Referindo-se ao que caracteriza a situação do cinema no país, Licínio Azevedo lembrou que o grupo de cineastas em Moçambique é muito pequeno. “A maior parte de nós foi formada, já naqueles anos, no Instituto Nacional do Cinema, como Sol de Carvalho, João Ribeiro e eu próprio, que aprendi fazendo trabalhos práticos. Agora, o que precisamos fazer é apostar na nova geração. Há muitos jovens – e eu tenho visto, alguns formados no IsArc, outros na Universidade Eduardo Mondlane, penso que também tem um curso de cinema –, mesmo sem formação nenhuma na área do cinema, se calhar motivados pelos nossos trabalhos, que têm uma paixão enorme e que têm dado muito de si com pequenas produções interessantes. Esses jovens têm que ter apoio para poderem desenvolver o seu trabalho. Quem sabe no meio desses 20 ou 30 jovens possamos ter no futuro uma meia dúzia de excelentes cineastas fazendo grandes obras no futuro”, sugeriu o autor do premiado Comboio de sal e açúcar.
À imagem de Sol de Carvalho, que não compreende o tão tardio incentivo ao cinema, Licínio Azevedo também lembra que Moçambique tem uma Lei do Cinema, que foi aprovada há dois anos, a qual prevê um fundo, que, agora, com a desvalorização do metical já não deve ser grande coisa. Para o realizador é fundamental que exista um fundo nacional para o cinema e que uma grande parte desse fundo seja dirigida, primeiro, às obras, e, segundo, aos jovens talentosos que estão a sair da escola, os quais, naturalmente, não têm condições para concorrer ao fundo com cineastas que já possuem três ou quatro filmes. E Azevedo adianta: “se esse fundo existir e estiver disponível, um jovem recém-formado pode concorrer para que tenha as suas primeiras três obras financiadas, filmes pequenos, curtos, sejam de ficção ou documentário. Financiado, se ele demonstrar talento, pode participar em festivais no estrangeiro e concorrer a fundos internacionais para obras mais ambiciosas”.
De acordo com o autor de Comboio de sal e açúcar, filme adaptado do seu livro com mesmo título, essa aposta nos jovens tem que acontecer em Moçambique, de modo que daqui a cinco ou seis anos tenha-se mais cineastas dentro do universo que considera muito fechado, bastante difícil e bastante cruel.
Licínio Azevedo entende que o país tem muitos actores, mas, infelizmente, que não são actores de cinema porque os intervalos entre um filme e outro no país é prolongado. Ainda assim, “temos actores de teatro que facilmente adaptam-se no cinema. Portanto, temos material e actores suficientes, o que não temos são produções para que os nossos actores possam viver do cinema. Por isso é importante que os nossos actores possam ampliar o seu mercado, internacionalizando-se, pois assim poderão trabalhar com cineastas de outros países africanos. Depois de Comboio de sal e açúcar, Melannie de Vale conseguiu despertar em outros cineastas africanos o interesse de se trabalhar com ela”.