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É preciso evitar o colapso do SNS pós-Estado de Emergência

Moçambique cumpre hoje último dia do Estado de Emergência, que vigora desde Março. Políticos, académicos, representantes da sociedade civil  e religiosos defenderam, esta terça-feira, que deve haver mecanismos de controlo  da contaminação de mais cidadãos pela COVID-19, para evitar que o Sistema Nacional de Saúde  (SNS) colapse no período pós- emergência.

Eles entendem ainda que haja “maior protecção da população vulnerável  infectada ou afectada” pelo novo Coronavírus.

De acordo o Bispo Dinis Matsolo, independentemente da decisão que o Chede de Estado tomar depois do Estado de Emergência que esta quarta-feira termina, “precisamos continuar a ter em mente que estamos numa situação anormal. Esta doença desafia-nos à anormalidade, por isso, temos que desaprender a maneira como fazíamos as coisas e aprender novas formas de fazer as mesmas coisas”.

“Tudo o que fazemos na tentativa de evitar a expansão da doença é muito anormal, não é o nosso costume, contudo temos que arranjar formas de continuarmos a nos proteger para que não entremos numa situação de crise ou numa situação catastrófica”, disse Matsolo ajuntando que é preciso que que se abra espaço para uma  reflexão mais profunda sobre matérias ligadas à  solidariedade e amor ao próximo.

Esta posição foi tomada durante sessão de diálogo virtual, promovido pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD). O objectivo  era promover uma reflexão sobre as “Perspectivas jurídicas  pós-Estado de emergência  devido à COVID-19” e salientou-se a premência  de se promover cada vez mais a solidariedade entre as pessoas e o amor ao próximo.

Os participantes no debate entendem, ainda haver necessidade de a Comissão Científica que aconselha o Chefe de Estado na tomada de decisões ser conhecida publicamente e ter que apresentar alternativas de vida para os moçambicanos tendo em conta o “novo normal, no âmbito da pandemia”.

Para o Bispo, a medida de “ficar em casa” é percebida e assumida por todos, contudo o que não está a acontecer é uma reflexão sobre como as pessoas devem ficar em casa, sobretudo quando se trata de auto-sustento.

“Nunca reflectimos sobre como ajudar as pessoas a ficar em cassa”, lamentou, acrescentado que “até se pode conseguir que as pessoas escapem da COVID-19, fincando em casa, mas aí se vislumbra outro problema de as pessoas morrerem a fome”, referiu o religioso.

Por sua vez, Júlio Calengo, que falava a partir da província de Tete, sublinhou que operação “fica em casa” não tem surtido efeitos qualitativos tendo em conta que esta orientação do Governo carece de outras políticas alternativas de sobrevivência tendo em conta a realidade de sustentabilidade do moçambicano.

“Em Tete, por exemplo, as grandes empresas que mais absorvem trabalho têm vindo a dinamizar as rescisões dos contractos de trabalho causando uma situação difícil no seio das famílias, o que degenera na questão da violência doméstica que já é uma realidade, na Província”, disse Calengo sustentando que “é preciso se pensar em formas inteligentes para a sobrevivência,  bem como nas alternativas económicas” porque, segundo acredita,  esta situação não se vai recuperar em dois ou três anos e há despedimentos diários e por conta disso há vários casos de violência doméstica relacionadas algumas vezes com pensão de alimentos.

No entanto, Júlio Calengo felicitou ao Governo moçambicano pela disponibilidade de fundos através do Banco Nacional de Investimentos (BNI) para que o empresário, a todos níveis, possa aceder na perspectiva da recuperação da empresa.

Outra inquietação apresentada pelos participantes do debate tem a ver com questões de imunidade que, segundo se avançou, em todas as medidas decretadas pelos órgãos de saúde nacionais e pelos debates que se tem promovido sobre a pandemia da COVID-19, pouco ou nada se fala sobre como melhorar a imunidade dos moçambicanos.

Para Juliana de Sousa, que falava a partir da província de Inhambane é necessário levar a sociedade a reflectir sobre como viver em família num contexto em que deve se adoptar medidas de prevenção.

“Quanto a higiene pessoal e colectiva estamos a caminhar bem, mas no aspecto ‘fique em casa’, estamos a acarinhar mal”, disse de Sousa chamando a atenção da necessidade de os diversos ramos do saber participarem activamente na busca de respostas mais adequadas para se fazer face a pandemia da COVID-19.

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