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Dois encontros tiveram lugar, na quarta-feira, em Maputo: um, entre a ministra das Finanças, Carla Loveira e a embaixadora da Espanha em Moçambique, Teresa Orjales e outro, entre a ministra e o embaixador dos EUA, Peter Vrooman.

No encontro, Peter Vrooman falou do apoio do Governo americano ao país, entre eles, o Fundo Global, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o Programa Mundial de Alimentação (PMA).

Segundo o Ministério das Finanças, Vrooman lembrou que parte de tais apoios continuam suspensos por decisão de Donald Trump. Contudo, garantiu estar a trabalhar para a continuidade do apoio nas áreas cruciais para o país.

Diante da colocação, a ministra das Finanças comentou que a actual situação de suspensão do financiamento cria desequilíbrios na proposta do Plano Económico e Social e Orçamento de Estado de 2025 (PESOE).

Na ocasião, o diplomata americano questionou sobre a nova estrutura institucional do Governo. “Respondendo à questão, a titular das finanças garantiu que a mesma está centrada em três principais áreas, a reestruturação da máquina governativa; a consolidação fiscal e a boa governação”.

Durante o outro encontro, Teresa Orjales demonstrou abertura do seu país em continuar a apoiar Moçambique nas suas políticas de desenvolvimento e falou da 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento que terá lugar em Sevilha, Espanha, de 30 de Junho a 03 de Julho de 2025.

“Esta conferência será uma oportunidade para acelerar a implementação da Agenda 2030. Vai, igualmente, apoiar a reforma da arquitectura financeira internacional, também vai definir a agenda de financiamento global e avançar os objectivos de desenvolvimento sustentável”, disse a diplomata espanhola.

Por seu turno, Carla Loveira saudou a abertura do Governo espanhol em continuar a apoiar Moçambique e o convite feito para a participação do país na Conferência, já que o país é signatário da Agenda 2030 e tem estado a participar na reforma da arquitectura financeira internacional.

Registou-se um ligeiro aumento do número de pessoas que possuem contas bancárias por cada 100 adultos no IV trimestre de 2024 no país. De acordo com o Banco de Moçambique, passou de 32,5 para 33,0, um incremento de 1,5%.

De acordo com o banco central, o crescimento é impulsionado por factores como introdução da conta bancária base, adesão de instituições ao pagamento por via de contas bancárias a trabalhadores, estudantes e pensionistas.

No relatório, o banco destaca que houve manutenção da tendência de aumento do número de contas de moeda electrónica por cada 100 adultos, que se fixou em 109%, no IV trimestre, após 99% no 3.º trimestre, o que indica que alguns titulares possuem mais de uma conta bancária.

“Este aumento decorre de maior facilidade de acesso e uso, interoperabilidade entre as instituições de moeda electrónica e os bancos, assim como maior divulgação dos produtos e serviços associados”, refere o banco.

Os indicadores apresentam uma análise detalhada sobre o acesso a serviços financeiros em Moçambique, no IV trimestre de 2024, tendo em conta aspectos geográficos e demográficos, com desagregação por género e áreas urbana e rural.

O empresário e político, Agostinho Vuma, lançou ontem, na cidade de Maputo, dois livros. Trata-se de “Diálogo Público-Privado em Moçambique – Impacto na Economia e Guia ao Investidor” e “Liderança, Legado de uma Caminhada”.

As duas obras narram os desafios vividos pelo autor durante os sete anos na presidência da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).

Segundo Vuma, a primeira obra, “Diálogo Público-privado – Impacto na Economia e Guia ao Investidor”, idealizada em 2018, narra os processos de diálogo, encontros e percursos conjuntos entre os líderes do governo passado e o sector privado, com foco em consensos na construção de um ambiente de negócios que favoreça o desenvolvimento e atractividade da economia nacional.

Já na segunda obra, “Liderança, Legado de uma Caminhada”, Vuma rebobina memórias e emoções que se eternizam na sua existência.

“A capa do livro, refiro-me ao livro ‘Liderança, Legado de uma Caminhada’, tem um significado particular. É uma imagem dos pesados factos que tive de carregar e suportar ao longo da caminhada, em particular dos últimos sete anos. Desde as privações de um miúdo de descendência rural às longas e difíceis jornadas para o acesso a uma escola, refiro aqui que estive na UEM como bolseiro, bolsa completa, as limitações financeiras que levam muitos adolescentes a buscarem no comércio informal a sua fonte de subsistência e, assim, jogar o seu papel activo na economia familiar, entre outros.”

Em “Liderança, Legado de uma Caminhada”, Vuma retrata, também, a tentativa de assassinato que sofreu, em 2020, classificando o crime de um acto de ódio.

“Trata-se de uma matéria que muito me marca e afecta, e, para o benefício da mesma sociedade que exerce o seu escrutínio da nossa caminhada, permita-me destacar que a maior motivação do meu homicídio frustrado, de que fui vítima, foi, sem dúvidas, o ódio, a malícia, a inveja, o mau carácter e a consciência de fracassado de seu mandante que via a morte como a única forma de travar uma caminhada que sempre se mostrará sucessiva nas caminhadas também vindouras.

Agostinho Vuma alerta que “assim poderá ser com todos aqueles que aspiram a ser líderes. A caminhada pode constituir um calvário de perseguições, de bullying e diversas manifestações de ódio, inveja e malícia, capazes de deixar marcas de dor e sentimento de revolta para deter o passo. Sempre existirá quem se auto-rejeite e olhe para os seus insucessos e incapacidades como causados porque os supera pela capacidade de liderança e sucesso. Nunca permitam que o bullying, a inveja, o rancor, a malícia vos façam igual. Podem, sim, pausar e questionar, à semelhança do pirilampo a que me referi, as razões da irreverência e persistência das perseguições das diversas serpentes que intentem interromper a vossa caminhada, mas nunca desistir do propósito de continuarem a brilhar”.

As duas obras chegam às prateleiras sob a chancela da editora Afrobooks e foram apresentadas por Salimo Abdula e Fernando Couto, ambos empresários. 

A cerimónia de lançamento contou com a presença de várias personalidades, políticos e empresários.

LUÍSA DIÁLOGO

O diálogo público-privado entre o sector público e privado é uma questão fundamental para o país avançar com a devida rapidez, e é por isso que eu participei activamente nisso. É bom ver que há legados que prevalecem e são enriquecidos, o diálogo que está a ser feito agora, o esforço que é feito pelo governo actual e pela CTA, a mim maravilha-me e inspira-me cada vez mais. Estou satisfeita em ver que aquilo que iniciámos na altura, transformou-se agora numa coisa sólida. O mandato de Agostinho Vuma foi uma mandato de consolidação.

SILVINO MORENO

É um período em que Agostinho Vuma trabalha como presidente da CTA, e acredito que, pelo dinamismo da economia, da maneira como a CTA interveio ao longo desse tempo, acredito que as obras devem ter um conteúdo bom.

SALIMO ABDULA

Ele deixa aí uma experiência, que é um legado interessante, falo da experiência que ele acumulou ao longo da vida, mas principalmente durante o seu percurso dos sete anos na presidência da CTA, no diálogo público-privado, na exposição das figuras que se tornam públicas e depois não estão preparadas. Nós temos de nos preparar como seres humanos, e, quando nos tornamos figuras públicas, como eu digo, quando a árvore cresce, mais vento cata. Então, ao lidar com a inveja, bullying, uma série de coisas que não estamos preparados, depois entramos em depressão.

FERNANDO COUTO

O Vuma, como disse, nasceu de uma família modesta, fez a sua educação à sua própria custa, não veio de nenhum colégio privado, de nenhuma escola no exterior, e é a pessoa que é neste momento, sobretudo para os jovens empresários, devem perceber que, no seu caminho como empresários, há momentos bons e momentos difíceis.

Houve aumento do preço de bens e serviços, em fevereiro passado, influenciado principalmente pelo comportamento dos preços dos serviços de restauração, na ordem de 4,74%. A informação foi divulgada pelo Instituto Nacional de estatísticas, no seu habitual relatório mensal.

O mês de fevereiro foi difícil para os consumidores que procuravam por bens e serviços acessíveis, devido ao incremento de preços que se situou em 4.47%.

De acordo com o relatório mensal do Instituto Nacional de Estatísticas, a subida supera a do mesmo período do ano passado.

“As divisões de Alimentação e bebidas não alcoólicas e de Restaurantes, hoteis, cafés e similares, foram as que tiveram maior aumento de preços, ao variarem com cerca de 11,89% e 6,20%, respectivamente”.

O documento indica ainda os principais centros urbanos que maior subida registaram. A Cidade de Tete, por exemplo, registou o maior aumento de preços com cerca de 6,85%, seguida da cidade de Xai-Xai, com 6,17%. Maputo, que representa a maior parte da amostra, está com 4,74%; a cidade de Nampula com 4,71% e o mais baixo registado foi na Cidade de Quelimane, com 3,45%.

O nosso jornal visitou alguns estabelecimentos de restauração, na cidade de Maputo, para entender as razões do agravamento dos preços. A subida dos preços de matérias-primas, resultantes dos protestos pós-eleitorais é apontada como a principal razão. 

“Inicialmente tudo estava correndo muito bem, tínhamos um bom fluxo da clientela, mas com o decorrer do tempo algumas coisas pararam. Alguns dos nossos fornecedores fecharam, tínhamos fornecedores de ovos, farinha, de trigo, mas infelizmente tivemos que mudar alguns dos nossos fornecedores”,explicou Wilma da Cruz, funcionária de uma pastelaria, ao longo da Avenida Julius Nyerere.

Com a mudança dos fornecedores era preciso ajustar os preços e a empresa da Wilma nao fez diferente.

“Nem todos os nossos produtos tiveram uma escala de subida, um e outro, para poder manter a clientela, porque com a subida dos preços nós também podemos afugentar os nossos clientes. Então para manter a nossa demanda nós tentamos regularizar, subir talvez 10% ou 20% dos nossos preços normais”, avançou.  

A pastelaria da Wilma arriscou na subida de preços, mas houve quem preferiu assumir os prejuízos, sem mexer no bolso dos clientes. Tal é o caso do restaurante gerido por Raquel Lopes. “Sabendo da situação, aumentando o preço é a solução mais viável e é mais rápida, mas também temos que perceber um pouco a situação versus o cliente, não é? E se queremos manter as vendas ao mesmo nível ou perto, o aumento mesmo por parte dos fornecedores,  nós respondemos da mesma forma, para que o cliente acaba por se ver mais essa baixa de vendas. Então tentamos gerir, tanto com o tipo de prato, o tipo de bebida que oferecemos, não perdendo a qualidade, mas sempre adaptando, como eu lhe disse anteriormente, aos ingredientes mais nacionais, deixando um pouco de lado aquilo que é, digamos, o internacional, aquilo que está a nível, que é o nosso nível, a nível internacional, baixando um pouco os produtos desse segmento e usando mais os nacionais”, explicou Lopes.

Apesar de todas as estratégias, o sector de restauração vive incertezas diárias. “Estão complicadas. Não posso dizer que estamos felizes com as contas, nem que está normal, mas realmente conseguimos perceber que houve uma baixa enorme. Mas acredito também pela situação do ramadão, que agora as pessoas, a nível religioso, acabam por só fazer a abertura da refeição à noite. Ainda não posso dizer que está estável. Têm sido momentos de incógnito. Não temos a certeza de nada no momento. Estamos a viver um dia de cada vez”, desabafou Naisse Perreira, gerente de uma cafetaria.

Anaisse coordena uma equipa de jovens que a cada dia assumem a missão de fazer mais vendas para reverter os números. “Temos vários clientes que são turistas e este, infelizmente, não tem aparecido tanto. Então, a nível de contas, é também ir vendo aquilo que nós podemos fazer, reduzir os custos o máximo possível, para conseguir fazer com que a máquina ande.

Aos poucos, os empresários começam a sair de um sufoco que por pouco lhes roubava o negócio. “Foram vários momentos de incertezas. Tivemos alguns dias fechados. E quando estamos abertos, temos sempre aquela incógnita. Como vai ser o movimento hoje? Se fechamos mais cedo por causa da escassez de transporte para os colaboradores? Várias vezes tivemos dificuldade de ter os nossos produtos do dia-a- dia, porque nós trabalhamos com fornecedores locais. Os nossos vegetais, as nossas frutas, são de vendedores locais. E várias vezes os mercados estavam vazios. As pessoas não conseguiam fazer a colheita, não conseguiam trazer, disse Anaisse”.

Devido aos protestos pós-eleitorais muitos empreendimentos fecharam as portas e não tem previsão de voltar a operar. 

As recentes projecções do Ministério das Finanças apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) num intervalo entre 2,9% a 3,0% para 2025, e uma inflação que poderá estabilizar-se em 7,0%. Os dados foram avançados pela Ministra da Finanças, Carla Louveira, durante uma audiência concedida à Directora Adjunta do Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), esta semana, em Maputo.

Os dados avançados pela titular do Pelouro fazem parte dos aspectos que são objectos de avaliação pela missão do FMI que esteve no país, de 19 de Fevereiro a 04 de Março para a 5ª e 6ª avaliações no âmbito do Programa de Facilidades de Crédito Alargado.

A nova projecção do crescimento do PIB de até 3%, está abaixo da anterior projecção que apontava um crescimento de até 4,7%. O Cenário Fiscal de Médio Prazo 2025-2027, divulgado em Junho do ano passado, previa um crescimento 5,5% para 2024 e 4,7% em 2025, depois de em 2023 ter atingido 5,0%.

Aliás, o Cenário Fiscal já previa que o BIP seria afectado pela redução no desempenho do sector extractivo devido ao alcance da capacidade máxima de produção, igualmente no sector agrícola e de transportes e comunicações pelos efeitos climáticos que afectam o seu desempenho.

Assim cai por terra a expectativa de aumento do PIB para o teto de 1,6 bilhões de Meticais em 2025 que consta do documento.

Há também novas projecções em relação à inflação. Segundo Carla Louveira,a subida generalizada de preços poderá estabilizar-se em 7% em 2025.  As projecções anteriores eram ligeiramente mais baixas. “Espera-se que a inflação se mantenha dentro da banda 4,5-5,5% entre 2025 e 2027 alinhada ao objectivo de manter a inflação em um dígito, embora sujeita a pressões de choques de oferta e aumentos nos preços das commodities, especialmente alimentos e energia”, CFMP – 2025-2027.

Fora a nova projecção do PIB, contrária às anteriores previsões, a ministra abordou os desafios do sector fiscal, onde se verificaram desafios na arrecadação da Receita do Estado e contenção das despesas, particularmente com a Massa Salarial e Serviço da Dívida Pública, num contexto de recuperação económica.

Aliás, a Directora Adjunta do Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Senhora Andrea Richter Hume, disse que a missão está muito preocupada com a situação fiscal do país nos aspectos relacionados a arrecadação de receitas e racionalização da despesa publica, massa salarial, dívida pública, e outros pagamentos em atraso”, e por isso mostra total disponibilidade em continuar a trabalhar como novo Governo de Moçambique nestes assuntos.

Por seu turno a Ministra das Finanças fez menção aos progressos alcançados até ao momento, com quatro avaliações bem-sucedidas e desembolsos acumulados de 330 milhões de dólares. 

“Este programa, no valor total de 470 milhões de dólares, tem sido um pilar essencial para a estabilidade macroeconômica do nosso país”, referiu a dirigente para de seguida reiterar o compromisso de continuar a trabalhar com o FMI e outros parceiros internacionais, assegurando uma abordagem focada na consolidação fiscal, crescimento económico e o bem-estar social. 

“O cumprimento dos compromissos assumidos continua a ser uma prioridade, e o Governo tomará todas as medidas necessárias para garantir a confiança dos nossos parceiros e a resiliência da economia moçambicana”  , acrescentou.

A vinda do FMI ao País visava compreender melhor a situação actual e discutir a possibilidade de ajudar o País neste novo ciclo de governação 2025-2029.

 

A META DO PIB TAMBÉM FALHOU EM 2024

A economia moçambicana cresceu apenas 1,9% em 2024, e a queda é justificada pelos impactos das manifestações e protestos pós-eleitorais no país, de acordo com as declarações da ministra das Finanças, Carlas Louveira, falando há dias no lançamento da Linha de Crédito para recuperação pós protestos.

“Estas ações violentas contra ativos públicos e privados impactou negativamente na taxa de crescimento económico, tendo-se situado em 1,9% em 2024, contra os 5,5% que haviam sido programados para este ano de 2024, e 5,4% observado no período homólogo de 2023”.

A ministra também associou a queda ao impacto dos choques climáticos, com destaque para a tempestade tropical severa Filipo, que provocou chuvas intensas, cheias e inundações em algumas cidades e vilas, sobretudo na zona sul.

As palavras da ministra fazem jus ao balanço do Plano Económico e Social referente ao último trimestre de 2024, que descrevem que “a economia moçambicana caiu 4,87% só no quarto trimestre de 2024, em termos homólogos, período marcado pela contestação pós-eleitoral no país”.

Segundo o documento, o Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm) apresentou uma variação negativa de 4,87% no quarto trimestre de 2024, quando comparado ao mesmo período do ano 2023″, 

O projecto Mozambique LNG não está a suspender contratos com as empresas subcontratadas para trabalhar no distrito de Palma, como foi noticiado em alguns órgãos de comunicação social. O presidente do projecto explica que, na verdade, não estão ser renovados os contratos já terminados. 

O esclarecimento sobre a suposta suspensão de contratos das empresas subcontratadas para o projecto de exploração de gás na área 1 da Bacia do Rovuma foi dada pelo presidente do projecto Mozambique LNG, Mazime Rabilloud, depois de um encontro com o governador da província. 

“Todo mundo sabe que ainda estamos numa situação de força maior. Eu posso até algumas perspectivas depois sobre esse tema, mas, num momento de força maior, obviamente que não há ainda o reinício do projecto. Entretanto, estamos a fazer muitas obras  de preservação e de preparação para um reinício. Essas obras não são necessariamente contínuas, tem algumas que têm um início e um fim (…) e infelizmente, quando uma dessas operações são realizadas e chegam ao seu fim, eu tenho uma certa desmobilização, que será seguido depois, para começar novas obras”, disse  Rabilloud.

O Projecto Mozambique LNG foi suspenso em 2021, depois do ataque à vila de Palma, e, até ao momento, ainda não há sinais de retoma. Inicialmente a exploração de gás na área 1 da Bacia do Rovuma tinha como previsão de início 2023, mas devido a ataques terroristas, o projecto continua suspenso. 

O sector informal diz que não faz sentido a sua exclusão da linha de crédito de 10 mil milhões de Meticais para a recuperação pós-protestos eleitorais. Os comerciantes são contra a discriminação e alegam que todos sofreram os impactos dos protestos.

O sector informal tem um peso significativo na economia nacional. Dados do INE de 2021 indicam uma representatividade de cerca de 45% do PIB do país. Ainda assim, os informais não foram contemplados da linha de crédito anunciada pelo Governo. A informação não caiu bem para o sector.

“Se não abrange, é uma discriminação. As manifestações abrangeram todos, ninguém escapou. Então, era, na minha opinião, importante que abrangesse o sector informal. No final das contas, quem desenvolve uma actividade visível e com impacto directo ao consumidor é o sector informal.”

Além disso, os informais criticam o juro aplicado no empréstimo, por considerá-lo elevado, o que, no seu entender, dificulta o ambiente de negócios.

Para ter acesso aos créditos, os bancos deverão solicitar garantias às empresas, e o crédito estará disponível de 01 de Março a 30 de Setembro.

Os empresários dizem que a linha de crédito especial lançada na semana passada, de 10 mil milhões de Meticais para recuperação económica das empresas afectadas pela tensão pós-eleitoral, é bem-vinda, mas as condições impostas não ajudarão  as empresas a recuperarem-se.

Para o presidente do Pelouro de Indústria da CTA e também presidente do Conselho de Administração da Infarma, Evaristo Madime, a taxa de juro de 15% a ser aplicada no primeiro ano, para a realidade actual, não é muito benéfica, visto que há empresas que perderam.

Para Madime, a solução que mais útil neste momento seria uma linha de financiamento com taxas de juro de zero ou quase zero, ou mesmo algo como um “fundo perdido”.

“Para as empresas que estão numa situação em que devem reinvestir  completamente do zero e pensar que têm uma taxa de juros de 15%, acho que é difícil. Você não consegue trabalhar e pagar esse custo e ainda por cima ter uma margem para poder continuar a vida”, disse Madime.

Além da taxa, outra condição é que sejam excluídas as empresas que apresentarem incumprimentos na central de registos de crédito do Banco de Moçambique e outras instituições como INSS e Autoridade Tributária.

Onório Manuel, director-geral da Moz Parks, entende que este ponto deve ser analisado com cautela, porque grande parte das empresas, de Outubro a esta parte, podem estar numa situação de incumprimento, derivada do momento em que o país se encontra.

“Vamos supor que antes de Outubro uma empresa, de Setembro para trás, tenha estado em incumprimento. Esta empresa, sim, pode estar fora daquelas que se pretende que adiram a esta facilidade. Mas para todas as empresas que apresentarem a situação de incumprimento que tenha sido causado ao longo deste período de Outubro até esta parte, é necessário que não se conte como um impedimento”, propôs Onório Manuel.

Já o economista Hélio Cossa diz que, de forma geral, a taxa de juro é boa, quando comparada com a vigente no mercado, mas há factores que dão alguma desvantagem, dependendo de cada empresa. 

O economista aponta, por exemplo, a capacidade das empresas de gerar retornos, tendo em conta as condições associadas ao mercado, o caso da inflação e outros custos de produção.

“Isto tudo depende da capacidade das próprias empresas de gerar fluxos de caixa suficientes para cobrir as suas despesas de funcionamento e também cobrir o serviço da dívida e garantir o retorno do investimento colocado na sua actividade económica.”

Por outro lado, o economista Dimas Sinoia chama, para o sucesso desta linha de financiamento, a intervenção do banco central.

“Se, por exemplo, uma das medidas fosse exactamente a questão do acesso às divisas, isso ia fazer com que as empresas, ao conseguirem estes empréstimos, tivessem um pouco mais de facilidade até na importação e reposição de investimentos que são necessários para a importação”, explicou o economista, que depois acrescentou que esta medida evitaria “congestionamento” na procura de dólares.

A linha de financiamento prevê que, no primeiro ano, a taxa de juro seja de 15%, e, para os anos subsequentes, será a taxa de juro de referência no mercado menos 4%.

Os bancos comerciais anunciaram, hoje, uma linha de crédito de 10 mil milhões de Meticais, para financiar empresas afectadas pela tensão pós-eleitoral. Os valores poderão ser acedidos a uma taxa de juro de 15%.

Trata-se de uma linha de investimento criada para financiar a tesouraria e os investimentos das empresas afectadas pela tensão pós-eleitoral no país. O valor estará disponível em vários bancos. Caberá a estes, fazer a análise do risco de cada empresa com base nos seus procedimentos internos.

Para a tesouraria, o reembolso do empréstimo e o respectivo juro deverá ser feito em 12 meses. Já para os investimentos, o prazo é de cinco anos. Segundo os bancos, a taxa de juro é de 15% para o primeiro ano, e, para os anos subsequentes, será a taxa de juro de referência no mercado menos 4%.

“Tendo presente a dimensão da empresa, o montante máximo que cada empresa pode aceder é de 20 milhões de meticais. Está previsto um mecanismo de controle para assegurar que cada cliente beneficie até o limite de 20 milhões de meticais no sistema financeiro”, disse Teotónio Comiche, presidente da Associação Moçambicana de Bancos.

Para ter acesso aos créditos, os bancos deverão solicitar garantias às empresas e o crédito estará disponível de 1 de Março a 30 de Setembro.

“Das condições de acesso a esta linha de crédito, destaco o seguinte, que seja uma nova operação de crédito para novos negócios ou expansão da atividade, que tenha uma situação fiscal regularizada. Este princípio pretende apoiar a organização do negócio e algumas instituições à sua formalização”, acrescentou Comiche.

Depois de lançada a linha de financiamento esta sexta-feira em Maputo, o sector privado voltou a clamar pela reposição de segurança no país.

“O sector privado defende que a condição básica para a retoma das actividades deve ser associada à medida de segurança. Se se lembram, me referi às 25 medidas que nós propomos, e a segurança era uma delas. Então, nós queremos garantias igualmente da segurança no terreno, queremos ver as questões de segurança, de forma a oferecer um melhor ambiente de negócio para os nossos negócios” reiterou Agostinho Vuma, presidente da CTA. 

Sendo a linha de crédito uma medida de curto prazo, o Governo diz estar a trabalhar para medidas de longo prazo, incluindo a restauração da segurança.

“Reiterar que o Governo está consciente das preocupações com a segurança das pessoas, bem como a propriedade privada e pública, e como isso afecta o investimento e as actividades económicas do dia a dia. E é nesses termos que continuamos a trabalhar para a manutenção da lei e ordem, do resgate da confiança dos investimentos e melhoria do nosso ambiente de negócio”, disse Carla Louveira. 

Dados do sector empresarial privado indicam que cerca de 900 empresas foram afectadas pela tensão pós-eleitoral e há 17 mil empregos perdidos.

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