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É urgente quebrar as barreiras das desigualdades sociais…

Henrique Gouveia e Melo diz que no centro de qualquer sociedade estão os seres humanos, e ela só progride quando as pessoas têm acesso ao desenvolvimento. O almirante Melo falava ontem, em Maputo, num debate sobre Responsabilidade Social 2022 organizado pela Câmara de Comércio Portugal–Moçambique.

Moçambique e Portugal estiveram, esta segunda-feira, no recinto da Fundação Leite Couto, para falar sobre a responsabilidade social 2022.

Intervindo no evento organizado pela Câmara de Comércio Portugal–Moçambique, o almirante Henrique Gouveia e Melo defendeu a ideia de que o centro do desenvolvimento das sociedades é o ser humano.

“O ser humano é que é a sociedade. Não há nenhum grupo de seres humanos ou uma minoria de seres humanos. As sociedades só progridem quando um grande número elevado de seres humanos nessa sociedade tem acesso ao desenvolvimento”, referiu Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada de Portugal.

E para que as sociedades se desenvolvam, Gouveia e Melo diz que é preciso combater as desigualdades sociais. “Todas as sociedades com classes médias fortes são sociedades que se desenvolveram e que estão hoje no topo do desenvolvimento. Sociedades muito díspares, com uma pequena classe média, gente muito rica e gente muito pobre, normalmente, não é uma sociedade desenvolvida”, defendeu o Chefe do Estado-Maior da Armada de Portugal.

Entretanto, o desenvolvimento das sociedades e dos seres humanos não deve comprometer o meio ambiente. “[Nós] – nossa geração, como outras gerações anteriores – somos meros passageiros nesta nave espacial que chamamos de terra e não podemos estragá-la, porque esta nave espacial, se Deus quiser, vai continuar a circular por outros seres humanos. Por isso, a boa governança é o que mais está em causa hoje em dia. Fala-se muito de boa governação – há muita retórica, mas há pouca acção verdadeiramente positiva e actuante”, lamentou Henrique Gouveia e Melo.

E o presidente do Conselho Geral da Câmara de Comércio Portugal Moçambique diz que os dois povos devem agarrar-se à língua os une e cada um fazer a sua parte por um futuro melhor.

“O que nos separa é muito menos do que o que nos une. Devemos explorar o que nos une porque o mundo precisa. Cada um de nós, de certa forma, tem um talento e deve pô-lo ao uso da sociedade, da comunidade e – porque não? –, do uso essencial do futuro bem-estar da comunidade”, apelou Pedro Rebelo de Sousa, presidente do Conselho Geral da Câmara de Comércio Portugal–Moçambique.

Já o vice-reitor da Universidade de Coimbra defende que a academia deve contribuir para quebrar as desigualdades e injustiças sociais. “É que todos comprometidos, todas as universidades, excelentes universidades moçambicanas que há, e portuguesas, devem ter especial compromisso com a sociedade, com o sector empresarial, de lutar por uma igualdade de oportunidades que mitigue as desigualdades, de lutar por um mundo de mais valores, ética, que combata a corrupção, que aprofunda este fosso entre ricos e pobres”, exortou João Calvão da Silva, vice-reitor da Universidade de Coimbra.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros entende que a relação entre Moçambique e Portugal produziu talentos capazes de fazer face aos problemas. “Eu conheço muitos moçambicanos que, se não fosse o resultado desta relação, não teríamos – esses quadros de Moçambique, talentos de grande valor e capacidade de contribuir para a resolução dos problemas de Moçambique”, destacou Leonardo Simão, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros.

Na sua intervenção, Mia Couto destaca a África como um continente produtor de solidariedade. “Nós somos muito vistos como aqueles que devem ser objecto de compaixão porque são vítima; são sempre objecto. Os europeus olham para o africano como alguém que está sempre a pedir, a mendigar. Não estamos sempre a mendigar. Nós produzimos uma grande dignidade que depois não chega à televisão europeia”, protestou o escritor Mia Couto.

As declarações foram feitas no âmbito da terceira Conferência da Economia do Mar, organizada pela Câmara de Comércio Portugal–Moçambique.

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