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“É um orgulho ver o nome de Moçambique no mapa do Rally Dakar”

Inédito! Motivo, claramente, para jubilar. O piloto moçambicano Paulo Oliveira arrancou, sábado, a qualificação para a prestigiante quanto competitiva prova de todo-o-terreno Rally Dakar.

Oliveira alcançou este feito depois de chegar ao pódio (ndr: segundo lugar na classe) e 23.ª posição da classificação geral do rally da Andaluzia, na Espanha.

Radiante com a qualificação para a 43ª edição do Rally Dakar, Oliveira diz-se orgulhoso pelo facto de, pela primeira vez na história, a bandeira de Moçambique constar do mapa deste evento de grande prestígio.

É a primeira vez que um piloto moçambicano alcança o feito de se qualificar para o Rally Dakar. Qual o seu sentimento após alcançar este feito inédito?

Estou muito feliz. Terminámos, sábado, o Rally da Andaluzia que nos dá o passaporte para participar no maior rally do mundo. Conseguimos terminar na 23.ª posição na classificação geral de uma prova que conta com toda a elite mundial do desporto, moto-rally. A prova contou com três categorias. Ficamos em segundo lugar na classe e fomos ao pódio onde pudemos erguer bem alto a nossa bandeira. Portanto, só tenho que estar feliz porque alcançamos o nosso principal objectivo que nos trouxe cá que era nos qualificarmos para Dakar. Em princípio, a prova irá realizar-se em 2022 e não 2021. Para os qualificados, dá a possibilidade de fazermos um outro ano, mas com a COVID não conseguimos nenhuma corrida. Esta foi a nossa primeira corrida este ano. Tínhamos, no nosso calendário, a previsão de fazer uma prova na África do Sul, rally do Marrocos e mais uma prova em Espanha. Achamos, como equipa, que para o ano devemos fazer uma preparação mais equilibrada.

Como é que descreve a prova realizada em Andaluzia, Espanha, que ditou a sua qualificação para Rally Dakar?

Preparamo-nos para este rally. Sabíamos quais eram as nossas dificuldades. Em Moçambique, não temos um campeonato de rally driver, portanto, o andar de moto é contra a navegação. Temos excelentes terrenos e pistas para treinar. Quando faço regularmente os meus treinos, percebo que não temos navegação. Sabíamos que era um grande “handicap” e que toda a nossa concorrência estaria melhor preparada. Ainda assim, durante este ano, fizemos alguns treinos no exterior e cumprimos um estágio em Portugal. Fizemos a preparação para o rally dentro das nossas possibilidades. Começamos nervosos e mesmo assim fizemos uma boa prova na qual ficamos dentro dos 20 primeiros e sétimo da classe. Depois, no primeiro dia da etapa com 400 km, entramos nervosos o que fez com que caíssemos para 28.ª posição geral e 10ª da classe. Entretanto, na segunda etapa, neste caso bastante longa, começamos a ganhar confiança, acertamos a navegação e atingimos um bom ritmo que nos permitiu conquistar alguns lugares. Depois do segundo dia, já motivados e com muita força, começamos a melhorar e foi a subida até ao pódio. Ontem- sábado-, não quisemos arriscar. Havia combinado com a equipa que iria atacar no início da etapa que era para assegurar um bom lugar e classificação. Quando chegamos a meio da etapa de sábado, já estávamos bem classificados e, acima de tudo, não perdemos tempo face aos principais concorrentes. Abrandamos o ritmo e, felizmente, conseguimos aquilo que era o nosso principal objectivo que era a qualificação. E, depois, no final conseguimos chegar ao pódio e a qualificação que me deixou feliz e aos milhares de compatriotas meus que me inundaram de mensagens. Agradeço a todos pelo apoio recebido.

CONTINUAR A ELEVAR BEM ALTO A BANDEIRA DE MOÇAMBIQUE

O que significa para o desporto motorizado no país colocar um piloto no mapa de um dos maiores eventos mundiais?

Significa estar entre a elite mundial. Neste rally, estiveram todos “cabeças de cartaz”, os melhores pilotos de todo o terreno da actualidade, as fábricas, campeões do mundo e da europa. Pela primeira vez, a única bandeira africana e de Moçambique esteve presente na elite mundial. Isso deu-nos um enorme prazer. Isto significa que, quando queremos, conseguimos. É esta a nossa motivação. Queremos continuar a elevar bem alto a nossa bandeira e colocar Moçambique no mapa deste desporto. Eu acho que, após esta participação, temos que incentivar os jovens para que se dediquem, trabalhem e tenham foco. Temos mais um tempo de aprendizagem. Como disse, nós não temos um campeonato nacional de navegação, mas havemos de chegar lá. Eu acho que, com maior insistência e resiliência, podemos conseguir. Este é o resultado desta participação.

O desporto motorizado é oneroso, até porque há uma série de investimentos que se faz para manter a estrutura das equipas. Que apoios tem tido na sua carreira para fazer face a sua participação em provas internacionais?

Nós temos, antes de mais, apoio das entidades oficiais que nos dão todo o suporte institucional. Agradecer, desde já, a Secretaria de Estado do Desporto e ministério da Cultura e Turismo. Nós aproveitamos para fazer um convénio com o ministério da Cultura e Turismo para fazermos a divulgação da imagem do nosso país. Agradecemos também a Secretaria do Estado de Desporto, dentro daquilo que é o entendimento entre o piloto e a Federação Moçambicana de Automobilismo e Motociclismo, que nos deu todo o apoio. Agradecemos ainda o ATCM porque fizemos muitos treinos na sua pista porque este tipo de modalidade temos excelentes terrenos para o fazer ou prepararmo-nos. Nós, regularmente, fazemos algumas incursões em pontos como Maragra, Bilene, Manhiça, onde temos amigos muito unidos que foram percussores para que eu embarcasse nesta caminhada. São pessoas que me deram muita força. Portanto, em termos de patrocínios fechamos com a LAM, que foi uma companhia que nos deu todas condições para que pudéssemos viajar. Tivemos também empresar do sector privado tais como Salvador Caetano, em Moçambique, Intelect Holdings, e sem ajuda deles não seria possível. Evidentemente, e como disse, o projecto é oneroso. Vamos precisar de mais ajuda para continuarmos a fazer mais corridas do Dakar Series para chegarmos ao Dakar bem preparados. Contamos com o sector privado mesmo sabendo que esta altura não é a altura ideal para as empresas fazerem os investimentos devido à fase que estamos a passar. Mas há coisas que não podem esperar. Vamos fazer tudo para fechar o orçamento e podermos estar presentes em algumas provas do Campeonato do Mundo.

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