Pelo menos 11 garimpeiros ilegais perderam a vida em consequência do desabamento de uma mina de rubi, em Montepuez, sul da província de Cabo Delgado.
Segundo contaram alguns sobreviventes, a tragédia começou na última terça-feira, 4 de Fevereiro, quando uma pessoa morreu soterrada e outra ficou ferida, devido ao deslizamento de terra. No mesmo dia, durante à noite, outros dois garimpeiros perderam a vida pela mesma causa.
De acordo com as fontes, apesar do luto, centenas de garimpeiros permaneceram no local à procura de rubi. Entretanto, de acordo com os sobreviventes, o pior aconteceu na noite da última quarta-feira, 5 de Fevereiro, quando a mina voltou a desabar e matou oito garimpeiros e fez vários feridos.
“Eram cerca das 19 horas quando vimos a terra a cair em cima de nós. Pouco tempo depois, descobrimos que algumas pessoas não haviam conseguido sair”, contou Dino Vasco, um jovem natural da província da Zambézia, que perdeu um irmão no fatídico incidente.
Apesar de estar envolvido no negócio de rubis, uma das pedras mais preciosas e mais caras do mundo, Dino Vasco não está em condições de transladar o corpo do seu irmão mais novo para a sua terra natal, que dista a cerca de 800 quilómetros do local do incidente, para ele a família enterrarem a vítima.
“Vou enterrar aqui em Namanhumbir, porque não tenho dinheiro para levar o corpo para mostrar a família”, confirmou a fonte.
Entre as vítimas mortais constam oito jovens de Cabo Delgado, sendo quatro do distrito de Montepuez, dois de Ancuabe, um de Balama, um de Chiure, 2 da província de Nampula e um cidadão da República de Guine-Bissau, que foi identificado pelo nome de Bah Omar, de 27 anos de idade.
Alem dos óbitos, alguns sobreviventes suspeitam que existam mais garimpeiros soterrados no local e, segundo apurou “O País”, as operações de resgate foram suspensas logo após a descoberta dos últimos oito corpos achados na manhã desta quinta-feira, 6 de Fevereiro.
“Erámos muitos e alguns conseguiram escapar, mas temos quase certeza de que ainda existem outras pessoas debaixo dessa terra”, contou Domingos Francisco, outro sobrevivente da tragédia.
A Polícia e o corpo de salvação pública foram as únicas entidades do Estado presentes no local do incidente, mas todas as autoridades não aceitaram prestar declarações à imprensa. A mineradora multinacional Montepuez Ruby Mining (MRM) procedeu da mesma, mas depois emitiu um comunicado de imprensa a lamentar o incidente e a denunciar o comércio ilegal de rubis, que ameaça o futuro da empresa.
“Foram cerca de 800 pessoas incluindo mulheres e crianças, destacadas pelos sindicatos de mineradores ilegais para impedir actuação da Polícia em nome dos direitos humanos”, revela o documento.
No ano passado, segundo estatísticas oficiais, 14 pessoas perderam a vida nas minas de rubi, em consequência de desabamento de solos.
A invasão da área concessionada a uma das maiores mirradoras de pedras preciosas do país, e um problema antigo, e a empresa que já somou vários prejuízos, já se revela saturada com a situação que supostamente tornou se normal em Namanhumbir e denuncia escravidão moderna.
“Os mineradores ilegais são normalmente controlados por sindicatos e intermediários que tiram vantagens da pobreza e do desemprego, através de financiamento de jovens em transporte, comida e acomodação nas áreas concessionadas a empresa, lê se no comunicado da MRM, que relembra a todas as partes interessadas sobre múltiplos incidentes trágicos relatados em 2019, onde mineradores ilegais arriscaram suas vidas, resultando em numerosos desmoronamentos e perda de várias vidas”, lê-se no comunicado que relembra.
Os minérios ilegais, de acordo com o mesmo documento, “são normalmente controlados por sindicatos e intermediários que tiram vantagem da pobreza e do desemprego das comunidades”.
A última invasão de garimpeiros ilegais deixou a empresa preocupada por alegadamente ter sido conotada por algum tempo, como violadora dos direitos humanos, mas especialmente por ter acontecido há cerca de 500 metros do local onde está instalada a principal planta de processamento de rubis da mineradora, que há anos está a investigar sobre o garimpo ilegal em Namanhumbir.
“Essas informações são trazidas a sua atenção na esperança de que acções proactivas sejam tomadas de forma mais assertiva por um número maior das partes interessadas contra financiadores, facilitadores e sindicatos por detrás do comércio ilegal dos rubis moçambicanos”, conclui o documento.
Esta e a segunda vez que a mineradora MRM, denuncia publicamente ultima denuncia feita em comunicado de imprensa, revela a existência de rede de trafico de rubis e outras pedras preciosas partir do aeroporto de Pemba.
Em 2016, o governo através das Forcas de Defesa e Segurança expulsou cera de seis mil garimpeiros ilegais, na sua maioria cidadãos estrangeiros que estavam instalados no distrito de Montepuez. Mas cerca de um ano depois, o problema retornou e a pilhagem de recursos minerais continua aparentemente de forma normal.