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Dois mortos e circulação condicionada em Nampula

Na cidade de Nampula, os carros não pararam na via pública, não. Foram os manifestantes que pararam o trânsito colocando barricadas. Duas pessoas foram baleadas mortalmente durante a actuação policial.

Logo pela manhã desta quarta-feira, por volta das 8 horas, o centro da cidade de Nampula já registava agitação, não de viaturas paradas nas faixas de rodagem, mas sim de manifestantes que decidiram colocar barricadas.

Sem viaturas a circular, as estradas transformaram-se em locais de diversão, onde alguns até jogavam à bola sob os gritos de animação de outros manifestantes. A polícia até tentou dialogar com alguns líderes dos manifestantes que se encontravam no cruzamento entre as avenidas Paulo Samuel Kankhomba e Eduardo Mondlane (nas proximidades do edifício-sede do Conselho Municipal que fica ao lado da residência oficial do governador provincial) para retirarem as barricadas, mas sem sucesso.

“Está bem claro que estamos a fazer uma marcha pacífica. Ninguém foi agredido, não partimos loja de ninguém e não batemos em ninguém”, vociferou Felizardo Hilário falando à nossa reportagem.

Filipe Comala, outro manifestante, acrescentou: “A polícia que estava aqui estava a dizer que não há disparos. Podemos remover as pedras para o passeio, mas nós dissemos ‘vamos remover as pedras para o passeio se não houver disparos e nos deixarem fazer a manifestação em paz’”.

Na Avenida do Trabalho, que é o prolongamento da Estrada Nacional n.º 1 que atravessa a cidade, o trânsito ficou condicionado por algumas horas, mas a polícia destacou um contingente que se fez ao local para retirar as barricadas e extinguir o fogo nos pneus que foram queimados propositadamente para impedir a circulação de viaturas particulares, transporte de passageiros e camiões de mercadoria.

Na zona da Faina, na mesma avenida, encontrámos dois corpos estatelados na berma da estrada. São pessoas que foram atingidas pelas balas da polícia quando tentavam impedir a colocação de barricadas na via pública.

“É meu irmão, Francisco António. Não sei o que aconteceu, porque ele saiu de manhã de casa”, disse Sualehe Saíde, falando no momento em que a polícia removia o corpo inerte do seu irmão tapado por uma capulana para a morgue do Hospital Central de Nampula.

Até ao encerramento desta reportagem, não havia dados oficiais das manifestações públicas desta quarta-feira em Nampula.

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