O País – A verdade como notícia

Doente renal crónico: Uma vida refém de uma máquina

Há quatro anos que Stela Macarringue, mãe de dois filhos, foi diagnosticada insuficiência renal crónica, causada por hipertensão.

“Eu sabia que era hipertensa mas não tomava medicamentos. Aquela coisa de não medicar com receio de ficar dependente dos comprimidos. Mas a tensão acabou dando cabo dos rins”, contou.

Com os dois rins danificados teve de recorrer à hemodiálise.
“Eu estou a fazer duas sessões de diálise por semana, durante quatro horas. Mas devia estar a fazer três. Isso não é possível porque meu tratamento é pago pela junta médica e só tenho a disposição duas sessões”, disse Stela.

A hemodiálise é um tratamento que substitui a função dos rins, segundo explicou a médica nefrologista. “O tratamento consiste em filtrar o sangue que está cheio de impurezas. E substituir algumas substâncias que o organismo do paciente já não produz porque os rins não funcionam como deve ser”.

Quando os rins funcionam bem eles são responsáveis por limpar o sangue, filtrando-o 24 horas por dia. Com isso, ajudam a controlar a quantidade de água e sal no corpo, eliminar toxinas, controlar a hipertensão arterial, e produzir hormônios que impedem a anemia. Urina com cheiro forte, pressão arterial muito alta que pode resultar em AVC ou insuficiência cardíaca, sensação de peso corporal muito elevado, cansaço intenso são alguns sinais da doença.

Além da hipertensão, diabetes, infecções, HIV, malária e tuberculose também são factores de risco para a doença dos rins, que tira a independência.

“Ser renal crónico é viver preso a máquina. Eu já não posso fazer quase nada. Não posso viajar, porque tenho que fazer o tratamento duas vezes por semana. É uma vida muito sofrida, cheia de limitações”, disse Stela, com voz tristonha.

E as limitações obrigaram-lhe a deixar de trabalhar por três anos, porque a doença a deixou debilitada. Uma das mudanças mais dolorosas continua a ser a redução do consumo de água.

“Tenho de controlar o consumo de água. Por dia só posso beber meio litro. E este meio litro inclui a  água nos alimentos”, revelou.

E os cuidados estendem-se ao preparo das refeições.
“Apesar dos vegetais serem aconselhados como bons alimentos, os doentes renais devem consumi-los com cuidado. A couve por exemplo, nós devemos ferver pelo menos três vezes antes de comer. Até um simples tomate é capaz de nos fazer mal”,dissse.

Em igual situação que a de Stela, estão mais 69 pessoas com insuficiência renal crónica, a fazer hemodiálise no hospital central de Maputo.

Estima-se que haja actualmente no mundo 850 milhões de pessoas com doença renal. E a doença renal crónica causa pelo menos 2,4 milhões de mortes por ano, com uma taxa crescente de mortalidade. A espera de um espaço nos serviços de hemodiálise do HCM estão pelo menos 35 pacientes. Além de Maputo, o tratamento também está disponível desde Fevereiro de 2018 no Hospital Central da Beira, e Maio de 2018 no Hospital Central de Nampula.

As clínicas privadas também possuem máquinas de hemodiálise, mas a um custo pouco acessível para a maioria da população.

Altos custos do tratamento e falta de equipamentos de hemodiálise
O tratamento da maior parte dos pacientes que faz hemodiálise no Hospital Central de Maputo é custeado pelo Estado, através da junta médica. Mas quem não tem acesso, deve pagar. Os custos são elevados. O valor por cada sessão, de acordo com a médica nefrologista Elsa Chissico ultrapassam 10 mil meticais. “Uma sessão de diálise ronda entre os 14 mil e 18 mil meticais. E cada paciente precisa de pelo menos três sessões por semana. Este tratamento é muito caro para a maior parte dos pacientes”, disse.

Em tempos, o HCM já teve 12 máquinas de diálise, mas neste momento só oito estão em funcionamento. “ Adquirismo novas máquinas, mas na mesma altura outras avariaram, porque já estavam a funcionar há 10 anos. Neste momento estamos com oito máquinas e que não são suficientes para responder a demanda”.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos