Trata-se de uma má formação congénita que provoca alterações no pé e condiciona a mobilidade. O tratamento existe, mas, muitas vezes, é ignorado, segundo o Hospital Central de Maputo (HCM).
Uma deficiência cujas causas são ainda desconhecidas, mas pode ser facilmente corrigida quando iniciado o tratamento nos primeiros 24 meses de vida.
Victor António, nome fictício de um recém-nascido de apenas 47 dias, colocava gesso pela terceira vez, quando a nossa equipa de reportagem conversava com a sua mãe. Foi ela quem descobriu a anomalia no pé do menor logo após o seu nascimento.
“Quando descobri que o meu filho nasceu com o pé boto, fiquei muito abalada e desesperada. Não esperava que fosse assim, pois nenhum dos três filhos que tenho são portadores de deficiência”, relatou, em anonimato, a mãe da criança.
Visivelmente emocionada, a mãe de Victor deseja que corra tudo bem e que, no futuro, o seu filho possa andar normalmente, como outras crianças.
“Com este tratamento, espero que o meu filho possa viver como outras crianças, porque ele tem que ir à escola”, desabafou.
Nunca se tinha visto este problema na família de José Mondlane, que levava a sua filha de três meses no colo para receber tratamento no HCM.
“Logo que a mãe deu parto, informaram-nos que o bebé tem pé boto. Depois de um mês, começou a fazer tratamento no HCM. Até ao momento, está a correr tudo bem”, disse Mondlane.
Embora os primeiros dias sejam difíceis para algumas mães, é logo após o nascimento que se deve iniciar o tratamento da doença.
Outra mãe, em anonimato, explicou o seu sentimento quando descobriu a deficiência em seu filho. “Nos primeiros dias, eu fiquei muito mal, toda a família ficou admirada. Não sabíamos o que fazer”, contou.
Entretanto, no HCM, há histórias de sucesso. Depois de cinco anos de tratamento, a pequena Beatriz (nome fictício) recebeu alta hospitalar. Radiante, a petiz contou ao “O País” que, nos próximos dias, poderá brincar à vontade e andar sem ajuda da sua mãe.
“Estou muito feliz. Quando eu tinha gesso, não dormia bem e não podia brincar bem com os meus amigos. Eu tinha que amarrar plástico no pé para não sujar gesso, mas, quando brincava na areia, o plástico rasgava-se e eu não gostava disso”, partilhou a menor.
Segundo o médico ortopedista do HCM, Matthias Schmauch, em Moçambique, 10 em cada 15 mil crianças nascem com pé boto, e o HCM recebe por mês, em média, 10 novos casos.
“O ideal é iniciar-se o tratamento ainda cedo, isto é, ainda nos primeiros dias de vida para que surta efeitos. Quando as crianças são mais crescidas, o processo torna-se complicado, o que possivelmente obrigue a realização de uma cirurgia”, explicou o médico ortopedista.
No entanto, ainda existem desafios. Algumas mães não cumprem o tratamento completo.
“Nós temos que fazer o seguimento de todas as crianças que tratamos, mas algumas mães têm desistido e regressam meses depois enquanto a criança já está com o pé rijo”, explicou Olga Chambal, representante da Help Walks
O pé boto é uma má formação congénita, cuja evolução condiciona a mobilidade e provoca alterações nos membros inferiores. As informações foram partilhadas hoje, Dia Mundial do Pé Boto.