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E se os homens chorassem?

Homem não chora!!!

Diziam as minhas avós, Carolina e Penina, que já gozam de sono profundo há alguns anos. Serenas e convictas, típico de quem detinha todo ensinamento para a vida, as velhas repetiam o mesmo discurso sempre que me ouviam a choramingar, impelido pelas chatices da infância.

“Lágrimas de um homem são e devem ser escassas, não devem ser vistas por qualquer um.” Costuravam com dizeres como estes, discurso convincente sobre a necessidade de um homem ter que evitar derramar lágrimas por qualquer motivo à vista de todos.

Almocei e jantei esta doutrina por longo período, e realmente a minha geração foi crescendo menos chorão até na extremidade da dor. Fomos moldados a viver como feras insensíveis a qualquer situação da vida. Fomos doutrinados a mantermo-nos firmes sem bambolear até na pior das hipóteses. Não choramos pela falta de pão, não lacrimejamos após perda de lutas na infância, não fomos vistos em prantos até na morte dos nossos mais próximos. E assim crescemos.

Enfim, como dizem, quem não chora de forma normal, de algum modo alivia a sua angústia e daí a grande questão. De que forma os homens aliviam a dor se não podem chorar ou se querem gritar em momentos tensos e típicos, uma vez que não devem ser vistos em prantos?

Cresci faz algumas décadas, e no meu exercício de vasculhar cidades e campos à procura da vida, fui vendo que há locais para tudo nesta vida. Há lugares definidos para fumantes em quase todas instituições públicas e privadas, grandes e pequenas. Há salas predefinidas para orações de todas as religiões. Não faltam casas de câmbio para venda e compra de moedas nacionais e estrangeiras. Há sítios próprios para leituras nas suas diversas facetas como também existem lugares propensos para a prática de sexo esporádico em cada quarteirão, mas juro que nunca vi nenhum banquinho ajeitado e encostado a um sinal de aviso, anunciando local próprio para quem tiver vontade de chorar.

E se os homens chorassem?

Questiona a minha mente, estupefata e assustada com tamanha brutalidade cometida pelos homens nos dias que correm. Homens grandes e pequenos estão cada vez mais terroristas nos seus aposentos. Enquanto alguns tiram a vida das suas cônjuges de formas mais brutal possível, outros inovam, jogam-se nas pontes e rios, só para não se falar dos que se banham com combustíveis para depois enxugar com as chamas.
Há muito homem a chorar e nenhum ouvido, muito menos socorrido na sociedade. A busca das melhores formas de se aliviar de dores sem lacrimejar, tem sido um factor que aniquila os “machos” que seguem mortos vivos no seu anagrama.

Hoje choram sem lágrimas, lhes foi vedado o ensinamento de controlo da dor. Com certeza se gabam as mulheres que em uma sessão de fofoca desanuviam e buscam forças para encarar os desafios da vida. Os homens deviam ser mulheres e passarem pelos encontros entre tias e sobrinhas só para aprender a chorar.

Afinal de contas, que importância têm os ritos de iniciação masculina se os seus intervenientes saem sem tácticas para fazer face a algumas tempestades deste mundo.

Os templos perdem sentido em manter-se conservadoras até para atender questões sociais como educação sentimental do homem. Os homens continuam chorando de formas mais desabridas possíveis, enquanto que os ginásios das esquinas continuam a moldar músculos e não mentes para suportar o peso das adversidades.

E se os homens chorassem?

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