial do Estado, estas deverão prestar informação periódica ao Governo.

Falando, esta terça-feira, após mais uma sessão do Conselho de Ministros, o porta-voz do Governo, Inocêncio Impissa, disse que serão alocados 8 mil milhões de Meticais para apoiar na reconstrução das infra-estruturas destruídas pelo ciclone CHIDO.

O Conselho de Ministros apreciou, também, o plano de acção dos primeiros 100 dias de governação, que tem como prioridade: Estabilidade Social e Política, Educação, Saúde, Combate à corrupção, Emprego e Juventude, Infraestruturas e serviços públicos, Justiça, Agricultura e segurança alimentar, Crescimento económico e mobilização de recursos e Gestão de recursos naturais. “Algumas destas acções já estão a ser implementadas desde a tomada de posse deste Governo” garante Impissa.

Sobre o ano lectivo que arrancou oficialmente no dia 31 de Janeiro último,  Inocêncio Impissa fez saber que, dos cerca de 13 milhões de livros necessários para os alunos, 12 milhões já se encontram nas províncias e em processo de distribuição para as escolas.

O custo do dinheiro vai manter-se inalterado durante todo o mês de Fevereiro. A decisão é da Associação Moçambicana de Banco.

Quem for contratar, renovar ou renegociar a dívida com o banco no mês de Fevereiro vai passar a pagar uma taxa mínima de 19%, que é prime rate dos bancos, usada como referência pela Associação de bancos. Isto abrange transacções entre os bancos e as empresas e famílias. 

Isto não é nenhuma contrariedade ao anúncio do Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique, que reduziu a taxa de juro de política monetária de 12.75% para 12.25%. Uma espécie de um preço que os bancos pagarão ao Banco Central como juro, se de lá fossem buscar dinheiro. 

Mesmo assim, a Associação Moçambicana dos Bancos olha de forma positiva a redução da taxa  MIMO, pelo Banco Central.

Neste momento, a Associação Moçambicana de Bancos está a fazer o levantamento dos danos causados pelas manifestações, e reconhece ter sido bastante devastada.

Para além da taxa MIMO, o Banco de Moçambique decidiu também reduzir o coeficiente de reservas obrigatórias de 39% para 29%.

Situada em 435,6 mil milhões de Meticais, um aumento de 20,1 mil milhões face a Dezembro do ano passado, O Banco de Moçambique alerta que a dívida pública está, neste momento, num nível muito elevado e precisa de ser controlada, sob risco de se agravar e atingir uma fasquia insustentável. Porém, as reservas internacionais mantêm-se em níveis confortáveis. 

Segundo o governador da instituição, Rogério Zandamela, a quitação da dívida que o país tem no exterior vai depender do comportamento da actividade económica, neste momento descrita como de incertezas, devido aos protestos pós-eleitorais eleitorais que se registam no país há três meses, responsáveis pela devastação de bens públicos e privados.

Zandamela afirma que a retoma da normalidade só pode ser possível “se a economia crescer de uma maneira razoável, aumentado receitas, com uma certa forma de controlo da situação fiscal”, não obstante a necessidade de adequação de políticas cruciais para o impulsionamento da economia.

“Estamos a falar da necessidade de reformas profundas na área do ambiente de negócios, investimentos, de toda uma série de entraves que impedem a economia de arrancar e crescer ao seu potencial. Com certeza, quando essas coisas acontecerem, podemos, com uma certa segurança, afirmar que a economia vai começar a crescer e acelerar”, afirmou Rogério Zandamela.

Para o alcance deste desiderato, o trabalho deve ser multisectorial e abrangente, afirma o dirigente, que aponta o Governo como o guia. Para este, “o controlo da economia é uma agenda ampla, complexa e difícil. Por isso, não só depende do Banco de Moçambique”.

Sobre o impacto dos protestos pós-eleitorais na economia nacional, o Banco de Moçambique não apresenta números, uma vez que a avaliação dos impactos ainda está em curso em várias instituições, mas afirma que o sector em particular foi muito castigado. Os bancos comerciais tentam, neste momento, reerguer-se após a destruição das infra-estruturas.

“É difícil para qualquer um de nós saber como é que vamos sair disso. O que posso dizer é que tudo depende de nós, colectivamente, e, de forma colegial, devemos trabalhar para que essa seja uma realidade do passado. Essas coisas não se resolvem também de um dia ou outro,  porque são, pela sua natureza, de diálogo, de entendimento”, explica Zandamela.

Como resultado das destruições e vandalização de empresas, o banco central não tem dúvidas de que vários bancos irão sofrer devido a créditos mal parados, originados pelo facto de que muitas empresas fecharam as portas e dispensaram boa parte da sua massa laboral.

“Com as danificações da infra-estrutura, não só da actividade, os bancos sofreram muito, é preciso dizer isso. Balcões danificados, ATM que foram severamente danificados, em alguns casos, até algumas viaturas deles foram danificadas, não foram poupadas dessa tensão pós-eleitoral. Então, a crise pode ser muito mais abrangente do que nós pensamos. O crédito malparado vai começar a indicar que há problemas, empresas, famílias, que normalmente pagavam o seu crédito e já não estão em condições de honrar esses compromissos.  Alguns, até conhecemos, têm cara, são coisas abstractas”, concretizou a fonte, afirmando que a inflação pode disparar nos próximos dias.

Rogério Zandamela falava na segunda-feira, em Maputo, durante o evento de anúncio da redução da taxa de juros da Política Monetária, onde o Banco de Moçambique decidiu reduzir a taxa MIMO de 12,75% para 12,25%, uma redução de 0,50% do custo de dinheiro nos bancos comerciais para empresas e famílias.

De acordo com o banco, “a decisão decorre da manutenção das perspectivas da inflação em um dígito, no médio prazo, não obstante o aumento dos riscos e incertezas associados às projecções, com destaque para os decorrentes da tensão pós-eleitoral, o risco fiscal e os choques climáticos.”

Para além desta medida, o Comité de Política Monetária decidiu reduzir os coeficientes de reservas obrigatórias para os passivos em moedas nacionais, de 39% para 29%, uma redução de 10 pontos percentuais. Em moeda estrangeira, a redução foi de 39,50%  para 29,50%. As mexidas vão possibilitar a facilitação e a disponibilidade de mais liquidez para apoiar a economia na reposição da capacidade produtiva e da oferta de bens e serviços.

No encontro, que contou com a presença de quadros do bancos e representantes dos bancos comerciais, o Governo deu a conhecer os níveis de inflação. “As perspectivas da inflação mantêm-se em um dígito no médio prazo. Em Dezembro de 2024, a inflação anual aumentou para 4,15%, depois de 2,84% em Novembro, a reflectir a redução da oferta de bens e serviços decorrente da tensão pós-eleitoral.”

Entretanto, as incertezas associadas às projecções da inflação aumentaram. De acordo com o banco “destacam-se, como factores de aumento da inflação, no médio prazo, os impactos da tensão pós-eleitoral, dos choques climáticos e do agravamento da pressão sobre a despesa pública, num contexto de reduzida capacidade de financiamento”. A instituição explica que o ritmo e a magnitude continuarão a depender das perspectivas da inflação, bem como da avaliação dos riscos e incertezas subjacentes às projecções do médio prazo.

“Patrões” felizes com reduções, mas apontam pecados

Em relação às mexidas da taxa MIMO e reservas obrigatórias em moeda nacional e estrangeira, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique, CTA, diz que as medidas vão facilitar o acesso a empréstimos pelo empresariado. Os “patrões” dizem, entretanto, que o banco central deveria obrigar a banca a estender o prazo para cobrar juros de mora devido ao contexto de crise pós-eleitoral.

Falando em conferência de imprensa, os “patrões” afirmam que a medida é acertada, porém deve ser acompanhada por várias acções e medidas. “Apesar de se tratar de uma medida positiva, que vem trazer algum alívio ao mercado e recuperar, paulatinamente, a confiança, ela peca por ser bastante conservadora, diferentemente da postura assumida no momento da subida da mesma, onde duplicou, e atendendo ao fundamento do Banco de Moçambique para manter as taxas directoras altas, segundo o qual existe um elevado nível de liquidez no mercado”, disse Paulo Oliveira, do pelouro da informação na CTA.

O sector privado, que afirma que esta foi a única medida por enquanto atendida no universo do quadro proposto ao Governo em Novembro passado, acusa o banco central de nada ter feito para melhorar a economia. Segundo o sector privado, “o Banco de Moçambique sugou moeda externa do mercado através das reservas obrigatórias estimadas em 1,8 milhões de dólares. Adicionalmente, o banco central sugou cerca de 286 milhões de dólares através de compras diversas de divisas no mercado.”

De acordo com a CTA, o banco central, em coordenação com o Governo, deve, de forma urgente, arranjar mecanismo de facilitação de pagamentos das dívidas que muitas empresas têm para com os bancos centrais, à margem da queda do ambiente normal dos negócios no país.

“Actualmente no mercado, temos muitas empresas com facturas de importação não pagas há mais de 9 meses e com os respectivos termos de compromisso em aberto. Estes constrangimentos de liquidez em moeda estrangeira poderão afectar o processo de importação de equipamentos e acessórios das empresas afectadas pelas manifestações pós-eleitorais, atrasando, assim, a retoma das actividades produtivas pelas mesmas”, explicou Oliveira. 

Sobre a suspensão de projectos financiados pelos Estados Unidos da América, a CTA e o Banco de Moçambique divergem em observações. Enquanto o sector privado afirma categoricamente que a medida vai penalizar o ambiente de negócios durante o primeiro trimestre do presente ano, o banco central diz ser prematuro fazer tais projecções, uma vez que a notificação dos EUA não contém detalhes suficientes.

Para o director-executivo da CTA, Eduardo Sengo, “sem dúvidas, as actuais medidas decretadas pelos EUA vão afectar a entrada de divisas via projectos paralisados que estavam em curso e que tinham financiamento directo do país hoje liderado por Donald Trump. Reconhecemos que estes projectos também faziam parte da fonte de entrada de divisas e que alimentam as reservas nacionais.”

Tal como o Banco de Moçambique, a CTA tem dificuldades em fazer projecções do crescimento económico a curto e longo prazo devido às incertezas face à onda de protestos no país, porém são unânimes na visão de que as decisões do actual Governo liderado por Daniel Chapo visam implementar políticas urgentes para o aprimoramento da economia bastante lesada pelos protestos-pós eleitorais.

O economista Edgar Chuzi diz que o Banco de Moçambique apareceu no momento certo para reduzir a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) e as reservas obrigatórias dos bancos comerciais, dado que milhares de empresas do sector privado já se encontravam de rastos e a precisar de recuperação após saques e vandalização no âmbito dos protestos pós-eleitorais, mas também algumas sequelas deixadas pela COVID-19.

O banco central anunciou, no passado dia 27, mais uma redução da taxa MIMO, tendo desta vez saído dos anteriores 12,75% para 12,25%, a primeira do ano 2025 após ter feito três reduções graduais no ano passado (2024), mas também anunciou a redução do coeficiente de reservas obrigatórias, de 39% para 29%, a primeira desde Setembro do ano 2023, medidas que aparecem como lufada de oxigénio na economia nacional, bastante fragilizada pelos adventos da situação sociopolítica do país e pelas mudanças climáticas.

Em entrevista exclusiva ao “O País Económico”, o economista Edgar Chuzi saudou a decisão anunciada pelo governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, por entender que se abre espaço para aliviar o serviço da dívida pública e maior circulação da moeda.

“Ora, temos aqui a redução das reservas obrigatórias numa percentagem que eu acho que, numa primeira fase, é aceitável. Isto cria a disponibilidade de recursos financeiros na banca para poder se ceder a terceiros. Ou seja, estas duas medidas não podiam ter sido tomadas num momento melhor que este, altura em que o sector empresarial está a necessitar de recuperação face, primeiro, àquilo que são as vandalizações que conhecemos nos últimos meses, dos protestos pós-eleitorais, mas também sem nos esquecermos que o sector empresarial ainda não se tinha refeito da crise da pandemia da COVID-19, que levou anos sem fim para que pudéssemos conhecer uma recuperação económica propriamente dita”, disse Edgar Chuzi. 

Defende ainda que o banco central tomou a medida certa em relação aos pontos percentuais reduzidos, tendo em vista os riscos oferecidos pelo ambiente político do país.  

“É preciso ver o lado do risco associado. Se a redução fosse muito acentuada, por exemplo, de 2, 3 ou 4 pontos percentuais, havia de existir uma demanda acelerada na busca de créditos que não seriam apenas para revitalizar a actividade económica como em si, mas para pagar outros serviços de dívidas ou despesas ou dívidas internas com trabalhadores, fornecedores, com o risco de não gerar fluxos financeiros para poder cumprir com o serviço da dívida. Não digo que foi apenas esta a razão que ditou esta redução um pouco mais baixa em relação à última redução que nós conhecemos, mas é preciso precaver-se de algumas situações”, explicou o economista.

Edgar Chuze avança ainda que os próximos dias podem ser de bonança para os empreendedores.

“É um ambiente muito positivo para o sector privado, mesmo para as micro, pequenas e médias empresas, porque o custo do dinheiro estará relativamente baixo, e a disponibilidade do mesmo será elevada dentro das instituições financeiras”, avançou.

Uma outra boa nova, segundo o economista, é que, apesar de elevada a dívida pública interna, com maior disponibilidade de dinheiro no sector financeiro, poderão ser concedidos mais créditos ao Estado, para dinamizar as despesas públicas.

“Neste momento, com maior disponibilidade, eu penso que há condições de ceder a ambos os sectores, seja o público, seja o sector privado”, apontou.

Em relação às empresas destruídas no âmbito dos protestos pós-eleitorais e que provavelmente tenham créditos parados, Chuzi entende que a banca e os seus clientes devem renegociar as dívidas e ponderar a possibilidade de ajudar esses empresários a revitalizarem os seus negócios, para que a posterior possam conseguir pagar as suas obrigações, pois, se os empreendimentos não voltarem a fluir, não haverá outra forma de saldar as contas a não ser penhorar as garantias mutuárias.

Apesar de haver maior disponibilidade de dinheiro nos bancos, Edgar Chuzi alerta que as famílias e as empresas devem ter cautela ao contrair créditos, sobretudo os de consumo e explica: “Devemos, sim, demandar fluxos financeiros ou crédito bancário, com projectos bem estruturados, que sabemos que vão gerar fluxos na sua implementação, vão gerar fluxos financeiros para o retorno de alguma actividade. Não aconselharia muito ao crédito de consumo, porque, como vimos, muitas famílias ficaram fora dos seus empregos e têm problemas para poder fazer face às suas obrigações. Uma oportunidade é uma oportunidade. Se eu vir que há uma oportunidade de ter dinheiro a um custo barato e o dinheiro está disponível, é de demandar, mas preciso de reflectir primeiro se terei condições de cumprir com o serviço da dívida, antes de ter a apetência de demandar este crédito”, aconselhou.

Por outro lado, Edgar Chizi recomenda ao governo liderado por Daniel Chapo que olhe para todos os sectores da economia de igual forma, no âmbito da revitalização, mas sem esquecer quais é que foram mais afectados pela vandalização, pilhagem, e ausência de turistas, no caso das estâncias turísticas.

De olhos lançados ao futuro, o analista pauta por uma ideia de diversificação.

“Nós temos de começar desde a agricultura, mas não a agricultura de subsistência. Uma agricultura industrial, um agronegócio que seja sustentável. É um sector que nós sabemos que temos condições climáticas e terras aráveis, mas também temos o sector da indústria, todos esses precisam de ser alavancados para que deixemos de depender pura e simplesmente, ou na maior parte, da questão de extracção mineira. Nós temos de primeiro potenciar o nosso sector privado para que possa concorrer em pé de igualdade com essas grandes economias que fez referência, a China, a América, entre outros”, sugeriu e acrescentou que “o sector privado deve ser um sector robusto, que terá capacidade de gerar rendimentos e pagar o justo imposto, só assim estaremos aí para aquele resultado final que o presidente da república referiu na sua investidura, a independência económica e financeira.”

Refira-se que esta medida do banco central já foi saudada pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), apesar de considerar que é conservadora, especialmente quando comparada com a postura mais arrojada adoptada aquando do aumento da taxa.

A CTA diz que a redução, pelo Banco de Moçambique, da taxa MIMO e de reservas obrigatórias dos bancos comerciais vão facilitar o acesso a empréstimos pelo empresariado. Os patrões dizem, entretanto, que o Banco Central deveria obrigar a banca a estender o prazo para cobrar juros de mora devido ao contexto de crise pós-eleitoral.

A decisão do Banco de Moçambique em reduzir a taxa de reservas obrigatórias em 10 por cento para a moeda nacional e 10,5 em moeda estrangeira faz parte das exigências feitas pelo sector privado durante o último trimestre do ano passado. A medida é acertada, diz a Confederação das Associações Económicas de Moçambique, CTA, porém afirma que tal devia ser acompanhado por outras medidas.

“Apesar de se tratar de uma medida positiva, que vem trazer algum alívio ao mercado e recuperar, paulatinamente, a confiança, ela peca por ser bastante conservadora, diferentemente da postura assumida no momento da subida da mesma, onde duplicou. E, atendendo ao fundamento do Banco de Moçambique para manter as taxas directoras altas, segundo o qual existe um elevado nível de liquidez no mercado”,  disse Paulo Oliveira, pelouro da informação na CTA.

O sector privado, que afirma que esta foi a única medida por enquanto atendida no universo do quadro proposto ao Governo em Novembro passado, acusa o banco central de nada ter feito para melhorar a economia. Segundo o sector privado, “ o Banco de Moçambique sugou moeda externa do mercado através das Reservas Obrigatórias estimadas em 1,8 milhões de dólares. Adicionalmente, o Banco Central sugou cerca de 286 milhões de dólares através de compras diversas de divisas no mercado.”

De acordo com a CTA, o Banco Central em coordenação com o governo deve de forma urgente arranjar mecanismos de facilitação de pagamentos das dívidas que muitas empresas têm para com os bancos centrais, à margem da queda do ambiente normal dos negócios no país.

“Actualmente no mercado, temos muitas empresas com facturas de importação não pagas há mais de 9 meses e com os respectivos termos de compromissos em aberto. Estes constrangimentos de liquidez em moeda estrangeira poderão afectar o processo de importação de equipamentos e acessórios das empresas afectadas pelas manifestações pós-eleitorais, atrasando, assim, a retoma das actividades produtivas pelas mesmas”, explicou Oliveira. 

Sobre a suspensão de projectos financiados pelos Estados Unidos da América, a CTA afirma categoricamente que a medida vai penalizar o ambiente de negócios durante o primeiro trimestre do presente ano. 

Sem dúvidas as actuais medidas decretadas pelos EUA vão afectar a entrada de divisas via porojectos paralisados que estavam em curso e que tinham financiamento directo dos pais hoje liderado Donald Trump. Reconhecemos que estes projectos também faziam parte da fonte de entrada de divisas e que alimentam as reservas nacionais”, lamentou Eduardo Sengo, Director Executivo da CTA.   

Tal como o Banco de Moçambique, a CTA tem dificuldades em fazer projeções do crescimento económico a curto e longo prazo devido às incertezas face à onda de protestos no país.

O Banco de Moçambique anunciou, esta segunda-feira, que pretende injectar mais dinheiro na economia nacional para apoiar empresas afectadas pela tensão pós-eleitoral. Por isso, decidiu reduzir o coeficiente de reservas obrigatórias de 39% para 29%.

Finalmente, o Banco de Moçambique decidiu responder, positivamente, a uma das maiores preocupações do sector privado nacional, reduzindo o coeficiente de reservas obrigatórias, tanto em moeda nacional como em moeda estrangeira.

Os bancos comerciais eram obrigados a guardar no Banco de Moçambique 39% dos depósitos dos seus clientes em jeito de reservas, como forma de proteger os seus depósitos de eventuais crises, mas agora passam a depositar 29%. 

Com a medida, o banco central pretende disponibilizar mais dinheiro aos bancos comerciais para que tenham capacidade de financiar as famílias, empresas ou ao próprio Estado, por terem sido fortemente afectados pela tensão pós-eleitoral.

“O Comité de Política Monetária decidiu reduzir os coeficientes de reservas obrigatórias para os passivos em moeda nacional de 39% para 29% e em moeda estrangeira de 39,50% para 29,50%, visando disponibilizar mais liquidez para apoiar a economia na reposição da capacidade produtiva”, disse, ontem, o governador do banco central, Rogério Zandamela.

Importa lembrar que desde Maio do ano de 2023 que o Banco de Moçambique não reduzia os coeficientes de reservas obrigatórias. Para já, o Banco de Moçambique diz possuir reservas confortáveis para cobrir necessidades de importação de bens e serviços durante cinco meses. Porém, afirma que o Governo deve pôr a mão na massa para evitar problemas na economia.

“Quais são as reformas subjacentes que vão aumentar a produtividade da economia, que vão aumentar investimento, que vão melhorar o ambiente de negócios, que vão lidar com todos aqueles assuntos que nós conhecemos, entre os quais os problemas da corrupção, o branqueamento de capitais? Há muitos factores por trás do crescimento. Então, é uma agenda ampla, complexa e difícil que pouco depende do Banco de Moçambique”, referiu Zandamela.

No que toca ao crescimento económico, o governador avisa que não se pode esperar muito. “Nossa previsão para o primeiro trimestre seria de perda, no sentido de que tivemos uma situação muito difícil. Na melhor das hipóteses, poderemos ter crescimento zero ou provavelmente negativo. Mas, a partir do segundo trimestre, a nossa expectativa é que a economia comece a crescer e no ano como um todo teremos um crescimento modesto”, disse.

Rogério Zandamela comentou ainda a suspensão do apoio externo pelos Estados Unidos da América. Diz que a medida não é ainda clara para o caso de Moçambique. “Não estou ao corrente que a administração Trump disse que a ajuda a Moçambique vai ser cortada. Então, prefiro não ser pessimista. Conheço situações da minha experiência passada, que até mesmo quando fazem um corte geral, há países que acabam saindo a ganhar. É difícil dizer neste momento, exactamente, o que quer dizer a administração visa viu Moçambique”, considera.

Zandamela voltou a alertar para o agravamento da dívida interna do Estado. Diz que se situa em 435,6 mil milhões de Meticais, um aumento de 20,1 mil milhões face a Dezembro.

A Hidroelétrica de Cahora Bassa alcançou os níveis planeados de produção energética em 2024. Assim, prevê mais um resultado líquido recorde na história da Empresa.

Em 2024, a empresa  produziu um total de 15.753,52 GWh. Como resultado deste desempenho, estima-se que, em 2025, a HCB contribua para os cofres do erário público, entre impostos e taxas, (IRPS, IRPC, IVA e taxa de concessão), mais dividendos, com cerca de 292 milhões de dólares norte-americanos (cerca de 18,5 mil milhões de Meticais).

Segundo uma nota de impresa da HCB, “esta cifra foi atingida num contexto hidroclimatológico adverso caracterizado por uma seca severa imposta pela ocorrência do fenómeno El Niño, cujo impacto negativo levou à adopção e implementação de medidas de gestão da exploração da albufeira, que visavam salvaguardar a segurança hidráulico-operacional da Barragem e infraestruturas conexas, o que permitiu que Cahora Bassa tivesse níveis de armazenamento de água melhores do que as barragens dos países à montante”.

“Apesar dos constrangimentos de ordem hidro-climatológica, como corolário de uma gestão cuidadosa dos recursos da Empresa, assentes em princípios de austeridade e maximização dos ganhos financeiros, dados ainda em processo de auditoria, indicam que o desempenho de 2024 poderá gerar resultados líquidos de mais de 225 milhões de dólares norte-americanos, valores que ultrapassam os registos do exercício económico de 2023 e de toda a história da HCB”, lê-se no documento.

O nível de endividamento do Estado moçambicano continua elevadíssimo, embora com algumas melhorias na última década, após a descoberta das dívidas ocultas em 2016. Depois de situar-se em 113% do Produto Interno Bruto (PIB), a dívida pública, contraída pelo Governo, reduziu até 84% em Setembro de 2024, duas vezes acima do recomendado (40%).

Os dados mais actualizados constam do Boletim Trimestral sobre a Dívida Pública, referente ao período de Julho a Setembro de 2024, publicado em meados do mês de Janeiro corrente na página electrónica do Ministério das Finanças, ex-Ministério da Economia e Finanças.

De acordo com o documento, no terceiro trimestre do ano passado, a dívida pública e garantida pelo Estado aumentou em cerca de 819,35 milhões de dólares em comparação com o segundo trimestre, ao passar de 16 532,04 milhões para 17 351,39 milhões de dólares.

O Governo de Filipe Nyusi, que cessou as suas funções no passado dia 15, considera que a trajectória de crescimento da dívida pública é influenciada, principalmente, pela dívida interna por si contraída, com maior ênfase para a emissão da dívida contraída a curto prazo.

Por seu turno, o recém-criado Ministério das Finanças refere, em nota publicada na sua página electrónica, que o Governo está empenhado em honrar as suas obrigações e continuará a gerir a dívida pública de acordo com a sua Estratégia de Dívida de Médio Prazo 2022–2025.

Segundo a referida nota, o objectivo do Governo é reduzir o serviço da dívida a médio prazo (em 2 a 4 anos) e melhorar o perfil de crédito do país. Por isso, no que diz respeito à dívida interna, diz que estão em curso reformas na estrutura e funcionamento do mercado de títulos públicos, com o objectivo de reduzir a eficiência e os custos de financiamento público.

“Essas reformas incluem, entre outros: introdução de leilões de troca de dívida; e, dinamização do mercado secundário através da introdução de novos instrumentos de emissão de dívida que permitam uma maior participação de investidores institucionais, famílias e particulares”, refere o Ministério das Finanças no documento publicado no dia 22 de Janeiro.

No que toca à dívida externa, o Governo de Daniel Chapo, empossado há menos de uma semana, diz que continuará a envidar esforços para negociar a dívida bilateral, a fim de alcançar os seus objectivos de gestão sustentável da dívida pública.

Lembre-se que, em Abril de 2016, a então directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, justificou a suspensão do financiamento a Moçambique com o facto de haver sinais claros de corrupção escondida por parte das autoridades do país.

Na altura, o Governo enfrentava uma grave crise financeira e de credibilidade no mercado internacional, devido à descoberta de dívidas secretas de aproximadamente 1,4 mil milhões de dólares. Como consequência, o FMI, o Banco Mundial, o G-14, grupo dos países que financiam o Orçamento do Estado, e o Reino Unido suspenderam a ajuda a Moçambique.

No entender do economista Firmino Xavier, é a referida crise, que vigorou entre os anos de 2016 e 2020, que criou espaço para o endividamento excessivo do Estado, dentro da economia nacional, tendo como credores as empresas privadas e as famílias.

“Nessa senda de endividamento, principalmente o interno, foram sofrendo as pequenas e médias empresas e as famílias que necessitam de financiamento para a realização dos seus investimentos. Então, esse crédito que devia ser alocado ao sector familiar e empresarial foi para o Estado”, referiu, na quinta-feira, Firmino Xavier, no programa O País Económico, da STV.

No entender de Xavier, dois anos são suficientes para o Governo tornar a dívida sustentável. Para tal, entende que é necessário alargar a base tributária, reduzindo ou isentando alguns custos para as pequenas e médias empresas para se licenciarem num período de seis meses.

“Nesse período, o Estado podia perder a curto prazo, mas ganhar a longo prazo, porque, depois da sua formalização, tais empresas poderão pagar impostos, o que poderá alavancar as receitas fiscais. Porque, neste momento estão a ser cobradas as mesmas empresas, daí que é preciso abrir espaço”, sugeriu o economista Firmino Xavier, como uma das medidas. 

Outro aspecto importante para Firmino Xavier é a redução da burocracia e do período para a abertura de empresas. “Moçambique é dos países nos quais se leva muito tempo para abrir empresas. Na África do Sul, é só uma semana, em Ruanda são dois dias apenas. Porque nós temos de levar 30 dias ou mais de 60 dias?”, questionou.

Por seu turno, o economista Moisés Nhanombe entende que, além do alargamento da base tributária, é necessário fazer mais para reduzir o endividamento público excessivo. No seu entender, medidas de diversificação da economia são necessárias, bem como a criação de incentivos fiscais.

“É necessário criar incentivos fiscais para sectores que têm maior potencial de empregabilidade, para permitir que as famílias tenham mais empregos e salários, criando, assim, condições para o aumento da procura agregada e pagamento de mais impostos via IVA ou mesmo IRPS. Então, com mais receitas, é possível que o rácio entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) possa reduzir”, sugeriu o economista Moisés Nhanombe. 

Por outro lado, Moisés Nhanombe entende que é preciso que o Estado corte as despesas desnecessárias, como pretende fazer o Governo de Daniel Chapo. “Penso que há um certo exagero nas regalias e nas despesas que o Estado incorre com tais regalias, numa economia onde mais da metade da população enfrenta uma pobreza extrema”, disse, sem assumir quanto tempo será necessário para atingir níveis de endividamento público sustentável.

De acordo com o Cenário Fiscal do Médio Prazo referente aos anos 2025 e 2027, publicado na página do Ministério das Finanças, a dívida pública atingiu 73,8% do Produto Interno Bruto em 2023, o que elevou os custos do serviço da dívida para 3,1% do PIB. 

“Projecta-se que a dívida pública diminua para 67,2% do PIB em 2024 e continue esta trajectória de redução, alcançando 60,5% do PIB em 2025. Esta trajectória reflecte uma estratégia fiscal focada em superávits primários e sustentabilidade fiscal”, indica o relatório.

Dívida interna do Sector Empresarial do Estado aumentou no terceiro trimestre de 2024

O nível de endividamento público do Sector Empresarial do Estado (SEE), no III trimestre de 2024, situou-se em 22 086 milhões de Meticais, representando um aumento de 6,83% (1413 milhões de Meticais), face ao registado no II trimestre do mesmo exercício. 

“Esta variação resulta da expansão do stock da dívida, tanto das empresas públicas em 8,12% (949,27 milhões de MT) como das empresas participadas em 5,16% (463,94 milhões de MT) comparativamente ao trimestre anterior”, avança o recém-extinto Ministério da Economia e Finanças no seu Boletim Trimestral sobre a Dívida Pública de Julho a Setembro de 2024.

De acordo com o documento, as empresas que mais se destacaram para o aumento da dívida interna foram: CFM, cujo saldo aumentou em 1278 milhões de Meticais (17,61%) decorrente da contratação de novos financiamento para investimento em equipamento; EMOSE, que contraiu um financiamento de 237 milhões de Meticais no âmbito da execução da garantia detida junto ao Banco Mais; e a LAM, pelo atraso no pagamento da prestação vencida em Setembro último, no valor de 207,25 milhões de Meticais.

O Governo moçambicano diz estar empenhado em reduzir o serviço da dívida a médio prazo e melhorar o perfil de crédito no país. O anúncio foi feito através de uma nota de esclarecimento do Ministério das Finanças. 

A recém-empossada ministra das finanças, Carla Alexandra Louveira, alertou, sábado, para a urgência de reestruturação da dívida. 

“Um dos desafios que temos é mesmo a gestão da dívida pública. O trabalho que temos de fazer é uma reflexão para a reestruturação da nossa dívida, para que, dentro daquele espaço orçamental, possamos assegurar o pagamento da dívida, mas também responder às necessidades correntes do Orçamento do Estado”, cita o Diário Económico. 

Em reacção, o Ministério das Finanças emitiu uma nota de esclarecimento, na qual esclarece que  “o Governo está empenhado em honrar as suas obrigações e continuará a gerir a dívida pública de acordo com a sua Estratégia de Dívida de Médio Prazo 2022-2025”. 

O documento diz ainda que o objectivo principal do Governo é reduzir o serviço da dívida a médio prazo e melhorar o perfil de crédito do país. 

No que diz respeito à dívida interna, o Governo avança que “estão em curso reformas na estrutura e funcionamento do mercado de títulos públicos, com o objectivo de melhorar a eficiência e reduzir os custos de financiamento público interno”, lê-se no documento. 

As reformas incluem a introdução de leilões de troca de dívida, a dinamização do mercado secundário através da introdução de novos instrumentos de emissão de dívida, que permitam uma maior participação de investidores institucionais, famílias e particulares.

Quanto à dívida externa, “o Governo continuará a envidar esforços para negociar a dívida externa bilateral, a fim de alcançar os seus objectivos de gestão sustentável da dívida pública”, conclui. 

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